'O mais importante de tudo é colocar as pessoas no centro', diz responsável por inovação em Lisboa

Capital portuguesa é hoje considerada a terceira cidade mais inovadora do mundo

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  • Thais Borges

Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paulo Soeiro de Carvalho é um dos palestrantes do Fórum Agenda Bahia (Foto: Divulgação)

Inovação, criatividade, educação, bem-estar e oportunidades de emprego. Com esses cinco critérios, veio o veredito: Lisboa, em Portugal, é considerada hoje a terceira cidade mais inovadora do mundo. De acordo com o estudo da empresa Ambr Eyewear, ela só fica atrás de Paris (França) e Barcelona (Espanha), batendo gigantes como Tóquio (Japão) e Nova York (Estados Unidos), respectivamente a 8ª e a 21ª colocadas. 

Mas não foi de uma hora para outra. Muito investimento foi feito ao longo da última década para que a capital portuguesa deixasse de ser um retrato da crise econômica e se tornasse um palco de atração de investimentos. Um dos responsáveis foi justamente o professor e futurista Paulo de Soeiro Carvalho, que, por sete anos, foi diretor geral de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa. 

Ao longo desse período, ele refutou quem chamava de "o milagre de Lisboa" a transformação da cidade. "O milagre de Lisboa apenas pode existir para quem acredita em milagres. Acredito que muito do que está a acontecer em Lisboa é o resultado de uma grande ambição, de uma estratégia global e federadora de múltiplos atores que têm vindo colocar a cidade numa trajetória de crescimento e inovação sem paralelo em sua história recente", escreveu, em um artigo, em 2016. 

Hoje, à frente da consultoria IF Insight & Foresight, ele mostra como os dados podem conectar pessoas e fazer com que as cidades se tornem verdadeiros laboratórios de inovação. Soeiro de Carvalho é um dos palestrantes do Fórum Agenda Bahia, que acontece na próxima quarta-feira (9). “O mais importante de tudo é colocar as pessoas no centro do que estamos a fazer”, diz, em entrevista ao CORREIO. “A tecnologia não é boa, nem má. Mas ela pode ser usada para o bem. Quando falamos em smart cities (cidades inteligentes) e de ter acesso aos dados das pessoas, podemos usar sensores para gerir cada vez melhor o transporte nas cidades, por exemplo”, pondera. Dados Para o especialista, a sociedade vive uma revolução digital. E, nela, os ativos mais importantes da economia são os dados - que, por sua vez, podem vir de todas as pessoas. Sempre que alguém caminha por um território digital, seja fazendo uma compra online ou pesquisando em sites de busca, deixa um rastro.

Essas “pegadas” são uma das coisas mais valiosas para a economia mundial. Não é à toa que as empresas mais valiosas do mundo são as digitais, como a Amazon e o Goo gle. Além delas, no presente, as grandes empresas do futuro devem ter a mesma origem: são companhias que já nasceram em ambientes digitais. 

“A revolução digital tem seu esplendor máximo na capacidade de transformar esses dados em produtos, serviços, novos conceitos. E aí entra a inteligência artificial, bid data, machine learning. Temos que transformar dados em conhecimento e em valor”.

Além disso, os dados podem interagir com as pessoas, mas também com os objetos. É daí que vêm os conceitos de internet das coisas de tudo. “Isso chega ao seu nível máximo quando conseguimos trabalhar num espaço físico. E o espaço físico onde faz todo sentido são as cidades”, afirma, citando exemplos de gerenciamento de serviços públicos a partir dos dados e da própria formulação de políticas públicas com base neles. Privacidade No entanto, ainda que possam criar políticas centradas nas pessoas por meio de dados, existe o outro lado da moeda. Um dos desafios é a questão da privacidade. De acordo com Soeiro de Carvalho, é preciso discutir quais são os princípios éticos que vão orientar esses dados e suas aplicações. 

“As coisas podem ser muito boas, muito positivas e benéficas. Mas precisamos sempre ter um propósito. Qual é o verdadeiro objetivo da utilização dos dados? Precisamos saber como abordamos a segurança desses dados e da privacidade das pessoas”.

Outra questão apontada por ele é que não basta ter a centralidade nas pessoas; é preciso de uma centralidade no planeta. “Temos que colocar as alterações climáticas e da sustentabilidade no centro. É preciso aumentar a qualidade de vida numa cidade e a pandemia é um exemplo clássico de que não devemos esquecer esses desafios”

O Fórum Agenda Bahia 2020 é uma realização do CORREIO, com patrocínio do Hapvida, parceria do Sebrae, apoio da Braskem, Claro, Sistema Fieb, Sindimiba, Battre e Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro e apoio institucional da Rede Bahia e GFM 90,1.