O tripé do sucesso olímpico e o esporte como plano de nação

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  • Gabriel Galo

Publicado em 30 de julho de 2021 às 05:24

- Atualizado há um ano

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Forjar um atleta olímpico demanda tempo. Ver um atleta desempenhar em alto nível no maior palco do esporte mundial é projeto que envolve diversas variáveis. Muito resumidamente, essas variáveis podem ser divididas em três partes.

A primeira delas é o talento. E por talento não falo apenas de aptidão física, mas também mental. Uma obstinação peculiar, somada ao físico com a predisposição ideal e uma técnica naturalmente superior. É o lado romântico do esporte. Quando vemos Rayssa aos 7 anos viralizando, vemos uma esportista feita para o skate.

A segunda parte está relacionada a equipamento. Formar um atleta de ponta significa oferecer as ferramentas necessárias para que tenha condições de competir em pé de igualdade com os melhores. O tênis certo, a prancha nova, o ginásio com piso que não machuca, o transporte para ir treinar – os exemplos são infinitos. Some-se a isso o fornecimento de acompanhamento técnico completo: nutrição, preparação física, estudo, ciência.

Por último, o ambiente deve ser de apoio e incentivo. Família deve embarcar junto, os estudos devem ser acompanhados com cuidado, a situação econômica deve ser confortável o suficiente para que as necessidades práticas do dia a dia não sobreponham o esporte.

Parece simples, certo? Mas o Brasil decidiu seguir um caminho que simplesmente abandona as segunda e terceira partes.

Não há estrutura para que o esporte de alto rendimento seja tratado como plano. A falta de estrutura é oriunda da falta de investimento. E a falta de investimento advém da visão de que o esporte olímpico é algo secundário.

Em grande portal, a história de Claudinei Quirino é destaque, que passou fome em orfanatos quando criança. De Ítalo Ferreira, ouro no surfe, vê-se muito mais sobre a infância sofrida, a prancha improvisada, o sacrifício da família. O handebol feminino foi campeão mundial em 2013 para não ver nada mudar na estrutura do esporte. O mesmo acontece em quase todos os esportes: quem tem o desprazer de verificar o abandono da base de esportes olímpicos se entristece.

A tônica segue, restando apenas o talento como viés único. Essa romantização é excelente para vender matéria sentimentalóide, mas, sejamos honestos, não se cria uma nação olímpica dessa maneira. Queremos crer que a superação é atributo maior do atleta, que a história de superação é bonita e traz lágrimas aos olhos.

Mas quantos atletas olímpicos perdemos pelo caminho para falta de estrutura e de apoio? Quantos futuros medalhistas e estrelas mundiais deixamos de incentivar? Quantos Ítalos, Rebecas, Izaquias, Mayras abandonamos pelo caminho porque, não neguemos a realidade, romantiza-se o sofrimento, como se talento fosse algo sobrenatural, que ou se tem ou se não tem, não importando mais nada?

Na minha visão de nação, o esporte é aspecto central. Não apenas como alto desempenho, mas como estrutura social. A juventude precisa do esporte, como também precisa de música, de arte, de cultura, de segurança alimentar, física, de moradia. O esporte é transformador, mas não o é se permanecermos exagerando o impacto do talento em detrimento de temas mais práticos.

Gabriel Galo é escritor e acredita que o esporte deve ser pilar de um plano de nação.