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O risco da contratação de Sampaoli pelo Atlético-MG


 

  • Miro Palma

Publicado em 06/03/2020 às 05:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 22:21:04
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Depois de recusar a primeira investida, Jorge Sampaoli fechou por dois anos com o Atlético-MG. O anúncio oficial foi feito no último domingo pelo presidente do clube, Sérgio Sette Câmara, em seu perfil pessoal no Twitter. Surpresa para muitos e alegria, com certeza, para a nação atleticana. O desempenho do técnico argentino no Santos e o segundo lugar no Campeonato Brasileiro do ano passado o colocaram entre os nomes mais cotados no mercado nacional.

O Galo estava precisando de bons motivos para melhorar o clima, especialmente depois de ser eliminado da Sul-Americana e da Copa do Brasil. E que “Sãopaoli” opera milagres, ninguém duvida. No entanto, para que a negociação dê certo, o santo de casa vai ter que dar seus pulos também. Sette Câmara comprometeu o que tinha e o que não tinha de orçamento atleticano para trazer o novo técnico. Gastar além da receita pode se tornar o seu pecado capital.

De acordo com a análise do jornalista Rodrigo Capelo, do Globoesporte.com, o Atlético-MG projetava arrecadar R$ 309 milhões na temporada. Desse montante, R$ 100 milhões seriam só com a venda de jogadores. Isso antes das fatídicas eliminações que já reduziram essa projeção. Some também uma dívida de mais de R$ 2 milhões com a demissão do técnico venezuelano Rafael Dudamel, que ocupava a cadeira que agora será de Sampaoli. Não precisa nem de calculadora para ver que a conta não fecha.

Mas, calma que não para por aí. Para trazer o argentino e sua comissão técnica, o galo vai ter um custo mensal de R$ 1,2 milhão. Segundo o clube, R$ 500 mil saem do próprio bolso e os R$ 700 mil restantes do bolso de “parceiros”, como é o caso da construtora MRV. O que não ficou clara é a contrapartida – se ela existir – que esses parceiros vão receber. Além disso, Sampaoli que não é menino, conseguiu amarrar no contrato uma multa pesada em caso de demissão. A pena, que já foi apelidada de multa “antidemissão”, obriga o clube a arcar com valores correspondentes a cinco anos de contrato caso queiram encerrá-lo antes dos dois anos estipulados.

E se você já se perdeu nessa matemática, senta que piora. Para aceitar a proposta, Sampaoli exigiu que a diretoria contrate cinco jogadores: um goleiro, um volante, um meia e dois atacantes. Até aí, compreensível, afinal, o time atual pode ser considerado razoável, nada além disso. Porém, o alvinegro mineiro já tinha estourado o orçamento previsto de R$ 20 milhões para contratações com reforços que foram escolhidos antes da chegada do novo treinador. Só Allan e Guilherme Arana já custaram R$ 27,4 milhões, fora Maílton, Dylan Borrero, Savarino e Rafael.

Toda essa ostentação comandada por Sérgio Sette Câmara não é à toa. Esse é o último ano da administração do presidente e as eleições já estão batendo na porta. E o que mais tem por aí, seja no futebol ou em outros setores da sociedade, é candidato abrindo mão do bom senso em troca da conquista de votos. A estratégia, apesar de frequentemente obter sucesso a curto prazo, costuma se revelar um tiro no pé a longo prazo. E no fim das contas, Sampaoli pode até levar o Galo ao topo do Campeonato Brasileiro, mas, para isso, Sette Câmara pode arrastar o clube para o fundo do poço. E o exemplo está logo no vizinho, afinal, o Cruzeiro não está na Série B à toa... 

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras