O filósofo dos empresários

Oscar Motomura usa ensinamentos humanistas para inovar em gestão

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  • Andreia Santana

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 23:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

A tecnologia é neutra, não é nem boa e nem ruim, define Oscar Motomura com a sabedoria de quem já viu muitas revoluções acontecerem no mundo, antes e depois da era digital. Conferencista máster do seminário Conexões, último evento do Fórum Agenda Bahia2017, Motomura foi presença marcante tanto por participar de uma intens aprogramação, que incluiu palestra, talkshow, debate e workshop, quanto pela força de suas palavras embebidas em uma filosofia humanista e cheia de fé no poder da coletividade para fazer e disseminar o bem.

“As pessoas mal-intencionadas estão usando muito bem as tecnologias com fins ruins. A consciência em relação aos fins que a gente busca é onde está o xis da questão. E liderança esclarecida é aquela que direciona a energia criativa das pessoas e o uso das tecnologias de forma mais imaginativa para resolver as grandes equações que o país e o mundo têm de resolver. Tudo isso tem de caminhar na direção de algo positivo para a sociedade”, recomenda o especialista em gestão, liderança e estratégia. 

Famoso por inspirar empresários a praticar um capitalismo mais humanizado, sustentável e solidário, Oscar Motomura, no entanto, não usa recursos mirabolantes para encontrar soluções para, como gosta de dizer, “equações impossíveis”.

Para ele, o impossível é um obstáculo a ser transposto com estratégia e inovação. “A gente olha todas essas inovações tecnológicas que surgem e se pergunta: ‘a gente precisa disso para quê?’. Para viabilizar aquilo que é impossível.

Porque o que já é viável não precisa de estratégia, basta soltar e deixar rolar, que acontece”, aconselha o homem que fala de modo simples e franco, conquistando legiões de admiradores pelo país.

Ouvir com o coração

Oscar Motomura recomenda aos futuros líderes que utilizem suas posições para orientar a evolução da sociedade à “elevação das consciências”. “Essa mudança pode ainda vir através de um filho, se a pessoa ouvir de forma diferente o que um filho questiona. Uma coisa é ser questionado na reunião de diretoria e a outra é ser questionado em casa. Isso mexe mais com o emocional e a pessoa pode ter um vislumbre de algo maior”.

O “mestre”, como é chamado por alunos dos cursos de gestão do Grupo Amana Key, que ele fundou há 29 anos, ainda acrescenta que as mudanças positivas no mundo não dependem apenas dos recursos tecnológicos, mas de usar todo esse aparato digital para abrir canais de comunicação e criar pontes. Oscar Motomura: “É preciso ouvir pela perspectiva do outro para alcançar um diálogo mais profundo” (Foto: Betto Jr./CORREIO) “A tecnologia hoje disponível também produz armas mais letais. As lideranças precisam então estar mais conscientes de que todos nós deveríamos estar trabalhando juntos para um todo melhor”, sentencia o “filósofo” que costuma recomendar aos seus clientes que se inspirem no “conceito do mutirão” para encontrar soluções para suas demandas aparentemente insolúveis. 

“Olhamos o país e temos longos desafios. Uma forma diferente de resolver essas equações é utilizar a força do coletivo”, sugere. Ele ainda acrescenta que os debates em torno da atual situação política do país precisam sair da superficialidade e se aprofundarem. Para isso, as pessoas precisam se ouvir: “Elas não ouvem tão bem quanto deveriam. Falam mais do que ouvem e, às vezes, a conexão não é profunda por causa disso. Outra coisa é aprender a ouvir pela perspectiva do outro para aprofundar o diálogo”.

Inspiração para os baianos

O cineasta Rosalvo Neto, 37, já conhecia Oscar Motomura da internet e redes sociais, mas, para aprofundar o contato com a filosofia do fundador do Grupo Amana Key, aproveitou a palestra dele no Fórum Agenda Bahia para “ampliar os horizontes”.

Rosalvo também é diretor da Organização Não Governamental Instituto Mídia Étnica, que trabalha com comunicação, direitos humanos e empreendedorismo. A ONG é a responsável pelo portal Correio Nagô, que produz conteúdo voltado para temas de cidadania.

“Acho muito interessante esse evento nos fazer pensar o desenvolvimento social e o empreendedorismo a partir da tecnologia e da inovação. A palestra tocou em pontos importantes, que fazem pensar”, opinou o cineasta.

Também interessada nas “inspirações” das palavras de Motomura, Ester Nunes, que após se aposentar da carreira de administradora de empresas agora cursa outra graduação, em Estética, para iniciar uma nova carreira depois dos 50, assistiu à palestra e também participou do workshop comandado por Oscar. 

Ester admira como ele fala sobre política e ética para “despertar a consciência das pessoas”. “Também acho importante a ideia dele de unir grupos e interligar pessoas em prol de um objetivo comum, algo que estamos precisando”, diz.

Ao iniciar a palestra no auditório lotado do Senai Cimatec, o próprio Motomura reconheceu na plateia ‘apegeanos’ que frequentaram o seu curso de gestão avançada - APG – em São Paulo, na sede do Grupo Amana Key.

O especialista também elogiou o formato do Agenda Bahia, que une representantes de diversos setores para discutir o futuro do estado. “Esse tema Conexões é muito oportuno. É o que a gente precisa hoje para viabilizar o impossível”, afirmou, referindo-se ao tema do último evento de 2017 do fórum.