Os melhores filmes de 2019 segundo o jornalista Saymon Nascimento

Senta que lá vem...

  • D
  • Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 08:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

1 - Em Trânsito, Christian Petzold, Alemanha. Melodrama cerebral, gélido mesmo, sobre a permanência do estado de guerra na europa e sua questão humana colateral, os refugiados. As tragédias estão sempre em loop. Sessão dupla: A Questão Humana, de Nicolas Klotz Foto: Divulgação 2 - Toy Story 4, Josh Cooley, EUA. Bonecos servindo de alegoria pros nais profundos medos existenciais do homem, ao mesmo tempo em que protagonizam uma aventura classe A, como se Bresson e Buster Keaton habitassem o mesmo filme. Sessão dupla: Luz de Inverno, de Ingmar Bergman. 

3 - Parasita, Bong Joon-Ho, Coreia do Sul. Ketchup no lugar de sangue e ataque de pêssegos. Uma virtuosa novela das sete nas quais os empregados se revoltam contra os patrões, mas dirigida pelo cineasta mais tecnicamente proficiente do mundo hoje. Acho o filme muito maior como entretenimento do que como o tratado sociológico, sinceramente. É uma aula magna de storytelling e direção, cena a cena.  Sessão dupla: Em Chamas, Lee Chang-Dong.

4 - Temporada, André Novais Oliveira, Brasil. Depuradíssimo slice of life, de uma maneira que estamos acostumados a ver só no cinema japonês. Infinitamente delicado, generoso, carinhoso - nada de muito novo, mas o afeto é tão intenso e o coração tão grande que fica uma sensação maravilhosa de oposição à misantropia que reina no cinema hoje. Interessante também como o filme se dedica a estabelecer rapidamente os laços de amizade da protagonista numa nova cidade, e de como esses laços se tornam praticamente familiares.  Sessão dupla: Assunto de Família, de Hirokazu Kore-eda. 

5 - Amanda, Mikael Hers, França. Basicamente o mesmo tom nipônico de Temporada, incluindo a relação das pessoas com as outras ao redor e de como é isso o que define o que é família - mesmo que laços de sangue já existam. Aqui o protagonista aprende a ser pai, tem a perspectiva de se aproximar da mãe afastada e voltar a ser filho e deve aprender a viver sem a irmã mais velha e mãe "de facto". Uma família é toda reconfigurada e a partir do luto. Sessão dupla: Nossa Irmã Mais Velha, de Hirokazu Kore-eda.

6 - No Coração do Mundo, Gabriel Martins, Maurílio Martins, Brasil. O mesmo afeto com os personagens dos dois filmes acima, mas com uma vontade de ser filme de gênero, de trazer os códigos de filmes de assalto para essas personagens. Assim como em Parasita, engrenagens muito maiores queas vontades pessoais cortam as asas dos rebeldes, e de forma trágica.  Sessão Dupla: A Morte de um Bookmaker Chinês, de John Cassavetes. 

7 - Sinônimos, Nadav Lapid. Filme radical sobre identidade, sobre a tentativa de autoapagamento cultural e assimilamento em outro país. Muito judaico em essência, mas ao mesmo tempo extremamente universal, como narrativa de estrangeiro.  Sessão Dupla: La Noire De..., de Ousmane Sembène. 

8 - Dor e Glória, Pedro Almodóvar. O Oito e Meio de Almodóvar, mas com letargia e depressão em vez de euforia e ansiedade. Parece já o filme-testamento de quem contempla a morte e sabe não ter mais muito tempo, mas que tem apenas a sua arte como combustível para seguir vivendo.  Sessão dupla: All That Jazz, de Bob Fosse. 

9 - Los Silencios, Beatriz Seigner.  Filme-OVNI no qual é se tenta mapear no mesmo universo as consequências de uma guerra e a crença da permanência do espírito após a morte. As almas não encontram paz enquanto não houver justiça. Parece bizarro, mas Seigner trata com todo o respeito do mundo essa espiritualidade animista da Amazônia.  Sessão dupla: Cemitério do Esplendor, de Apichatpong Weerasethakul.

10 - Bacurau, Kléber Mendonça Filho, Juliano Dornelles. Bacurau, verdadeira terra em transe. O Brasil em microcosmo, sob ataque, em estado de sítio, sequestrado, saqueado e violentado. Essa distopia permite a catarse, mas no mundo real a libertação parece cada vez mais distante. Talvez por isso o filme tenha se tornado um símbolo de esperança.  Sessão dupla: Nós, de Jordan Peele.

O grande filme que não estreou nos cinemas, mas chegou ao streaming: Fé Corrompida, de Paul Schrader. 

Um ator: Vincent Lacoste, Amanda Uma atriz: Julianne Moore, Gloria Bell.

 Saymon Nascimento é jornalista. Texto originalmente publicado no Facebook