Onda de união: 500 voluntários ajudaram a limpar praias no final de semana

Foz do Rio Pojuca, em Camaçari, é área com maior concentração de óleo encontrada pelo grupo

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 19:51

- Atualizado há um ano

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Para o olhar ainda não treinado, as pequenas pelotas de petróleo que atingem praias de Salvador podem até passar despercebidos. Mas, na vista já acostumada do engenheiro Arthur Sehbe, elas passaram a ser identificadas com mais facilidade. “Na primeira vez que olhei, eu também não vi. Só que depois, com calma, vai-se vendo diversos pequenos pontos. O óleo brilha, principalmente se você olha a contra luz porque reflete”, explica ele, que organizou um mutirão simultâneo em 17 locais de Salvador e Região Metropolitana. O movimento reuniu cerca de 500 voluntários neste fim de semana, e espera servir de exemplo e inspiração para que mais gente também decida se juntar para ajudar. Segundo Sehbe, as localidades onde o grupo mais encontrou óleo foram em Stella Maris, Itapuã, Vilas do Atlântico e na foz do Rio Pojuca, em Camaçari. Até mesmo o nutricionista Daniel Cady, marido de Ivete Sangalo, se juntou aos esforços e auxiliou na remoção de óleo nos mangues da foz do rio, na altura de Itacimirim, em Camaçari. Em sua conta no Instagram, ele denunciou a situação do manguezal da região, bioma considerado o berçário marinho, e também comemorou o resultado da ação. “Muitos voluntários chegaram junto hoje! Alguns com comida e água, outros com força de trabalho e muita disposição! Felizão de encontrar essas pessoas e remover o óleo”, publicou. 

Somente no Rio Pojuca, os voluntários recolheram três sacos de mil litros contendo o material contaminante, conforme informações de Sehbe. “É a região mais crítica que identificamos entre as que fomos. Não fizeram barricada na foz e infelizmente entrou óleo. Como a lua está cheia, isso interfere na amplitude da maré, que entrou com força no rio”, contou ele, que também é especialista em soluções ambientais. 

No mutirão, os voluntários observaram que da Praia de Buracão, no Rio Vermelho, até Itapuã as manchas são poucas e pequenas. No entanto, de Itapuã para cima, a quantidade aumenta. Segundo o organizador, na região de Itapuã não foi encontrada nenhuma mancha maior que 30 cm. O lamaçal de petróleo engrossa logo depois, a partir de Stella Maris, onde o grupo retirou cerca de 100 kg de óleo. A ação por lá foi coordenada pela bióloga e professora de surf Carla Circenis, que contou com quase 100 pessoas.  (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO) Resgate No domingo, justo na hora da saída do grupo, cerca de 30 tartaruguinhas eclodiram de um ninho. No dia anterior, a equipe já havia encontrado uma pequenina morta, toda enlameada com o óleo tóxico. “Nós vimos e notificamos o Tamar, mas deixamos as vivas irem para o mar porque já tínhamos feito uma limpeza”, disse. 

A bióloga contou ainda que percebeu uma diferença entre sábado e domingo, dia em que as manchas começaram a aparecer mais fragmentadas. “Quando estão mais espalhadas, a coleta é mais difícil. Pedaços pequenos confundem-se no meio de algas, folhas, sementes”, alerta. O grupo identificou também pedaços dentro da água, que foram removidos com a ajuda de peneiras. “A gente não pode parar de fazer esse movimento, precisamos nos unir e tornar uma prática dos próximos dias, ir vendo e coletando. É o mínimo que nós podemos fazer, mas que faz diferença”, concluiu.

O resultado da onda de união desse fim de semana pode estar no dado que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) divulgou ao meio-dia deste domingo (13): Em Salvador, dentre as sete praias divulgadas, só a Praia de Placaford estaria afetada por óleo. No entanto, o órgão ressalta que esse dado é dinâmico, assim como o mar, e que a vigilância tem que ser constante. “A gente passa que só uma praia está afetada, mas até o fim do dia podem ser duas, três. Estamos em mobilização contínua com os órgãos para identificar e dar as providências”, afirmou Rodrigo Alves, superintendente do Ibama.

Arthur Sehbe diz que novas mobilizações serão feitas, ainda sem data, mas que as pessoas podem fazer suas próprias organizações. “O povo tem que se sentir guardião do nosso patrimônio. Tem gente que não sabe a gravidade do que está acontecendo e uma coisa maior ainda pode vir”, alertou. 

Banho de mar Para quem deseja tomar o sagrado banho de mar, o esquema é evitar as áreas afetadas. Foi exatamente o que fez a revendedora Viviane Conceição, que não quis passar o domingo em casa e saiu de Fazenda Grande para curtir a Praia de Jaguaribe com a família. “Eu fiquei assustada quando vi as fotos, mas aí eu pesquisei e vi que essa daqui não tinha sido atingida, então trouxe os pequenos”, contou ela, que foi ao local com o filho Vinícius, de 5 anos, e outros dois pequenos, Kauê, 10, e Davi, 11. (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO) Ainda conforme Rodrigo Alves, do Ibama, o Comando Unificado de Incidentes criado justamente para a causa do óleo está coordenando as atividades. As instâncias de administração municipal ficaram responsável pela limpeza das praias e orientação da população. Enquanto isso, o estado ajuda com logística, equipamentos e fatores que não são apenas ambientais, como as questões da comunidade pesqueira e do trade turístico. Por fim, o Ibama fica com o olhar macro, com articulação e coordenação nacional de monitoramento e estratégia de ação.

Nesta segunda-feira (14), o vice-governador da Bahia, João Leão, assinará um Decreto Estadual de Emergência para liberação de recursos para os municípios atingidos por manchas de óleo no litoral. O ato acontecerá às 14h, na Governadoria.