Ofensas e arma escondida: ex-babás prestam depoimento contra patroa acusada de cárcere

Ex-funcionárias de Melina Esteves relataram ao CORREIO agressões e ameaças desde 2018

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  • Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2021 às 11:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo de ex-funcionários foi nesta sexta-feira (27) à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais.

No ano passado, a doméstica Jociene Nascimento Machado, 40 anos, foi uma das que trabalhou na casa de Melina, quando ela morava ainda em Colinas de Piatã."Ela queria que ficasse por 15 dias direto. Nunca poderia voltar pra casa. Eu fui fazer uma faxina e ela me prendeu lá". A funcionária contou que foi impedida de voltar para casa durante oito dias e ficou ainda mais assustada quando achou uma arma em uma das gavetas do apartamento. 

"Não fui agredida, ela chegava gritando, com o nervoso dela. Tinha um temperamento agressivo, mas nunca me agrediu. Me chamou de burra, me ofendeu", contou Jociene, que ficou 8 dias no trabalho. Jociene se emociona ao lembrar dos momentos de medo que passou ao achar uma arma na casa da ex-patroa (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A doméstica era impedida de voltar para a casa sob a justificativa do perigo de exposição na pandemia. "Os 8 dias eu só desci para pegar as compras porque ela não deixava eu ir para canto nenhum. Quando eu falei que queria ir embora, ela começou a ficar de cara feia. Em um dia que ela saiu e eu fui arrumar a casa, quando eu abri uma gaveta, tinha uma arma. Eu fiquei com mais pânico ainda. Eu ainda peguei para ver se era de verdade e quando eu peguei eu vi que tinha bala. Eu fiz de conta que não sabia, nem falei com ela que tinha visto", desabafou. 

Agressões e falta de pagamento Também no ano passado, no mês de maio, outra funcionária sofreu ao trabalhar com Melina, mas ela foi agredida e ameaçada quando disse que não queria mais o emprego. A mulher, que pediu para não ser identificada, contou que trabalhou 17 dias, mas não recebeu pagamento.

Melina não era agressiva inicialmente, mas foi às vias de fato com a trabalhadora e acusou de roubo no fim do trabalho. "No primeiro dia foi super tranquilo, aparentemente super normal, mas ela não cumpria os horários, também me colocava contra as outras funcionárias. Um dia resolvi faltar e ela foi até a minha casa, pediu apra eu voltar porque ela tinha gostado muito de mim e o filho também, aí voltei. Quando eu disse que nao queria ir mais, ela veio com as agressões, veio me engarguelando e disse: você não vai embora não, sua vagabunda, você vai trabalhar. Aí foi aquela luta, me deu soco, mordeu meu dedo", contou.

Depois, Melina ofereceu um celular como pagamento pelos 17 dias de trabalho, mas a funcionária não aceitou e a própria patroa chamou a polícia. "Ela chamou a polícia, disse que eu tinha roubado o celular. Ela é manipuladora e mentirosa. Ficou a minha palavra contra a dela.

Apesar das agressões, Melina ainda queria que ela permanecesse no emprego, mas como a funcionária não aceitou, ela foi até a casa dela e fez ameaças à família. "Ela falou que ia botar pessoas para me pegar, ameaçou meu esposo, minha sogra, passava pela rua de carro e falava: 'vai logo dar queixa porque eu vou me mudar'", contou. 

Em 2018, no mesmo condomínio, a vítima foi Ariana Araújo Barbosa, 33 anos, que trabalhou por 4 meses no apartamento. Nos dois primeiros meses, ela recebeu o pagamento de forma correta. Depois, Melina avisou que pagaria os dois meses seguintes juntos, mas, na data acordada, o trato não foi cumprido. Ariana foi expulsa da casa de Melina sem receber o pagamento por dois meses de trabalho (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) "Quando chegou no dia de me pagar, era umas 15h, ela disse que tinha comprado uma capa pra colocar no meu celular. Aí eu entreguei o meu celular, ela puxou da minha mão e começou a gritar e disse que era para sair da casa dela sem o celular e sem o dinheiro. Ela procurou uma briga e não me pagou", contou Ariana.

Assustada com a situação, ela chamou a irmã e prestou uma queixa na 12ª Delegacia (Itapuã). Foi quando começaram as ameaças. "Depois de três dias ela foi na minha casa ameaçar, queria que eu retirasse a queixa. Ela começou a xingar, me coagindo. Meus vizinhos são todos testemunhas. E vai fazer 4 meses que ela foi lá na rua de novo, ela passava de carro, sempre com alguém do lado e ficava olhando. Fazendo ameaça com o olhar", relatou.

Segundo a doméstica, Melina também tinha um comportamento agressivo com a mãe, que morava com ela."O comportamento dela já dizia que ela não era uma pessoa boa. Era muito xingamento, muito problema, muita briga, ela gritava muito com a mãe. Uma pessoa totalmente sem controle. Eu já sabia que ela poderia fazer uma coisa dessa".Agora, com a repercussão do último caso, as trabalhadoras esperam que Melina seja punida. "Que a justiça seja feita, nós acreditamos na justiça e espera que a gente tenha alguma resposta", finalizou Ariana.

'Muda de comportamento' "Até agora que tenho conhecimento, sete vítimas. Ela não deixou rastro à época de quando cometeu os outros crimes, que só vieram à tona agora após a atitude de Raiane de fugir do cárcere. Mas o número de  vítimas pode ser maior porque tenho recebido ligações e a polícia também de pessoas que relataram também ser vítimas dela", declarou o advogado das babás, Bruno Oliveira.

"Ela no primeiro momento envolve as pessoas, depois ela muda de comportamento, sendo muito exigente, agressiva com as palavras e em alguns casos violenta. Quando as babás dizem que vão sair do trabalho, ela começava com as injúrias , ameaças , agressões. Das sete, três ela reteve o celular e duas ficaram em cárcere privado", disse Bruno.

O apartamento de Melina no Imbuí foi periciado ontem e as imagens das câmeras foram recolhidas - o apartamento é todo monitorado. Vizinhos serão ouvidos à tarde.  Bruno disse que já teve acesso ao depoimento da acusada."Mas ainda não posso falar para não prejudicar as investigações", disse ele.