O que rolou na virada: Ivete com filhos, desejo de Safadão e fãs animados

De acordo com a prefeitura, 800 mil pessoas receberam 2019 na Orla da Boca do Rio, com música e queima de fogos

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  • Tailane Muniz

Publicado em 1 de janeiro de 2019 às 07:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Secom

Se 2018 foi um ano que trouxe à Bahia perdas como as mortes do mestre de capoeira Moa do Katendê, em episódio de violência, e da ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, pela lei natural da vida, o que os baianos tinham mesmo era a urgência de enterrar a tristeza.

As 800 mil pessoas, segundo a prefeitura, presentes no Festival Virada Salvador, na Orla da Boca do Rio, na noite deste dia 31 de dezembro, clamaram por 2019 com a ânsia de quem não via a hora de deixar 2018 no melhor lugar: no passado.

A missão de abrir as portas para o novo ciclo ficou nas mãos de ninguém menos que a 'mainha' mais querida do pedaço. Com um vestidinho todo trabalhado no brilho e um sorrisão no rosto, por mais um ano, Ivete Sangalo ficou com a missão de fazer a contagem regressiva e 'chamar pra jogo' 2019. Ivete brincou com o público e comandou a virada (Foto: Secom/Divulgação) De ponta a ponta da Arena Daniela Mercury - a cantora se apresenta hoje (dia 1°), não teve quem ficasse parado. Veveta chegou quebrando tudo e mostrou, ainda nos últimos momentos de 2018, que sabe fazer a festa como ninguém.

Já à (quase) meia-noite, acompanhada em coro pelo público, ela contou cinco segundos, abriu as portas para a alegria e bateu o martelo: "Esse ano vai ser lindo, minha gente. Se abracem, se abracem, que energia linda, que coisa linda", disse ao povão.

E mal deu tempo de respirar - ou abraçar o amigo ao lado -, e Veveta foi logo jogando tudo pro ar ao som de Bota Pra Ferver. 

Nos quatro cantos do lugar, era possível ver sorrisos e abraços, do jeito que 'mainha' mandou. As pessoas dividiam a atenção entre Veveta, os amigos, e também em observar a queima de fogos, que deu um show à parte.

Conforme o prefeito ACM Neto, a edição de 2019 do Festival da Virada trouxe de novidade o show pirotécnico em dois pontos diferentes que, simultaneamente, por 15 minutos, enfeitou o céu da Boca do Rio."Ano passado nós vimos a necessidade de melhorar a queima de fogos. Queria que as pessoas que não tivesse dentro da arena também tivessem acesso ao show", explicou Neto.Dona da festa Como toda mamãe que se preze, Ivete Sangalo lembrou dos filhos. Depois de fazer o público perder o fôlego após cinco músicas consecutivas, comentou que estava feliz de estar ali, apesar da ausência dos pequenos.

"Coisa mais linda, minha gente. Eu dedico este ano aos meus filhos. Marcelo, Marina e Helena", afirmou. Foi só o tempo de respirar alguns segundos pra mandar brasa na fogueira do Festival da Virada.

Canções já consolidadas do repertório da cantora, como Festa, País Tropical e Bota Pra Fever fizeram a alegria do povão, que pulou, pulou, pulou - muitos, como se não tivessem curtido os três primeiros dias da festa.

Gente como o estudante Rafael Andrade, 19, que, mesmo tendo curtido o evento no dia anterior, esperou oito horas para ver Veveta de pertinho. "Estou cansado, mas não podia deixar de vir. Ela é tudo, muito linda, incrível, perfeita no que faz. Estou muito feliz de estar aqui e de ser com ela", comentou o fã, molhado de suor e colado na grade.Como todo mundo gosta de uma novidade, Ivete cantou também Mainha Gosta Assim, música feita em parceria com Léo Santana para o novo DVD, gravado em novembro, em São Paulo.

Moradora da Boca do Rio, a estudante Carolaine Matos, 18, também recebeu 2019 em grande estilo. Fã de Veveta, Carol, como prefere ser chamada, disse que mal sentia as pernas.

"Eu estou exausta, cheguei cedo para ficar perto dela. Tinha que ser Ivete, Rainha da Bahia e do Brasil, dona de tudo. Eu já tinha vindo nos outros  dias, mas hoje é especial", comentou a estudante,  que estava vestida a caráter: de camisa branca com o rosto de 'mainha' estampado. 

Amor e sofrência E para balançar os corações apaixonados - ou os machucados - ninguém melhor que ele, "Wesley 99% anjo perfeito, e aquele 1%... Safadão". Ao som de hits como Balada, Ar-condicionado no 15 e Meu Coração deu PT, antes da virada,  o rei da sofrência embalou o público, que já tinha curtido os shows de Licoln e Duas Medidas e DJ Alok.

Com os braços repousados sobre os ombros do marido, a enfermeira Kátia Marcês, 40, dançava lentamente ao som de Camarote. "Você não merece um por cento do amor que eu te dei", cantava, olhando fixamente para o empresário Cláudio Marcês, 42, com quem é casada há 15 anos.

"Aqui é tudo de brincadeirinha. Meu amor merece todo o amor do mundo", disse, aos risos. Em resposta, Cláudio afirmou que o casal é fã de Safadão e não conta dois tempos para ir aos shows em Salvador. 

"A festa está linda, a melhor coisa que fizemos foi desistir da ilha e vir. Moramos aqui perto, no Costa Azul, então é só alegria, completou, já fazendo os planos para o Carnaval", disse Cláudio. Safadão gravará DVD ainda em 2019 (Foto: Secom/Divulgação) E por falar na maior festa de rua do planeta, pouco antes de subir ao palco, em coletiva à imprensa, Wesley Safadão disse que já se sente baiano e confirmou presença no Carnaval 2019. "Eu acompanho as festas organizadas pela prefeitura pelas redes sociais. As imagens são realmente impressionantes. Em breve, eu vou me mudar para Salvador, onde estou sempre, me sinto em casa e é só alegria estar aqui", disse o cantor, anunciando que grava DVD novo ainda em 2019.Sozinha na pista, a enfermeira Carine Dantas, 27, também não via a hora de romper o ano. Isso porque, segundo ela, só um novo ano para "livrar a pessoas da sofrência". Com o noivado de cinco anos recém terminado, Carine não parava de cantar que o coração tinha dado PT.

"Esse homem é tudo de bom. Só assim para eu esquecer a tristeza desse ano maldito que foi 2018. Perdi meu noivo, várias coisas tristes aconteceram, além disso. Vim sozinha, moro aqui mesmo [Boca do Rio] e agora é pensar em outro amor", disse, já emendando a resposta e acompanhando o coro do público que era só: "bora beber que eu tô solteira de novo".

Mais sofrência Traição, amor, paixão e outras coisas que todo mundo passa ou já passou. Assim é o repertório das irmãs Maiara e Maraísa, quinta atração da virada.

A música chama 10%, fala de alguém que está no bar e lembra do grande amor da vida ao ouvir uma música. No Festival da Virada, por coincidência ou não, bem na hora que a dupla sertaneja começou a música a secretária Tatiane Vitório, 33, reviu o ex-namorado.

"Faz um ano que terminamos, mas eu não supero. Desde de sempre, essa virou minha música. Foi incrível porque quando olhei para o lado, ele passou pertinho, mas não me viu. Ainda bem que não estava acompanhado, senão o coração não aguenta", brincou. 

O público não arredou o pé e nem se intimidou com uma chuva fina que caiu em alguns momentos do show das irmãs, que cantaram também sucessos como Medo Bobo e R$ 50, gravado com Naiara Azevedo. "Estamos muito felizes hoje. Vocês são incríveis", disseram as cantoras, entre uma sofrência e outra. 

Reverência Já passava de 3h quando o Psirico, liderado por Márcio Victor, subiu no palco. Com mais de 20 bailarinos, o pagode comeu no centro e não teve cansaço certo. 

O que não faltou foi motivo para a galera driblar as dores nos pés, começando por Lepo Lepo. Além de Linguadinha, Mulher Brasileira e sucessos como Xenhenhém e Elas Gostam (Popa da Bunda), eleita música do Carnaval em 2018, àquela altura, já finado.

E a dançarina Marry Souza, 25, não se fez de difícil. Quebrou tudo ao som do Psi. "Não tem preguiça, dificuldade, já é o primeiro dia do ano. A gente tem mais é que extravasar tudo que tem por dentro. Eu adoro o Réveillon, mas nunca passo em Salvador, vou sempre para a ilha", comentou Marry, que dá aulas de dança de salão."Super satisfeita com minha virada aqui. Shows incríveis, cheios de energia, obedecendo o tempo de cada a artista. Além da queima de fogos. Impressionante, tudo muito lindo", afirmou ela, cantando e dançando tudo.O público dançante que acompanha Márcio e sua trupe, no entanto, hoje presenciou um momento que o cantor definiu como reverência. Emocionado, o líder do Psi cantou Firme e Forte em homenagem a Moa do Katendê, morto no primeiro turno das eleições 2018, durante discussão política, e a Mãe Stella de Oxóssi, que morreu na quinta-feira (27), por falência múltipla dos órgãos. 

"Moa vai ficar para sempre em meu coração, ele era tudo para mim. Aquela pessoa que era incapaz de discutir com alguém, uma perda enorme para todos nós. Especialmente para mim, que fui ao Badauê pela primeira vez aos três anos", disse, em coletiva à imprensa.

E completou: "Mãe Stella eu reverencio. Eu os reverencio. Por isso canto essa música, para todos os negros e negras que, como eles, nos deixaram e agora viraram estrelas que nos guiam e protegem", destacou Márcio.

A homenagem, de acordo com a atendente Elisângela Macedo, 30, foi merecida. "Eu não conhecia Moa, só depois que ele morreu vi a história grandiosa que tinha. Eu, enquanto mulher negra, vejo a importância disso, porque é representatividade, é amor ao próximo", comentou ela, acompanhada de amigos.

Quem ainda tinha fôlego, ficou para acompanhar o show de MC Kevinho, que subiu ao palco com o primeiro sol do ano prestes a raiar. 

Dono de hits como Olha a Explosão e O Grave Bater, o cantor paulista já fez participação em shows de Anitta, além de ter gravado, em 2017, a música Encaixa, com o Gigante Léo Santana. 

Até 2019, Boca do Rio Na avaliação do prefeito de Salvador, ACM Neto, ainda não é possível imaginar o Festival da Virada acontecendo em outro lugar. A área de 50 mil metros quadrados onde funcionava o antigo Aeroclube, por ora, segue confirmada como palco do Réveillon desse ano. 

"A ideia é manter aqui. É difícil pensar agora para onde mandar essa festa, que é um produto que deu certo, assim como nosso Carnaval. Nós mudamos do Comércio para cá justamente porque não havia mais espaço lá. Se, por acaso, percebermos essa necessidade, aí a gente pensa", garantiu Neto, acrescentando que vai ter uma dimensão maior da quantidade de gente após análise das imagens aéreas. Prefeito ACM Neto curtiu a virada no meio do povo (Foto: Secom/Divulgação) "Estimamos que 800 mil pessoas vieram para cá hoje. Entre adultos, crianças, gente de todas as idades. Esse réveillon é o maior do Brasil. Não existe nada igual quando se fala na grade de atrações, no espaço que temos de lazer. Nós recebemos 800 mil turistas nesses cinco dias na cidade", declarou o prefeito, que esteve presente nos outros dias de festa.

O evento, criado pela prefeitura há seis anos, segundo o prefeito, também teve a próxima edição confirmada para acontecer na Boca do Rio pelo presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington. 

"É um lugar que deu super certo, temos registrado um crescimento bom de público, em comparação das viradas anteriores. Quase 100% dos hotéis da Orla estão com a capacidade preenchida".

Ainda de acordo com Isaac, o grande forte do evento é reunir várias atrações, além duas musicais, em um lugar de "grande e de fácil locomoção". "Nós temos a Vila Gastronômica, as feiras livres, além da tirolesa dupla e da roda-gigante, que já grande atração da festa", acrescentou.

Mais cinco dias de festa garantidos na Boca do Rio, pela prefeitura, e alegria de um trio de amigas que moram no local. Maiara Ribeiro, 18, Camila Vita, 19 e Maeve Pocci, 18, todas estudantes, já têm até o ponto de encontro bem familiar, diga-se de passagem, em caso de se perderem.

"A gente está é feliz com essa festa linda aqui na nossa cara. Já aconteceu de uma se perder, acontece muito fácil. É só atravessar a rua e esperar na varanda da casa de Maeve", afirma Camila, indicando o portão verdinho em uma rua em frente à Arena Daniela Mercury que, segundo a jovem, é "praticamente o quintal de casa".