Olha lá! A tática do fingimento

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  • Gabriel Galo

Publicado em 5 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Uma das primeiras coisas que aprendemos quando criança é colocar a culpa nos outros para escapar da bronca. Ou, se não dava pra escapar, pelo menos levava um desavisado junto. Lá vinha a mãe com a chinela em punho e você mostrava o quanto o irmão também errou.

Com o tempo aprendemos a sofisticar as desculpas. A tática do “o cachorro comeu meu trabalho” não cola mais. Assim, buscamos aqueles veja-bens que procuravam a simpatia, a pena do interlocutor-julgador. Assim, avós já morreram, acidentes sérios aconteceram. Tivesse lágrimas, ainda melhor, prêmio do Oscar pro malandro.

No mundo da pós-verdade, para que tem um pé na sociopatia, descobriu-se um fator ainda mais poderoso: o inimigo imaginário. A lição maior foi a tática operacional que reúne um pé na resenha sem-noção e outro nas mentiras descabidas. Se o cenário é de fragilidade emocional do público que compraria o discurso, voilá!, quase impossível combater.

A elaboração de um inimigo imaginário, claro, demora muito tempo. Pode ter um fiapo de sentido, que pronto: o achismo vira fato incontestável. E todos os expedientes verídicos e estatísticas que desmantelam a fala viram o inacreditável “torcer contra”.

A nova gestão do Vitória usa e abusa deste desenrolar. E cai como uma luva na necessidade de afago da torcida cansada.

Time veio mal formado? Olha lá, culpa do dinheiro, claro. Mas e se compararmos com orçamentos como o do Moto Club, do Botafogo da Paraíba e o do Guarani?

Muda-se, então, o “olha lá”. “Olha lá, é a torcida que não paga o programa de sócio torcedor e não gasta o suficiente.” Mas e se a decisão contraria todos os estudos de comportamento econômico, além das mais básicas regras de oferta e demanda? E por aí vai.

Neste momento, o Vitória ocupa a vergonhosa 19ª posição na Série B. Mas, tal qual manda a cartilha da evasão de responsabilidades, em vez de olhar para o esdrúxulo trabalho de um técnico que faz do seu sobrenome o seu destino, melhor é apontar para o além e botar mais um “olha lá”. Surgiu o “olha lá o governo ajudando o Bahia”.

Se a questão da vigilância da correção do gasto público deve ser permanente e inadiável, está mais do que claro que se trata apenas de cortina de fumaça. Que chegou ao extremo, condizente com o discurso beligerante, de gerar gritos de parte da torcida rubro-negra contra a campanha de Dia dos Pais do Bahia, em parceria com a Defensoria Pública, que visa facilitar o acesso a exames de DNA e conselhos no processo de identificação de pais que abandonaram os filhos. Dizem, principalmente, haver intenções eleitorais.

Pois quando a rivalidade impede de identificar a validade de uma ação como essa, mesmo que eleitoreira, passou do ponto. Urge se olhar em vez de pra lá, pra cá.

Porque enquanto o clube passa por um momento prolongado de inferno astral exacerbado pela incompetência, insiste-se no “olha lá” para escapar da culpa. Fabrica-se evolução que não se sustenta pelos números mais simples. E quando todos se derem conta do tamanho do buraco causado pela incapacidade e pelo fingimento, talvez seja tarde demais. Lá terá, enfim, o mandatário devolvido o clube ao patamar onde o deixou há 14 anos.

Gabriel Galo é escritor