O que mata não é o que dizem sobre você, mas o seu jeito de escutar

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 7 de agosto de 2021 às 11:00

- Atualizado há um ano

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O tema "opinião dos outros" me interessa desde que eu comecei a pensar. Isso, porque eu nasci (e gosto de ser) de um jeito que, desde cedo, incomoda pessoas. Isso, dito, com todas as palavras, por envolvidos/as no caso, em diferentes fases da minha vida. Só que eu sempre adorei viver e não podia deixar a "opinião dos outros" atrapalhar. Porque VIVER (da forma que me serve) é só se for ao meu modo, evidentemente. Só tem graça assim. Sem mudar nada, a não ser que eu mesma ache que devo mudar.

Não sou uma pessoa "fofa", tenho pouquíssima paciência para a maior parte dos rituais e "combinados" sociais e discordo da maioria das certezas e regras estabelecidas no planeta, desde a infância. Sendo assim, o que nunca me faltou na vida foi porrada (nem gente com caixa na mão pra me guardar) de tudo que é lado, desde muito cedo. Talvez, desde que eu disse meu primeiro "A". Alto e forte. Porque, além de ser do meu jeito, eu a-do-ro expressar esse jeito de todas as maneiras disponíveis para a nossa espécie. Essa sou eu. Não posso (nem quero) fazer nada.

(Vítima não, tá? Também bato e é forte. O que tô dizendo é que as relações com o coletivo convencional nunca foram, exatamente, suaves.)

Só que todo mundo se importa com a opinião dos outros, precisa dessa validação. Então, ao mesmo tempo em que entendi que não podia ignorar a relevância da "opinião dos outros", percebi que eu é que precisava definir quem seriam esses "os outros" importantes. Assim vem sendo feito, desde então. Pronto. Resolvida a mais difícil equação. Lá, por volta dos 18 anos.

Até hoje, aos 47, continua valendo a regra de escolher a quem ouvir. O resto é nada. Podem, inclusive, as criaturas de quem não tomo conhecimento, bater à vontade. O que não existe, não atua. Lá atrás, quando entendi a lógica de definir quem são "os outros" que importam, eu não imaginava o quanto ela me seria útil PARA SEMPRE e, principalmente, no mundo das redes sociais.

(Os critérios podem variar de bom Lattes em um tema específico até o afeto profundo, mútuo, que abre portas para assuntos variados.)

Para Lucas, importaram todas as desgraças encarnadas que o atacaram, depois da publicação de um vídeo divertido, com um amigo. Importaram tanto que ele se matou. A opinião de completos/as estranhos/as teve mais força do que qualquer vínculo real construído em 16 anos de vida. Apesar de saber que as pessoas que o atacaram são criminosas e que a adolescência é um momento delicado, fico pensando nessa fragilidade, no fato de estarmos tão permeáveis ao olhar de quem sequer conhecemos. Uma vulnerabilidade imensa e a verdade é que não acontece apenas entre adolescentes.

As pessoas podem emitir opiniões à vontade, inclusive - não tendo objeto melhor para examinar - sobre a minha pessoa. A opinião e a emissão são questões que não me dizem respeito. São das pessoas, assim como pertence a mim o que penso sobre elas. Isso é óbvio demais. Gente que não conheço E ADMIRO, não tem relevância suficiente para mudar meu humor, seja qual for o conteúdo de um comentário, nas redes ou presencial. Aquela horda de homofóbicos sádicos nada sabia sobre Lucas, portanto nada devia importar. Na minha vida, o poder quem dá sou eu. Dou e retiro, quando acho que devo. Você tem o mesmo direito aí, no seu lugar.

As redes estão tão tóxicas quanto sempre foi a vida. Não há nada de novo aqui. O que eu li a respeito da minha cabeça raspada, na foto do jornal, depois dos 40, tem o mesmíssimo conteúdo (empoeirado, puído, gasto) do que ouvi, presencialmente, aos 19, primeira vez em que raspei. A toxidade com a qual meu filho convive nos papos pelo PlayStation é a mesma que me esperava nos recreios de todas as escolas em que estudei. As pessoas é que estão mais frágeis, mais dependentes, mais precisadas da aprovação de estranhos para se perceber existindo. Vão dar nome a isso, no futuro, as pessoas da psicologia. Por ora, eu, que não sou especialista, só quero lhe dizer que o que mata não é o que dizem sobre você, mas o seu jeito de escutar.

(A pessoa que opina, pra ser considerada, precisa da qualificação que só você pode dar.)

(Ser famoso/a e aceito/a é o seu trabalho? Massa. Mesmo assim, ainda dá pra separar. Encene, besta. É palco, nada mais. Não tem nada de esperto em ser "a mesma pessoa" em casa e nas redes sociais.)