Obras do artista plástico Carybé estão em espaços públicos de Salvador

O leitor do CORREIO recebe hoje o quarto fascículo da coleção As Sete Portas da Bahia, com desenhos de Carybé

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  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de agosto de 2014 às 08:28

- Atualizado há um ano

Há cinco anos, uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) antecipava as celebrações do centenário de nascimento do artista plástico  Carybé (1911-1997). Fazia parte daquele evento a Rota Carybé, que disponibilizava aos visitantes uma van para percorrer a cidade e visitar as criações do artista expostas em espaços públicos. No roteiro, o carro passava por diversos pontos da cidade que abrigam obras de artista: o banco Bradesco, da Rua Chile, Shopping Iguatemi, Teatro Castro Alves, Hotel da Bahia... Hoje, cinco anos depois, os soteropolitanos não têm mais aquela facilidade de deslocamento proporcionada pela exposição. Mas as criações de Carybé continuam nos mesmos lugares, para deleite dos soteropolitanos.O painel do foyer do Teatro Castro Alves é lembrado por especialistas como o baiano Cesar Romero, 63, artista plástico e crítico de arte do CORREIO:  “Aquele trabalho dele, além de ter centenas de personagens, tem muitas técnicas. É incrível como, em uma só composição, juntou várias técnicas: uma parte do painel é em cimento, outra parte em madeira, outra tem pintura...”. Gabriel Bernabó, curador do Instituto Carybé, lembra que em frente ao teatro, na Praça do Campo Grande, há um gradil criado por Carybé. Segundo Gabriel, somente nas proximidades da praça, há outras seis criações do avô, inclusive em prédios residenciais, como o Edifício Campo Grande.O artista visual Denissena, 37, aponta o gradil do Museu de Arte Moderna como uma das criações emblemáticas de Carybé. Ele também lembra de outras criações do artista que lhe entusiasmam: a lateral do edifício Bráulio Xavier, na Rua Chile; um mural do Bradesco na mesma rua e por aí vai...Dois Índios (1966): Mural que reproduz imagem de dois índios está no playground de um edifício residencial no Campo Grande. Segundo Gabriel Bernabó, neto de Carybé, há oito obras de arte do artista na região.São PauloDenissena cita também a presença de Carybé em espaços públicos de outras cidades: “Gosto muito do painel dele no Memorial da América Latina, em São Paulo. Estive lá em 1999 e fui surpreendido porque não sabia da existência daquela obra”. Aqueles murais, em concreto, foram criados por Carybé junto com o amigo curitibano Poty (1924-1998). As estruturas, de 15m x 4m são Os Povos Africanos, Os Ibéricos e Os Libertadores. Denissena assume-se fã do “argentino-baiano” que, segundo ele, foi o artista que melhor representou a Bahia nas artes plásticas: “O povo está em cada criação dele. Estão ali as mulheres negras baianas, as pessoas comendo feijão, a capoeira...”.Cesar Romero concorda e diz que, provavelmente, nenhum artista plástico assimilou a mística da Bahia como Carybé. Para ele, talvez apenas Rubem Valentim (1922-1991) tenha assimilado a presença de elementos baianos com tanta propriedade quanto ele. Romero ressalta que, ao lado de Carlos Bastos (1925- 2004) e Juarez Paraíso, Carybé é o nome mais importante do muralismo na Bahia. “Ele gostava muito dos grandes espaços e tinha uma disposição muito grande para trabalhar. Não encarava a produção artística como dilentantismo, mas com grande profissionalismo”, diz o crítico de arte.Fundação da Cidade de Salvador (1978): O painel no foyer do Teatro Castro Alves, também no Campo Grande, tem como característica a mistura de técnicas, incluindo concreto, pintura sobre azulejos e mural em cimento e madeira.RestauraçãoUm dos murais criados por Carybé está na Escola Parque, na Caixa D’Água, instituição idealizada pelo educador Anísio Teixeira (1900-1971) na década de 40. Na época, outros artistas, como Jenner Augusto (1924- 2003) e Carlos Bastos também criaram peças para o espaço educacional.As sete criações dos artistas, que estavam deterioradas, passaram por uma restauração que custou R$ 755 mil. A ação da Secretaria de Cultura do Estado - Secult-BA via Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) está em fase de finalização.A entrega das obras de arte será em setembro, quando celebra-se o centenário de nascimento do arquiteto Diógenes Rebouças (1914-1994), que projetou a escola.Mas não foi apenas a Salvador que Carybé forneceu seu dom: suas obras estão em outras capitais brasileiras, além da já citada São Paulo. Em Recife, criou um mural em concreto, em 1965, na porta da fábrica de automóveis Willys. Dois anos depois, fez a pintura sobre madeira Índios, por encomenda do Banerj, no Rio de Janeiro. Fora do Brasil, os traços de Carybé dão mais vida ao Aeroporto Internacional de Miami, também por meio de um grande painel.Sem Título (1997): O projeto do gradil do Museu de Arte Moderna, na Avenida Contorno, foi concluído e executado pouco antes de Carybé morrer, em outubro de 1997. No mesmo ano, desenhou o gradil da Piedade.