Os doidões da pandemia (ou: teoria bacteriológica da conspiração chinesa mundial)

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 31 de maio de 2020 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Exausta de lavar sacos de feijão, com a mão toda desgraçada de água sanitária, sem coragem pra botar o pé na porta e cada vez mais assustada com os números da pandemia no Brasil, decidi estudar e teoria da galera que não mudou a vida em nada, por causa de coronavírus nenhum. Fui despida de preconceitos, querendo me entregar, louca para ser seduzida e quem sabe já marcar uma aglomeração pra esse fim de semana, ainda. Eu queria a possibilidade de encarar os fatos de outra maneira, me libertar desse medo, relaxar um pouco que fosse. Quem sabe até sair desse isolamento que já dura quase três meses, dar um mergulho no Porto da Barra e, depois, abraçar meus pais de consciência tranquila porque, inclusive, eu poderia conquistar e certeza de que temos remédio, para o caso de a gripezinha agravar. A indicação de uma conhecida não me fez recuar: chá de boldo, como prevenção. Acredito em folhas, tanto que temos várias no quintal da família. Vai ver, sobre o boldo, preciso apenas ler mais. Anotado: "pesquisar". Mas comecei a achar estranho quando minha irmã - às gargalhadas - disse que estão gargarejando com água morna pra "matar o vírus", na garganta, afirmando que, assim, de lá ele não passa. Não gosto de galhofa com a fé alheia, mas também dei umas risadas para, em seguida, refletir sobre o quanto faz mesmo falta uma educação básica de qualidade. Aos sete anos, eu já saberia que essa ideia daí é furada. Porém, respirei e segui na minha pesquisa. Ainda não tinha material suficiente para concluir nada. Passo seguinte: procurei o perfil de um ex-peguete cujo nome não entrego por dinheiro nenhum. Não por nada, mas digamos que só peguei mesmo porque estava precisando, na ocasião. Isso, um número de vezes suficiente para conhecê-lo a ponto de deduzir que ele, atualmente, seria um desses tipos que aparecem dando faniquito na televisão, tentando entrar sem máscara, em algum supermercado. A causa era nobre e fui procurar, nas redes sociais. Dito e feito. Achei a teoria toda lá. Posts abertos, pouquíssimos comentários. Agora, devo aparecer como "sugestão de amizade" pro cabra. Paciência. É o preço a pagar pela investigação. Encontrei o caminho, mas a verdade e a luz ainda faltavam. Vamos ao conteúdo. Passei horas lendo e vendo vídeos, enquanto a madrugada avançava. Abri uma garrafa de vinho, inclusive, pra deixar a mentalidade mais disponível e vulnerável. Eu estava disposta, de verdade, a entender essa viagem, mas tive muitas dificuldades. O lance de que o vírus é bactéria mesmo, foi um grande obstáculo. O texto se chama "Acabou" e dá conta de que, por descumprirem a recomendação chinesa de não fazerem autópsias nas vítimas, "médicos" (quais, meu deus do céu?) descobriram que o coronavírus é, na verdade, uma "coronabactéria" que qualquer remedinho mata. Lá eles garantem que, por isso, estamos todos salvos. Velho, aí abalou demais a credibilidade. Mas não era "só apenas isso". Eles acreditam mesmo em funerais com caixões cheios de pedras (as famílias chorando devem ser contratadas), em emergências vazias (minha gente, alas para Covid-19 são separadas!), em falsos diagnósticos de Covid-19 em massa (segundo eles, periga ganhar um até por pé quebrado), a na ideia de que a China quer matar todo mundo (oxe, mas o vírus não é fraco?) ou os CNPJ do mundo todo pra comprar tudo e reinar sozinha no planeta. Tinha mais coisa, porém desisti por não conseguir pegar o fio da meada. Não entendi se eles acham o vírus letal ou não, se é pra sair de casa e morrer ou se não precisa de isolamento porque o vírus (ou bactéria, né?) não faz mal. Eu sei que terminei a garrafa de vinho ainda sóbria, de tanto exercício mental. Conclusão é que sigo em isolamento, sendo "covarde" (é assim que eles chamam quem fica em casa) e matando os vírus todos com água sanitária. Nunca mais procuro saber desse povo. Não tenho condições de acompanhar. Vamos de OMS mesmo e de lives de Atila Iamarino, claro. Agora só tô aqui rezando pro ex-peguete não reparar que apareci no Facebook dele e tentar me encontrar pra explicar melhor a teoria bacteriológica da conspiração chinesa mundial.