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Wendel de Novais
Publicado em 12 de junho de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Tem gente que usa papel de jornal antigo para fazer decoração, que faz recortes de eventos históricos para guardar consigo e tem até quem guarde só para embrulhar e proteger objetos frágeis em caso de mudança ou envio. Formas já tradicionais de reutilizar o material. Mas tem gente que inova, como Samuel Cruz, artista e estudante de artes visuais, que se utilizou das edições impressas antigas do CORREIO para homenagear Santo Antônio, nas vésperas do dia do santo casamenteiro, comemorado nesse domingo (13).>
O agrado, porém, não é por intenções românticas. Samuel, assim como outros 65 artistas nacionais e internacionais, fez a obra em homenagem ao santo para um evento da galeria de artes Mário Edson Ateliê de Fotografia, no Santo Antônio Além do Carmo, e aberta para visitação todos os dias da semana, das 16h às 18h. É lá que dá para conferir todas as homenagens a Santo Antônio em uma mostra coletiva. No entanto, a de papel ganhou destaque por ser diferente de tudo que a maioria já tinha visto em imagens sacras. >
"Eu não tinha nem imaginado fazer Santo Antônio antes. Fui convidado para o evento e, assim como todos os outros participantes, precisei produzir a imagem de Santo Antônio. Então, fiz com o que mais sei na vida: arte em papel. E ficou fantástica, todo mundo recebeu muito bem a proposta, o que me deixou bem contente", conta o artista. Samuel ao lado do Santo Antônio de papel (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Iniciante em imagens sacras Apesar do sucesso que a obra teve com os colegas artistas e com quem visita a galeria, Samuel está longe de ser um artista experiente em arte sacra. "É só a segunda vez que faço imagem sacra, eu só tinha feito uma de Cosme e Damião anteriormente. Não é o que eu fazia normalmente. Mas, depois dessa, tomei gosto e já fiz imagens da Crucificação de Jesus Cristo, Yemanjá e tô fazendo agora Nossa Senhora Aparecida", diz Samuel, que, antes da temática sacra, fazia obras que retratam o cotidiano, reproduzindo imagens presenciadas por ele. >
Feliz com o resultado, Samuel comemora o fato de ter conseguido fazer sucesso em meio a um grande número de artistas visuais que admira. "A de Cosme e Damião, que foi a primeira que fiz, não teve tanta repercussão. Essa de Santo Antônio teve uma receptividade maravilhosa. Fiquei muito feliz por isso e pela forma que aconteceu, trabalhando do lado de artistas internacionais, o que abrilhanta ainda mais esse sucesso da obra", relata. >
Sacra ou não, toda arte de Samuel usa um material em específico: edições impressas do CORREIO. De acordo com ele, o jornal se tornou matéria-prima por conta das doações de apoiadores.>
"Desde o começo, uso o papel do CORREIO. Começou assim e continua porque eu comecei a receber doações de mais de 15 assinantes do jornal que incentivavam meu trabalho. E isso nunca parou. Eles, sempre que passam na minha varanda, deixam as edições impressas que já leram", diz.>
Só papel Trabalhando no mundo da arte visual há dez anos, ele não titubeia na resposta sobre quais materiais faz uso nos seus projetos: "só papel", afirma. Para Samuel, o material é o meio ideal para dar vidas às suas obras. >
"O papel, pra mim, é um material mais maleável, mais predisposto à manipulação. É uma matéria que possibilita um trabalho inovador, criativo. O papel hoje pra mim é como minha segunda perna, não dá pra viver sem no meu processo artístico", declara. >
Porém, nem sempre foi assim, antes do papel, ele já trabalhou com a produção de vasos. Só se encontrou com a matéria que usa atualmente quando precisou ganhar a vida depois de um acidente.>
"A intimidade com papel veio depois de um acidente de carro que capotou e me fez perder o movimento do braço esquerdo. No processo de recuperação, comecei a fazer arte com papel como terapia e pra não ficar ocioso. O que era só uma tentativa de melhorar, hoje, se transformou em uma profissão, no que eu faço da vida", fala ele, que já recuperou o movimento do braço depois do acidente, que ocorreu há dez anos.>
*sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro>