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Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2019 às 09:44
- Atualizado há 2 anos
Até a Academia Brasileira de Letras já discutiu, no seminário “Brasil, Brasis”, se existe literatura quando o tema é futebol. Apesar de ser a maior paixão do brasileiro, infelizmente o futebol ainda é tratado como “coisa pequena”.>
Na verdade, há muito tempo, desde Graciliano Ramos, já se faz no Brasil literatura com futebol. Não se pode, por exemplo, esquecer Mário Filho, fundador do tradicional Jornal dos Sports, e o seu clássico “O Negro no Futebol Brasileiro”, editado pela primeira vez em 1947.>
Nem do consagrado Armando Nogueira, pioneiro do telejornalismo brasileiro e autor do conhecido livro “Na Grande Área”. E, muito menos, o contista e dramaturgo Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho, que se travestia de cronista esportivo, ao escrever a coluna “À sombra das chuteiras imortais”, eternizada nas páginas de O Globo.>
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores representantes da segunda geração do Modernismo brasileiro, também misturou futebol com literatura, ao escrever “Quando é dia de futebol”, seleção de crônicas e poemas publicada nos jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil.>
Em “A Cidade da Bahia”, publicado em 2008, o laureado escritor Jorge Amado, minimizando a má fase que atravessava o Ypiranga, assim descreveu a sua paixão pelo clube: “O Ypiranga pode perder à vontade, porque já ganhou demais, já deu muita alegria aos seus fiéis torcedores”.>
Poeta e diplomata João Cabral de Mello Neto compôs uma ode para homenagear o craque palmeirense Ademir da Guia e uma poesia para enaltecer a bola. Outros acadêmicos, como João Ubaldo Ribeiro e José Lins do Rego, também utilizaram o futebol como mote em alguns dos seus trabalhos, o mesmo acontecendo com o poeta e jornalista Paulo Mendes Campos.>
Torcedor do Vitória, era comum nos artigos de João Ubaldo - veiculados em diversos jornais do país - falar do primeiro título estadual conquistado pelo time rubro-negro baiano em sua era profissional, em 1953. Já Lins do Rego escreveu o livro “Flamengo é puro amor” e Mendes Campos, “Gol é necessário”.>
Na trilha de João Saldanha e Ruy Castro, o ex-jogador Tostão e grandes nomes da crônica esportiva do Sudeste, como Maurício Noriega, Roberto Assaf, Marcelo Barreto, Mílton Neves, Juca Kfouri e Mílton Leite têm lançado livros bem interessantes sobre futebol. No Nordeste e, em particular, na Bahia, apesar de recentes publicações, ainda temos poucos trabalhos tratando desta temática.>
Uma frase lapidar do professor e escritor catarinense Deonísio de Souza, creio, sintetiza este artigo: “Os escritores brasileiros, em sua maioria, têm evitado o futebol. Talvez seja porque o esporte, à semelhança da guerra e do amor, seja tão grandioso, que é simplesmente impossível aumentá-lo”. >
Antônio Matos é jornalista, escritor e delegado de Polícia, participou da mesa de debates “Literatura e Futebol” na recém-encerrada Flipelô.>
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