O milagre da vacina?

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  • Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

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É curioso o momento paradoxal que vivemos quando o assunto é vacina. Enquanto a humanidade anseia pelo surgimento da vacina milagrosa para prevenção da covid-19, o país não consegue alcançar índices adequados que garantam proteção coletiva para nenhuma das vacinas ofertadas gratuita e rotineiramente às crianças.

Provavelmente esse cenário está relacionado à percepção de risco da população, que não se sente ameaçada para doenças como poliomielite, sarampo, coqueluche, varicela, dentre outras; mas que repentinamente se viu acuada pela circulação de um novo vírus, com potencial de disseminação avassalador, e passou a projetar justamente na vacina uma possível tábua da salvação. Observe-se que a maioria das doenças imunopreveníveis citadas foi controlada ou eliminada justamente com ações exitosas de vacinação em massa, mas que hoje estão, infelizmente, sendo deixadas de lado por uma falsa sensação de segurança. São as vacinas tornando-se vítimas do próprio sucesso.

É fundamental compreendermos a vacinação como ação de cuidado contínuo, e não atrelada ao enfrentamento de emergências de saúde pública, como surtos e epidemias. Os valiosos avanços científicos na produção de uma vacina contra o Sars-CoV-2 são muito bem-vindos. Contudo, é preciso cautela para entender e respeitar o tempo necessário para que a ciência evidencie uma resposta eficaz do nosso sistema imunológico aos novos produtos, e sem que haja efeitos adversos pós-vacinais. Além disso, é dever social pensar em uma vacina de alcance global, que seja ofertada a todos os povos, pobres e ricos, respeitando critérios epidemiológicos acurados.

Em tempos de fake news, também é dever das autoridades públicas e dos profissionais da saúde divulgar informações precisas com capacidade de aguçar a consciência sanitária da população acerca da imprescindibilidade da vacinação. Ressalta-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente define a vacinação como sendo obrigatória para esse público, conforme recomendação dos serviços de saúde.

Outra preocupação é a interrupção das ações de imunização, de rotina ou em campanhas, motivada pela necessidade do isolamento social imposto pela atual pandemia. Isso potencializa o risco de aumento de casos de doenças imunopreveníveis e até mesmo a reintrodução de vírus que já estavam eliminados, o que seria imenso retrocesso.

Por fim, cabe enaltecer o nosso Sistema Único de Saúde, o SUS, e o seu Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973 e reconhecido internacionalmente como um dos mais robustos de caráter universal e gratuito. Para além da proteção individual, a vacinação é um ato de cidadania que protege a todos. 

Ramon Saavedra é servidor público da saúde, sanitarista, doutorando em epidemiologia