Operação no Jacarezinho é a mais letal da história do Rio e repercute no exterior

Especialista classificou ação que deixou pelo menos 25 mortos como 'desastrosa'

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  • Da Redação

Publicado em 6 de maio de 2021 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Joel Luiz Costa/Twitter

A operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro no Jacarezinho, zona norte da capital fluminense, contra o tráfico de drogas na região, acabou se transformando num massacre e mais uma mancha na imagem do país com repercussão internacional.

Até as 15h45, quando a operação iniciada pela manhã ainda continuava, eram pelo menos 25 mortos, já aparecendo como a ação policial mais letal da história do Rio, seguno levantamento feito pelo G1, com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado.

Um dos mortos foi o policial civil André Leonardo de Mello Frias, da Delegacia de Combate à Drogas (Dcod). Segundo a Polícia Civil, os outros 24 assassinados são suspeitos de integrar o crime organizado, embora as identidades ou circunstâncias das mortes ainda não tenham sido reveladas.

Ao G1, o sociólogo Daniel Hirata, do Geni/UFF, classificou a operação como inaceitável e disse que é mais grave do que chacinas como a de Baixada Fluminense, em 2005, ou a de Vigário Geral, em 1993.

“Foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa. (...) É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave”.

Segundo moradores, a ação se tornou mais violenta após a morte do policial, tornando-se “incontrolável”.

Outros dois agentes foram baleados e dois passageiros do metrô ficaram feridos após serem atingidos dentro de uma composição.

Repercussão internacional O massacre na favela carioca, rapidamente, repercutiu na imprensa internacional. Veículos britânicos como o The Guardian, BBC, The Independent, The Sunday Times e o argentino La Nación noticiaram o ocorrido.

"Os tiroteios feriram dois passageiros do metrô, que circula na superfície daquela parte da cidade, afirmam as reportagens, que mostram pacientes sendo atendidos na plataforma", escreveu o jornal argentino La Nación.

O Guardian classificou a ação como uma carnificina. "Fotografias e vídeos feitos pelos moradores e compartilhados com o jornal mostram cadáveres ensanguentados espalhados nas estreitas vielas da favela e ao lado do rio poluído que dá nome ao Jacarezinho", diz a reportagem. 

Os jornais também destacaram as imagens aéreas que mostram suspeitos fugindo da polícia pulando de laje em laje pelas casas da favela, divulgadas pela TV Globo.

Em nota, a Polícia Civil disse que fez uma operação contra o crime organizado e que comunicou o Ministério Público sobre a ação, como determina o Supremo Tribunal Federal (STF).

Letalidade policial no STF Na tarde desta quinta, após a repercussão do massacre, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu pautar para o próximo dia 21 o julgamento de recurso do PSB sobre a elaboração de um plano de redução da letalidade policial. 

O ministro colocou o tema em discussão no plenário virtual da Corte. Desde junho do ano passado, o STF suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em "hipóteses absolutamente excepcionais", com o Ministério Público sendo avisado. Com informações do Uol, G1 e Estadão Conteúdo.