Operação para reboque do Monte Serrat deverá ser concluída nesta terça (16)

Com risco de afundar, Monte Serrat e Ipuaçu apresentavam riscos ao ecossistema local

Publicado em 16 de abril de 2019 às 06:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Lona tem mais de uma tonelada (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Depois de anos definhando na Marina de Aratu, em Simões Filho, a rota das embarcações Monte Serrat e Ipuaçu, que, por décadas, serviram ao sistema ferryboat, parece que, finalmente, vai chegar ao destino final. A empresa SS Comércio de Metais deu início ao processo de remoção dos ferries do píer, onde corriam risco de afundar e causar danos imensuráveis ao ecossistema marinho na Baía de Aratu. 

O primeiro passo foi o processo de envelopamento do Monte Serrat que deverá ser concluído nesta terça-feira (16). A embarcação está há mais tempo parada – só na marina, são 15 anos de espera. A lona, que tem 22 metros de largura, 80 metros de comprimento e pesa mais de uma tonelada, foi fabricada para cobrir todo o casco do ferry. 

O fato de os barcos estarem em um local estreito dificultou a envelopagem nessa segunda (15). Além da lona, existem seis bombas que devem impedir que a água do mar entre na embarcação.

A retirada dos ferries começa a acontecer pouco mais de dois meses após o CORREIO mostrar os riscos de naufrágio e as condições dos dois barcos. Até quinta-feira (18), a previsão é que os navios tenham sido rebocados para Porto da Laje, também em Simões Filho, onde poderão ser cortadas para reciclagem em siderúrgicas. 

Para garantir que não aconteçam danos ambientais durante o trajeto, a SS Comércio de Metais precisou contratar a empresa Aratu Serviços Marítimos (ASM), além da assessoria jurídica do advogado Zilan Costa e Silva, especialista em direito marítimo. O processo foi inspirado em grandes operações de 'salvatagem' – a exemplo de quando navios batem no meio do mar e precisam ser retirados. “É a primeira vez que uma operação dessas é feita no Nordeste e é possível que seja até a primeira vez no Brasil, dessa forma. A gente simplificou o processo de salvatagem”, explicou o advogado Zilan Costa e Silva.  Ainda que a operação seja inédita no estado, ele garante que a remoção será segura. O Monte Serrat chegou à Marina de Aratu em 2004, três anos após o Gal Costa, que já estava atracado no local. O segundo, porém, foi vendido e cortado em 2010. Já em 2014, foi a vez do Ipuaçu, que está em melhores condições. 

A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) lançou o leilão dos dois em agosto do ano passado, mas os resultados só foram homologados em 23 de outubro de 2018. Quem arrematou foi justamente a SS Comércio de Metais, por R$ 117 mil.  Cerca de 10 pessoas participaram da operação de envelopamento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Cronograma  Inicialmente, a previsão de remoção era o dia 10 de abril. No entanto, de acordo com a empresa dona dos ferries, para maior segurança na operação e devido à necessidade de mais dois dias para fazer a limpeza completa de poluentes do barco, o procedimento foi reagendado.

Desde que o CORREIO esteve nos ferries pela primeira vez, no início do ano, os resíduos de óleo das embarcações foram retirados, assim como parte dos revestimentos de plástico da área de passageiros e das cadeiras quebradas que estavam nos barcos. Boa parte dos materiais continua, em grandes sacos, nos barcos. A previsão é tudo seja retirado antes de saírem. “Os ferries serão rebocados um de cada vez”, adiantou o gerente de Engenharia da ASM, Laurent Couvignou, nas primeiras horas da manhã dessa segunda-feira. Primeiro, irá o Monte Serrat – todo envelopado pela lona. “Essa lona é impermeável, resistente, com dimensões que não são muito comuns. É como se fosse uma membrana envolvendo o ferry”, completou Couvignou. Sem motores, ele será puxado por um navio rebocador. 

O percurso entre a Marina de Aratu e o Porto da Laje deve durar entre uma e duas horas. Em seguida, se tudo correr bem, será o momento do Ipuaçu, que não vai precisar ser envolto por nenhum material. Essa retirada propriamente está programada para começar nesta terça-feira (16) se as condições climáticas permitirem. É importante que não haja chuva e que a maré esteja vazante. 

Se isso não acontecer nos próximos dias, a retirada pode ser remarcada para a próxima semana. “Não é bom fazer isso em finais de semana, nem em feriados, como teremos agora, porque a marina fica mais cheia. É ruim tanto para a gente trabalhar quanto para quem vem”, afirmou o engenheiro. 

De acordo com o representante da empresa responsável pela lona, Raimundo Isami, a lona foi produzida em cinco dias pela companhia Sansuy, que fica em Camaçari. Trata-se de uma lona sintética confeccionada em tecido de poliéster. Dos dois lados, ela ainda é revestida por uma camada de policloreto de vinila (PVC). “O próprio serviço que eles estão fazendo é algo inédito. Como fabricantes, a gente tem condições de fazer lonas para qualquer tamanho, tanto que a empresa teve alguns projetos no Sul (do Brasil). Mas tinham outro desenvolvimento, eram de outra forma. Esse agora é um projeto inédito”, afirmou Isami. Além da lona, existem seis bombas que devem impedir que a água do mar entre na embarcação.  Processo de remoção deve ser concluído até quinta (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Prejuízo  De acordo com o advogado Zilan Costa e Silva, a empresa SS Comércio de Metais, que é representada por ele, deve ter prejuízo. Todo o processo de retirada – incluindo a consultoria, o planejamento, a limpeza das embarcações e o próprio valor pago no leilão – deve custar aproximadamente R$ 1 milhão. 

A tendência é que isso supere o lucro que a empresa teria caso vendesse todo o ferro cortado e derretido da estrutura dos navios.“Talvez eles consigam zerar (não ter prejuízo), mas provavelmente vai ter. Eles eram uma empresa especializada em sucata. Não tinham experiência nenhuma nessa área. Não imaginavam que seria tão complexo”, ponderou. A remoção precisa obedecer a normas nacionais e internacionais – mais especificamente, a Convenção da Basileia, assinada na Suíça, em 1989, que trata sobre o gerenciamento e o transporte adequado de resíduos perigosos para o meio ambiente. “Mexer com mar não é algo para amador. Mas é preciso fazer isso (a remoção dessa forma) ou pode dar até cadeia, fora os processos criminais e cíveis”

O Ibama, que faz parte do Plano de Área da Baía de Aratu, informou que os ferries só devem sair da marina após a autorização do órgão. Por isso, quando os dois estiverem totalmente prontos, servidores devem fazer uma última vistoria nos navios – o que pode acontecer até mesmo nesta terça. 

Segundo o Ibama, até o momento, a empresa tem cumprido a notificação do órgão. Se descumprisse, poderia pagar uma multa que vai de R$ 1 mil a R$ 1 milhão. 

Quanto ao método de remoção da estrutura, ele afirma que não houve oposição dos órgãos ambientais – além do Ibama, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) também acompanha a situação. 

Entenda a cronologia da situação dos ferries 2004 – Monte Serrat é levado para a Marina de Aratu, em Simões Filho, após sair de operação do sistema ferryboat. Com capacidade para 50 carros e 800 passageiros, ele fez a travessia por aproximadamente 30 anos.  Na época, ainda pertencia ao governo do estado. 

2014 – Ferry Ipuaçu é levado para a marina, onde o governo do estado pagava aluguel pelos dois navios. O Ipuaçu, com a mesma capacidade do Monte Serrat, atendeu ao sistema ferryboat por 25 anos. 

Agosto de 2018 – A Agerba publica o edital para o leilão das sucatas das duas embarcações no Diário Oficial do Estado (DOE). 

Outubro de 2018 – No dia 23, o leilão foi homologado. A empresa SS Comércio de Metais tinha arrematado as embarcações. 

Novembro de 2018 – O prazo para a retirada dos ferries era de 30 dias corridos após o primeiro dia útil depois do leilão. 

Dezembro de 2018 – Durante uma falta de energia que durou 20 horas, as bombas que lançavam água do mar para fora dos barcos parou de funcionar (a água entrava pelos buracos dos cascos). Especialistas ouvidos pelo CORREIO estimaram que, se a falta de luz demorasse mais quatro horas, o navio poderia ter afundado naquele mesmo dia. 

24 de janeiro de 2019 – O Ibama fez uma vistoria nas embarcações e constatou que havia óleo no local. 

10 de fevereiro de 2019 – O CORREIO publica uma reportagem mostrando a situação dos ferries na Marina de Aratu. 

26 de fevereiro de 2019 – Após uma reunião com representantes do Ibama, Capitania dos Portos, Inema, Procuradoria Geral do Estado (PGE) e o proprietário das embarcações, ficou decidido que os dois barcos devem ser removidos da Baía de Aratu até o dia 30 de abril. Todos os resíduos tinham que ser removidos até o dia 10 de abril, todos os resíduos - inclusive de óleos.

10 de abril de 2019 – Data prevista para iniciar a remoção. O procedimento precisou ser reagendado devido ao mau tempo. 

15 de abril de 2019 – Ferry Monte Serrat começa a ser envelopado para ser levado a Porto da Laje. 

18 de abril de 2019 – Previsão de conclusão da retirada dos ferries da Marina de Aratu.