O futebol feminino pede passagem

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Publicado em 26 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quis o destino que eu entrasse no táxi de Seu Barros, um senhor de quase 70 anos, apaixonado pelo Esporte Clube Vitória, com vasto conhecimento futebolístico e leitor assíduo do CORREIO. Durante o percurso de quase uma hora (ida e volta), conversamos longamente sobre... futebol, mas é claro! O papo começou com a Copa América que está sendo disputada no Brasil, mas não demorou para que ele conduzisse o assunto para o que realmente importava: a Copa do Mundo feminina 2019.

“Poxa, rapaz, eu fiquei triste mesmo foi pelas meninas”, ele me disse. Foi o suficiente para que gastássemos um bom tempo falando sobre a eliminação brasileira perante a França, com revés por 2x1 na prorrogação, em uma demonstração de luta que fez crescer o sentimento de orgulho. A seleção feminina esteve longe de ser apontada como uma das favoritas da competição. Quando passou da primeira fase, a derrota para as francesas, donas da casa, era dada como favas contadas, mas, lembremos sempre, o jogo é jogado em campo, e o que ficou foi a sensação de que dava para ir mais adiante. Aquela bola de Debinha...

“A seleção não estava bem preparada. Como pode perder nove jogos antes da Copa? Vadão não serve para treinar esse time”, prosseguiu. Os anseios de Seu Barros estão de acordo com os de boa parte do público e da mídia que acompanharam a trajetória das meninas na preparação para o Mundial. Isso mostra que a competição foi, de fato, um marco na história da modalidade no país, com uma repercussão jamais vista por aqui: amigos se organizando para assistir aos jogos juntos, bares cheios e muito barulho nas redes sociais.

Sério, meus amigos: eu jamais imaginei que chegaria o dia em que fosse discutir o desempenho da seleção feminina em uma viagem de táxi.

Levando em consideração que, paralelamente à disputa da Copa do Mundo Feminina, os melhores jogadores da América do Sul desfilam seu talento pelo território brasileiro, é ainda mais notável que a competição tenha ganhado tanto espaço, a ponto de um jogo das meninas brasileiras atrair a mesma atenção, senão até maior, do que a seleção de Tite. Equipes feminina e masculina chegaram a jogar no mesmo dia.

O movimento é real. O tema, que era restrito a uma bolha, agora está posto na mesa. Com a publicidade, outras discussões vêm à tona, a mais primordial delas, investir para valer no futebol feminino praticado no Brasil, promessa feita pela entidade que regula o nosso futebol, a CBF. Eleita por seis vezes melhor jogadora do planeta, Marta foi brilhante também fora de campo ao colocar em pauta a diferença abissal dos salários entre homens e mulheres, algo que, por sinal, extrapola os limites do futebol e atinge em cheio a nossa sociedade.

O ponto de exclamação dessa história foi a recepção organizada para a chegada da seleção em São Paulo. As jogadoras desembarcaram sob os gritos de torcedores que se amontoaram para demonstrar apoio e carinho. A cena é tão incomum que a artilheira Cristiane afirmou não ter visto esse movimento nem quando ganhou medalha na Olimpíada. Pois é, Cristiane, os tempos estão mudando. Ainda bem.

Rafael Santana é repórter do globoesporte.com e escreve às quartas-feiras