Óleo nas praias faz reservas para o verão caírem 30% em Morro de São Paulo

De acordo com a Associação Comercial e Empresarial de Cairu, além do vazamento, a crise política na Argentina e Chile contribuiu com a queda

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

A chegada do petróleo cru no litoral de Morro de São Paulo, em Cairu, Baixo-Sul do estado, fez com que o número de reservas para o verão caísse em 30%, em comparação com o mesmo período do ano passado.

A informação é da Associação Comercial e Empresarial de Cairu. Segundo a associação, a crise política e econômica pela qual passam Argentina e Chile também contribui para a queda nas reservas para o verão.

Segundo a Prefeitura de Cairu, o município conta com 9.418 leitos em 217 hospedarias, espalhadas pelas localidades de Morro de São Paulo, Boipeba, Moreré, Gamboa, Centro, Garapuá e São Sebastião.“A chegada do óleo gerou quedas de reservas durante duas semanas, mas estabilizou. Para o feriado de 15 de novembro devemos ter 95% de lotação, mas as vendas futuras, para o verão, estão muito prejudicadas”, disse Cristian Willy, presidente da associação.Para o empresário, a situação pode ser revertida até o final do ano, caso não chegue mais petróleo cru no litoral baiano. No entanto, nesta quarta-feira (13), a Prefeitura de Cairu confirmou que a praia de Garapuá apresentou novo registro de óleo. Segundo o órgão, a limpeza dos resíduos foi imediata e o monitoramento continua em todas as praias do arquipélago. O petróleo volta a aparecer na praia de Garapuá, em Cairu (Foto: Jailma Santos/Ivo Neto/Divulgação) “Na última vez que chegou nem deu tempo de os turistas verem nada porque o pessoal age rápido, entre 5h e 6h já estão atuando e fazendo as coletas, quando o turista desse já encontra a praia limpa”, disse o empresário William Wazlawik, 41.

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Dono de uma agência de viagens locais e uma loja de roupas na primeira praia de Morro de São Paulo, Wazlawik disse que empresários colaboram com os voluntários, dando quentinhas para os mesmos. Em cada praia tem um ‘QG de voluntários’.

“Há uma união muito grande para que essa questão do óleo não nos afete, pois aqui todo mundo vive do turismo, então estamos unindo nossas forças. Nos dias que teve óleo com mais intensidade tinha mais de 150 voluntários”, declarou.

Mudança de hábito O que tem mudado nas praias de Morro de São Paulo são os hábitos de consumo dos turistas. Os pedidos de lambreta e ostra, por exemplo, caíram a quase zero. E quase ninguém tem para vender nas barracas.

Isso ocorre porque a lambreta e as ostras estão entre os animais responsáveis pelo papel de filtro dos mangues e, por isso, têm mais possibilidade de acumularem petróleo cru em caso de haver contaminação.“O consumo de peixes reduziu quando apareceram as quantidades maiores de petróleo, mas agora já voltaram praticamente ao normal”, afirmou Juvenilson Lima Costa, 26, vendedor de um restaurante na segunda praia do Morro.Na segunda-feira (11), o Ministério da Agricultura divulgou que “o pescado de áreas atingidas por óleo está próprio para consumo”, mas isso gerou contestação de pesquisadores que acompanham o assunto, conforme o CORRREIO mostrou em reportagem.

Poucos impactos A situação de Morro de São Paulo, contudo, parece ser algo pontual na Bahia, segundo informações da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e a Associação Baiana de Viagens (Abav).

De acordo com essas entidades, mesmo com os problemas causados pela chegada do petróleo cru em quase todo o litoral baiano, o setor deve fechar o ano com crescimento de até 12%, e sem impactos no verão.  “O fluxo de turistas em Salvador e Litoral Norte deve aumentar em torno de 10% com relação ao mesmo período no ano passado. A mancha de óleo não ‘manchou’ o nosso turismo e já são águas passadas”, avaliou a presidente da Abav, Ângela Carvalho.Presidente da seção baiana da ABIH, o empresário Glicério Lemos informou que “os clientes entenderam que o problema do petróleo é uma coisa passageira e muitos estão voltando a fazer reservas para o verão”.“E nessa questão do Morro de São Paulo, creio que aparecerão novos clientes para garantir a lotação no verão. O Morro é muito querido, solicitado pelos turistas, se não tiver novos casos de óleo na praia vai ficar fácil de recuperar as reservas”, declarou.Chapada Diamantina E enquanto o trade turístico pede aos céus que não chegue mais óleo nas praias, áreas como a Chapada Diamantina estão tendo aumento de até 40% na procura por reservas para o verão.

A Prefeitura de Lençóis, cidade de maior referência na região da Chapada Diamantina, informou que tem notado maior crescimento na procura este ano. A cidade tem cerca de 4 mil leitos, distribuídos em 106 hoteis e 210 casas de aluguéis.

No próximo final de semana, ocorre em Lençóis o Festival Land Rover com 1.200 participantes. Recentemente, Lençóis foi a grande vencedora na categoria destinos nacionais de viagem do Prêmio Melhores Destinos 2019, promovido pelo site Melhores Destinos.

O resultado levou em conta os votos de mais de 25 mil leitores com base nas viagens realizadas por eles neste ano ou no ano passado. O município obteve ótima avaliação nos quesitos custo-benefício, atrações, gastronomia, receptividade e segurança. O prêmio deve-se, em grande parte, aos inúmeros atrativos naturais da cidade.“Estamos muito felizes com esse reconhecimento, que é uma prova de que estamos fazendo um trabalho certo na área de turismo, meio ambiente e lazer”, disse o prefeito de Lençóis, Marcos Araújo (PRB).Ações governamentais  O Governo do Estado informou que, por meio de uma ação transversal de diversos órgãos, está trabalhando para minimizar os impactos naturais e econômicos da chegada do petróleo cru no litoral baiano.

A ação envolve parcerias com prefeituras, sociedade civil e ONGs para que a situação volte o mais breve possível à normalidade.

Nesta quarta-feira (13), o secretário do Turismo da Bahia, Fausto Franco, e os secretários dos demais estados do Nordeste se reuniram com executivos da operadora CVC, em Fortaleza, no Ceará, para viabilizar uma campanha promocional sobre os destinos da região, a fim de atenuar uma possível crise proporcionada pelo derramamento de óleo no litoral brasileiro. Detalhes da campanha não foram informados.

A Bahia tem 13 zonas turísticas com os mais diversos atrativos. Uma delas, Itacaré, no Sul do estado, onde, neste sábado (16) e domingo (17), ocorre a primeira edição do Festival Música Boa.

Segundo a Prefeitura local, a perspectiva é de 100% de ocupação na rede hoteleira com hóspedes de cidades como Salvador, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Curitiba entre outras.

Além de shows de artistas como Armandinho Macedo, o festival terá espaço para apresentações culturais com grupos de capoeira, grupos de percussão e desfile de fanfarras.

Feira da economia criativa e circuito gastronômico também compõem a programação. O evento tem apoio do Governo da Bahia por meio da Superintendência de Fomento ao Turismo (Bahiatursa).

Itacaré é rica em atrativos, como cachoeiras e praias propícias a esportes como o surf, mas não são as únicas alternativas para quem quer aproveitar a cidade da Costa do Cacau. Há também trilhas, circuito histórico e fazendas de cacau abertas à visitação.

Secretário executivo da Associação dos Municípios da Região Cacaueira (Amurc) e do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território do Litoral Sul, Luciano Veiga informou que a região ainda não sofreu impactos no setor turístico com o cancelamento de reservas para o verão.

“O que houve foi mais um impacto, até mesmo porque começou a ser divulgado na imprensa que todas as praias do sul da Bahia estavam contaminadas com petróleo, mas foi algo passageiro”, comentou.

Turismo tem crescimento recorde O turismo no Brasil apresentou crescimento recorde nos primeiros meses deste ano, com rendimento de R$ 136,7 bilhões, o que representa o maior patamar registrado nos últimos quatro anos.

Além disso, o setor criou mais de 25 mil vagas nos últimos 12 meses (encerrados em julho). Os dados constam na pesquisa inédita da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).“O país vem respondendo positivamente às ações do Ministério do Turismo e do Governo Federal, demonstrando que o potencial de nossas belezas e atrativos tem conquistado a confiança de empreendedores e investidores em nossa economia”, destacou o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.Os segmentos de restaurantes e similares e de transporte de passageiros representaram 80,5% da receita total do setor, com faturamento de R$ 10,844 bilhões e R$ 5,641 bilhões e crescimento de 4,9% e 20,2%, respectivamente, em relação a junho.

A região sudeste apresentou o maior volume de faturamento em julho, com R$ 12,5 bilhões. O Sul, segunda região de maior expressão, registrou R$ 3,33 bilhões no mês de julho.

Já entre os estados, destaque para São Paulo com 41,1% das vendas nacionais das empresas ligadas ao turismo, seguido por Rio de Janeiro com 10,4%, Minas Gerais com 8% e Paraná com 6%.“O crescimento do faturamento mensal dá indicativos de alta para os próximos meses, em sintonia com a performance esperada para a economia neste segundo semestre, principalmente em função das possibilidades de gastos dos consumidores”, avaliou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.O ministro enfatizou que iniciativas desenvolvidas pelo Governo Federal na área buscam elevar a absorção de mão de obra por meio do turismo.

Caso da isenção de vistos a cidadãos de países estratégicos, que aumenta a procura do Brasil por visitantes e movimenta os destinos nacionais; e da abertura de empresas aéreas ao capital estrangeiro, que desperta o interesse do mercado e estimula a chegada de empresas aéreas low costs (baixo custo) ao país.

Os números da pesquisa foram obtidos por meio do Índice Cielo de Vendas do Turismo da CNC, que tem como parâmetros a Pesquisa Anual de Serviços (PAS), o Índice de Atividades Turísticas (Iatur) e a Pesquisa do Turismo, do IBGE, e as taxas de variação da pesquisa Cielo/CNC (ICV-Tur).