O futebol precisa ser mais popular

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  • Miro Palma

Publicado em 27 de setembro de 2019 às 09:24

- Atualizado há um ano

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Sabe quanto custa uma cesta básica aqui em Salvador? De acordo com dados do Dieese do mês passado, uma cesta básica por aqui custa em média R$ 372,11. Esse valor representa 37% de um salário mínimo vigente, que é de R$ 998. Ou seja, depois de gastar com itens básicos de alimentação e limpeza, uma pessoa ou uma família soteropolitana que vive com um salário mínimo fica com R$ 625,89 para cobrir todas as outras despesas. Agora imagine esse cidadão ou alguns integrantes dessa família na Arena Fonte Nova, na fila de um dos bares do estádio tendo que desembolsar R$ 8 para comprar uma latinha de cerveja.

Pois esse seria o preço proposto pelo consórcio que administra a Fonte Nova durante a negociação de renovação do contrato que oferece desconto de 50% na compra da bebida para sócios do Bahia. Como não houve um acordo, a vantagem do desconto para os associados deixou de valer desde o jogo de anteontem, entre Bahia e Botafogo. O preço, por sua vez, não aumentou e o consórcio negou que aplicaria o aumento. Mas, a essa altura, o boicote proposto pelo presidente tricolor, Guilherme Bellintani, já tinha ganhado repercussão entre os torcedores. Mais ainda depois que ele anunciou uma ação em parceria com uma cervejaria rival à que patrocina a arena, que garantiu cervejas a R$ 1 em um depósito no entorno do estádio.

O resultado: de um lado, os bares vazios dentro da Fonte Nova e, do outro, torcedores felizes e bastante hidratados. Não é de hoje que quem frequenta a Arena reclama dos altos preços dos alimentos e bebidas comercializados no local. O estádio é de Copa do Mundo, mas o dia a dia dele é de Campeonatos Brasileiros, Copas do Brasil, do Nordeste, Campeonatos Baianos, etc. O público que foi ao jogos da Copa do Mundo, da Olimpíada ou da Copa América não está lá todo final de semana. Mas o consórcio que administra a Fonte Nova parece que não se atentou pra isso.

Com os mesmos R$ 8 que seriam gastos em 350 ml de cerveja, é possível comprar um frango inteiro congelado ou quase 1 kg de fígado bovino. Dá também pra comprar 500 g de pão de forma e mais um litro de leite. Ou 1 kg de arroz e um 1 kg de feijão, e ainda sobrar troco. Será que nenhum dos responsáveis pela precificação dos alimentos e bebidas da Fonte Nova vai ao mercado? Será que nenhum deles sabe quanto custa para um torcedor baiano bancar o seu momento de lazer no estádio?

E não me venham com esse discurso de que é o que se cobra em outros estádios, que esse é o preço de mercado. Aqui na Bahia, a renda domiciliar per capita média é de R$ 841. O dado é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado esse ano, mas referente ao ano de 2018. É a quinta renda domiciliar per capita mais baixa do país. Só fica atrás do Piauí, Amazonas, Alagoas e Maranhão. Na outra ponta estão Distrito Federal (R$ 2.460), São Paulo (R$ 1.898), Rio Grande do Sul (R$ 1.705), Santa Catarina (R$ 1.660) e Paraná (R$ 1.607), com as maiores rendas. Nós não vivemos os mesmos mercados.

Já era hora de demonstrarmos essa insatisfação. E já passou da hora de discutirmos essa prática de preços que é totalmente descolada da realidade baiana. Quer queiram, quer não, são os baianos comuns e das mais variadas classes sociais que lotam a Fonte Nova, seja para ver os jogos do Bahia ou do Vitória, e é para eles que o estádio deveria ser feito.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras