Os desafios do ESG no Brasil

Para especialistas, sucesso dessa agenda passa por evitar reducionismos e ideias equivocadas

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  • Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2022 às 06:00

. Crédito: Foto: Roberto Abreu

As políticas e práticas de ESG só podem ser feitas por grandes empresas? Basta que a organização tenha iniciativas ambientais? Estes são alguns dos principais mitos que precisam ser evitados segundo a avaliação de especialistas em governança corporativa e investimentos responsáveis que estiveram presentes no I Fórum ESG Salvador, realizado na quinta-feira (12), no Porto Salvador.

Para o sócio-fundador da Fama Investimentos, Fabio Alperowitch, vencer uma certa dicotomia é um dos desafios da agenda ESG no Brasil. “É a falácia de que a empresa será sustentável ou rentável. É perfeitamente possível se desenvolver e ter retorno financeiro, mas, ao mesmo tempo, adotar práticas responsáveis”, defendeu.

Outra concepção que precisa ser combatida, na visão de Alperowitch, é de que apenas as grandes corporações podem investir em ESG. “Há centenas de atitudes simples que podem ser adotadas por empresas pequenas e que não são custosas, como incentivar o uso de transporte público e disseminar informações de combate ao racismo entre os funcionários, entre inúmeras outras.”

Autor do livro “Introdução ao ESG”, o consultor e professor Augusto Cruz considera fundamental que o tema seja liderado pela alta direção das empresas. “Consiste no conjunto de decisões destes executivos em adotar boas práticas de geração de valor, inserindo em seu direcionamento estratégico os temas relacionados a mudanças climáticas, meio ambiente, erradicação de pobreza e redução das injustiças sociais”, ressaltou.

MATRIZ DE MATERIALIDADE Nesse sentido, Cruz considera igualmente importante ouvir os stakeholders (desenvolvendo pesquisas) e praticar matriz de materialidade. Um exemplo é utilizar relatórios e indicadores como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. “Não dá para fazer ESG somente no ar-condicionado do escritório. É preciso ir para a rua”, reforçou. O consultor também observou que a sociedade não tolera mais a prática de brandwashing, quando as empresas apenas fingem que praticam ações ambientais, sociais e de governança.

O coordenador-geral do Núcleo Bahia do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Albérico Mascarenhas, destacou que a empresa que tem boa governança dá conforto aos acionistas para investirem mais e ainda estimula os funcionários, que veem um propósito da organização para com a sociedade.

“Uma empresa não pode, simplesmente, pensar apenas no lucro, sem se envolver com os problemas da sociedade, das comunidades onde ela está inserida. É necessário ter responsabilidade social tanto interna quanto externamente”, apontou Mascarenhas. Para o coordenador do IBGC, há organizações que já praticam o ESG no dia a dia, mas desconhecem que o fazem.

IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE Muito atrelada ao “S” de “Social” e ao “G” da “Governança”, a diversidade exerce um papel crucial quando se fala em ESG. O head de Políticas Públicas do iFood, Felipe Daud, afirma que a empresa trabalha para levar oportunidades priorizando parceiros e familiares que vivem em áreas periféricas.

“Temos como meta aumentar para 50% o número de mulheres em cargos de liderança e 35% em alta gestão até 2023, e alcançar 30% de pessoas negras em postos de chefia. Além disso, projetamos zerar toda a poluição das nossas entregas até 2025”, afirmou Daud. “Alimentar o futuro do mundo é o mote e política de ESG do iFood. Fazer a comida chegar aos nossos consumidores da forma mais sustentável, saudável e rápida possível”, completou.

FAVELA É INOVAÇÃO Tecnologia e inovação foram temas da palestra de Paulo Rogério Nunes, cofundador do Vale do Dendê, empreendedor e consultor em diversidade. Ele destacou exemplos de sucesso que foram desenvolvidos pensando o ESG, dentro e fora do Brasil e afirmou que é necessário pensar em saídas para os problemas do dia a dia a partir de medidas inovadoras e inclusivas.

“É necessário mudar o olhar construído sobre as favelas como local de violência e perceber que elas também são fontes de inovação”, defendeu Nunes, que é autor do livro “Oportunidades Invisíveis”. Ele citou o exemplo da Bicipreta, coletivo de mulheres negras de Salvador que desenvolveu um capacete ergonomicamente pensado para cabelos afros e uma bicicleta criada para moradores de morros e baixadas.

RELAÇÃO ÉTICA Liderança baiana no processo de elaboração da ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, o presidente do Conselho de Sustentabilidade da FIEB, Jorge Cajazeira, observou que, a partir de 2019, a procura no Google pelo termo “ESG” cresceu muito mais em relação a busca pelas expressões “desenvolvimento sustentável” e “responsabilidade social”, fator que ajuda a reforçar o interesse mundial sobre o tema.

“Costumo dizer que, ao contrário do que muitos têm difundido, ESG não é sinônimo de sustentabilidade, apesar da convergência em vários aspectos. Tem muito mais a ver com estratégia de negócios e resultados. Você tem que ter uma relação ética com os seus stakeholders”, reforçou Cajazeira.

O I Fórum ESG Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Unipar, Yamana Gold, Bracell, BAMIN, Socializa e Suzano, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e Sebrae, apoio de Contermas, Battre, Termoverde, Terra Forte, Hela, Retec, Ciclik, Larco, Grupo LemosPassos, Fundação Norberto Odebrecht e Hiperideal, parceria de Vini Figueira Gastronomia, Fernanda Brinço Produção e Decoração, Uranus2, TD Produções, Vinking e Suporte Eventos.

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