Os jangadeiros do Rio Vermelho

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  • Nelson Cadena

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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As dunas da foz do Rio Lucaia por quase um século foram o cenário das festas do Rio Vermelho. Do alto do areal, o público assistia a romaria marítima dos jangadeiros em homenagem a Nossa Senhora de Santa’Ana, realizada em 02 de fevereiro, ou em outras datas variáveis do mesmo mês. As dunas desapareceram com a terraplanagem que deu origem à Praça Colombo, dentre outros espaços do bairro. Às margens do rio lapidavam-se diamantes, extraídos, provavelmente, da Chapada.

Jangadeiros foram protagonistas das festas do Rio Vermelho desde suas origens, supostamente em meados da década de 1820, segundo uma lenda que encaixa as peças (uma santa, um milagre, uma promessa e a Guerra da Independência) para justificar uma narrativa. Perderam protagonismo para os veranistas - a aristocracia baiana - que se apropriaram do evento, reconfiguraram os rituais e relegaram os pescadores ao papel de figurantes de uma romaria programada para a melhor data de conveniência.

Com a quebra do “pacto” entre a Igreja Católica e os pescadores, a tensão originada pela oratória do pároco da Igreja, que depreciativamente qualificou Iemanjá com o “mulher com rabo de peixe”, nasce a festa da Rainha do Mar, conhecida como Mãe D’Água, naquele tempo. Mas, que demorou três décadas para se consolidar e se sobrepor à festa da avô de Jesus. O culto a Iemanjá nasceu sincretizado, tanto que foi escolhida para sua celebração o 2 de fevereiro, data da Purificação de Nossa Senhora em todo o mundo ocidental, na Bahia representada por Nossa Senhora Das Candeias, Nossa Senhora da Purificação, Nossa Senhora da Luz...

Como era a festa original dos jangadeiros? O Rio Vermelho era então aldeia de pescadores com casas de taipa e cobertura de palha que de tão cumprida beirava o chão. Em volta das choupanas se viam toldos de velas, rolos de madeira para arrastar as jangadas, tarrafas, cabazes e remos. A maioria das choças se alinhavam em volta do Largo de Sant’Ana e poucas, muito raras, no largo de Mariquita. Esse era o cenário da procissão marítima que o jornal Correio Mercantil publicitou em 1841: “Os encarregados da Romaria dos Jangadeiros.... fazem público que no dia 2 de fevereiro... sairá o bando de mascarados anunciando a festividade que ali terá lugar no dia 07 próximo”.

O Bando Anunciador foi descrito pelo cronista Antônio Garcia em revista do IGHB (1948) e antes disso na Revista do Brasil, em 1909, três anos após a proibição da Romaria dos Jangadeiros, por interferência da igreja junto aos organizadores das festas e que parece foi restrita a esse ano específico. Segundo Garcia, à noite, surgia um cortejo religioso portando a imagem da santa, ladeada de lanternas (espécie de tochas), a procissão parava de casa em casa, os moradores beijavam a imagem e depositavam um donativo. Slguns serviam peixe ou mariscos.

Pela madrugada, os jangadeiros deitavam as jangadas sobre os rolos e as enfeitavam com ramos para a procissão marítima que devia ocorrer mais tarde. Na Praia da Mariquita armava-se um arco de palmas entrelaçadas para a partida e chegada da romaria, cujo percurso ia do local referido até o Largo de Sant’Ana. Ida e volta. A Banda dos Chapadistas, de escravos libertos, conduzia o cortejo por terra. No dia seguinte, a noite era das Cheganças e Marujadas e quando os veranistas chegaram para reconfigurar os festejos, na década de 1860/70, das Cavalhadas, com cavalheiros exibindo lindos corcéis e a sua habilidade no enlaçamento das argolas.