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Dom Sergio da Rocha
Publicado em 1 de novembro de 2022 às 05:35
No encerramento do Encontro Internacional de Oração pela Paz, no Coliseu, em Roma, dia 25 de outubro, o Papa Francisco esteve presente, juntamente com líderes cristãos e representantes das religiões mundiais, abordando o tema “O grito da paz. Religiões e culturas em diálogo”. Ele tem se empenhado, incansavelmente, em promover a paz no mundo, ressaltando a gravidade do momento vivido pela humanidade, marcado por conflitos armados, particularmente na Europa, com a guerra na Ucrânia. Infelizmente, parece que se perdeu a memória das tragédias das duas guerras mundiais e a sensibilidade diante de tantas outras guerras que acontecem no mundo ou da violência no cotidiano. As consequências das guerras são sempre devastadoras, trazendo sofrimento e morte, atingindo duramente a população, especialmente os mais vulneráveis.>
“O grito da paz é muitas vezes silenciado não apenas pela retórica bélica, mas também pela indiferença e pelo ódio”. É preciso ouvir o “grito da paz”, afirmou Francisco, mencionando “a paz sufocada em tantas regiões do mundo, humilhada por muita violência, negada até mesmo às crianças e aos idosos, que não são poupados da terrível dureza da guerra”. No encontro, ele retomou o que havia afirmando na carta encíclica Fratelli tutti: “Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal”.>
A política deve contribuir para a paz e não servir de obstáculo para alcançá-la. A construção da paz é uma tarefa permanente a ser assumida e compartilhada nos diversos âmbitos da vida social. É preciso fazer acontecer um mutirão permanente pela construção da paz, que inclui desde os gestos pequenos no cotidiano até as grandes decisões políticas nacionais e internacionais. Há um artesanato da paz, a ser construído cotidianamente por cada pessoa, nos diversos ambientes, de modo a contribuir para a superação da violência e da agressividade nas suas diversas expressões, nas redes sociais, no ambiente familiar ou nas ruas.>
“A paz está no coração das religiões, em suas Escrituras e em sua mensagem”, enfatizou Francisco naquele Encontro. Os cristãos e todos os que creem em Deus das várias confissões religiosas devem colaborar, com o máximo empenho, para a convivência fraterna e pacífica entre as pessoas e entre os povos. “Não nos deixemos contaminar pela lógica perversa da guerra, não caiamos na armadilha do ódio pelo inimigo. Coloquemos a paz no centro da visão do futuro, como objetivo central de nossa ação pessoal, social e política, em todos os níveis. Desarmemos os conflitos com a arma do diálogo”. Que estas palavras de Francisco possam ecoar também entre nós, indicando-nos o caminho a seguir neste período pós-eleitoral. Que a vida política seja sempre pautada pelo diálogo e o respeito ao outro, pela busca incansável da fraternidade e da paz.>
Dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Salvador e primaz do Brasil>