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Senta que lá vem...
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 19:55
- Atualizado há um ano
Soube que um moço do Rio, que tá enfiado na casa do Big Brother - um tal tirado a surfista de waimeas -, andou dizendo que não namoraria, de jeito nenhum, uma nordestina.
Não suportaria o nosso sotaque, disparou o louco. “Bahia, ainda dá”, ressalvou o esquisito carioca. “Mas lá pra cima fica muito puxado o sotaque, eu já não consigo”, piorou o soneto o brother Lucas Chumbo.
Para além do espanto que me causa saber que alguém no mundo não só não ama, como tem repulsa ao nosso jeito de falar - eu não trocaria a melodia que sai da boca do meu baiano por nenhuma outra -, me vem a mesma sensação que experimento ao divagar sobre a nossa aventura machista na Terra.
Como é possível que sejamos oprimidas por uma classe que precisa de campanha na TV e de fala de presidente pra lembrar de lavar o próprio pinto?
Como é possível que um povo que só sabe perder vaga de concurso pra gente, que é zerado em cultura geral e de almanaques, que fala errado amiúde, se ache superior ao povo de onde nasceu o Brasil?
Eu falo porque eu vi. Eles confundem nossos nomes de estados com os de capitais. Compram abacaxi descascado e ovo já cozido no mercado. Eles só comem a parte branca do frango! Não dá.
Minha pátria é meu falar gingado, que os sudestinos gostam de imitar, no deboche. Pois eu, quando passeio pelo eixo Sampa e Rio, passo a falar ainda mais carregado.
Aperrear, gostosar, verbos nordestinos que geralmente não usamos em Salvador, entram no meu léxico de expatriada para a baiana rodar ainda mais. Ah, o sotaque paraibano! Hum, o sotaque pernambucano...
Perguntem-se do porquê de haver tantas lendas das artes que rebentaram por aqui. Até outro dia, o brasileiro que quisesse estudar a sério essa seara, tinha que beber da mesma fonte onde se fartaram Jorge Amado, Caymmi, João Gilberto...
Então, caro aspirante a milionário, surfistinha de ondas grandes e amante de moças padrão, aproveite que você hoje encontra-se no “paredão” do Big Brother e siga logo o seu caminho.
Deixe as nordestinas pra seus patrícios. Nós nos queremos de montão, pendurados nos nossos cangotes, a falar baixinho e cantado, enquanto fazemos dengos e baianadas na preguiça de uma rede.