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Os dias que fizeram do Campo da Pronaica o ponto de encontro oficial de Cajazeiras


 

Prefeitura vai revitalizar espaço, que terá quadra de grama sintética e quiosques

  • Gabriel Moura

Publicado em 06/11/2019 às 06:00:00
Atualizado em 06/05/2023 às 22:55:05
. Crédito: Foto: Almiro Lopes / Arquivo CORREIO

Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO Dizem que Cajazeiras é tão grande que, na verdade, seria outra cidade dentro de Salvador. “Que cidade que nada! Cajacity é o meu país”, corrigem os moradores mais orgulhosos, com o devido alarido patriótico.

Dando razão aos cajazeirenses emancipacionistas, de fato a aglutinação de 14 bairros possui muito do que se faz necessário para forjar uma nação independente. Mas faltava, lá no início da tomada de território, um local para aglutinar seu povo durante eventos cívicos, políticos e, principalmente, culturais, e esse papel não tardou em ser conferido ao Campo da Pronaica, localizado no décimo distrito.

Durante os anos, o 'Maracanã de Cajazeiras' (embora a ausência das arquibancadas e gramado, que estão para virar realidade) recebeu muitos eventos importantes. Discursos de presidentes, shows e carnavais que, não raro, fazem a nata local, e alguns forasteiros, lotarem o espaço.

Nesta quarta-feira (6), um dia após o prefeito ACM Neto anunciar a requalificação do local, com investimento de R$ 2,5 milhões, reunimos cinco momentos em que o Campo da Pronaica extrapolou as fronteiras cajazeirenses.

Pronaica? Mas antes de relembrar os momentos de fama, precisamos explicar a origem do seu nome peculiar. Se a localização e existência das Cajazeiras 1 e 9 são grandes mistérios que cercam a região, a origem do Pronaica é menos enigmática. 

Em 1993, o presidente Fernando Collor de Mello instituiu o Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente, cuja abreviatura empresta o nome ao campo. Entre vários objetivos, o programa do ex-presidente tinha como ideia promover atividades esportivas para os jovens.

O recinto foi criado justamente como parte do projeto e, mesmo com o fim do dito cujo, a nomeação perdura.

Oi oi oi O que Dilma Rousseff, Avenida Brasil e o Campo da Pronaica têm em comum? Um rolé aleatório ocorrido no dia 19 de outubro de 2012. Naquele dia, os eleitores soteropolitanos ainda decidiam em que lado ficariam tanto na disputa “ACM Neto x Nelson Pellegrino” quando no embate “Nina x Carminha”.

Isso porque era a reta final da trama de João Emanuel Carneiro, que ocorria durante a campanha do segundo turno das eleições municipais daquele ano. O último capítulo da novela aconteceu, justamente, no dia em que a então presidente Dilma foi ao Campo da Pronaica fazer um comício em apoio ao candidato petista.

“Boa noite, Cajajeiras é uma emoção muito grande estar aqui (...) em Cazazeiras, Cajajeiras... Ca-ja-zei-ras”, confundiu-se Dilma no início do seu discurso, ainda se acostumando com a alcunha digna de trava-língua.  Foto: Arquivo CORREIO A ex-presidente falou por apenas 10 minutos. Tinha que ser ligeira. O povo que compareceu ao ato político não tirava o olho do relógio, estava ansioso para saber quem matou Max.

Cientes do desejo do povo, os petistas instalaram um telão para a exibição do último capítulo. Já o discurso terminou pontualmente às 21h, com o povo podendo acompanhar a vingança de Nina, que em breve será reexibida no Vale a Pena Ver de Novo.

Cadê as Cajazeiras 1 e 9? Uma existiu, e a outra não foi sequer construída. O mistério acaba aqui

Encontro de gigantes O Gigante Léo Santana deixou o Parangolé nos idos de 2014. Para iniciar a sua carreira solo, o cantor precisava de um local tamanho GG e não havia lugar melhor para o seu primeiro show que Cajazeiras, onde tudo é dito no superlativo. 

E o carinho do cantor com o bairro e o campo já vem de outros carnavais. "Minha relação com Cajazeiras é a melhor possível. Tenho vários fãs e amigos de verdade que moram aqui. E uma coisa que poucos sabem, ainda quando ninguém me conhecia eu fiz show aqui mesmo no Campo da Pronaica com a banda Pegadha de Guettho, e também já me apresentei com o Parangolé aqui. E agora como carreira solo, não tinha que ser em outro lugar", disse ele, antes de se apresentar. Foto: Tainara Ferreira / Arquivo CORREIO Foram quase 18 mil pessoas reunidas na ansiedade para assistir a apresentação de Léo, que animou o público com músicas como 'Estilo LS' e 'Tome Amor', alguns dos primeiros hits da carreira solo do artista. 

Pronaica é o campo da virada Todo campo já foi palco de viradas no futebol, mas poucos podem se orgulhar de terem recebido uma de ano. É o caso da Pronaica, que entre 2018 e 2019 foi um dos espaços oficiais do Reveillón. 

Com direito a queima de fogos de oito minutos, os cajazeirenses que não quiseram migrar para a 'vizinha' Salvador para curtir a virada de ano puderam se juntar e curtir o som de Batifun, Kirybamba e Márcia Short.

We are Carnaval Claro que não poderia faltar a festa mais popular entre os baianos. Sem trios elétricos, mas com um palco, o Campo da Pronaica também foi sede do Carnaval de Cajazeiras este ano. Dezenove atrações dos mais variados estilos se revezaram em quatro dias de folia. Os principais nomes que animaram a galera foi La Fúria, Sarajane, Adão Negro e, de novo ela, Márcia Short. Sarajane abriu a roda e enlargueceu o Campo da Pronaica (Foto: Divulgação) Parada LGBT Se na hora de curtir, todos os caminhos levam ao Campo da Pronaica, o local símbolo de todos os moradores do bairro-nação também é um dos mais inclusivos.

Por isso que o espaço é a apoteose da Parada da Diversidade de Cajazeiras. O chamado Circuito Assis Valente, compositor homossexual baiano autor de 'Brasil Pandeiro' e outros clássicos, começa na Rótula da Feirinha e não poderia ter um outro destino, a não ser o próprio 'Distrito Federal' dos cajazeirenses, que também já viveu dias de pura animação febril com shows de Daniel, Bell Marques, Saulo, Psirico, entre tantos outros grandes nomes da música.

*Com orientação da editora Mariana Rios.