Os novos cenários que a tecnologia molda

Frank Tyneski usa o design como meio para refazer o mundo

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  • Andreia Santana

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Marina Silva/CORREIO

Quem vive de escrever já deve ter tido esse sonho ao menos uma vez na vida: que o texto apareça na tela do computador sem que o digitador precise teclar uma única letra, basta pensar nas palavras e a escrita se materializa.

Pois Frank Tyneski, designer americano que embora tenha nascido na geração X tem alma experimental de  nativo digital, afirma que o Facebook está fazendo pesquisa para conseguir que as palavras saltem do cérebro do autor direto para o computador sem que para isso ninguém precise virar a criatura de Frankenstein e usar eletrodos esquisitos na cabeça.

“Seria por meio de imagem ótica, um dispositivo que faria um escaneamento. Mas a pesquisa ainda está avançando e por enquanto não tenho detalhes para vocês”, disse, no último dia 07, ao proferir a conferência de abertura do Seminário Humanize[se], evento de encerramento do Fórum Agenda Bahia 2018.

Segundo Tyneski - presidente da RKS Design, empresa com sede na Califórnia (Los Angeles – EUA) que desenvolve projetos arrojados tanto para startups quanto para grandes empresas -, um dispositivo que permita escrever sem usar as mãos é  um dos exemplos de ‘design generativo’, método que cria projetos através de  algoritmos, geralmente usando programas de computador e inteligência artificial.“Nos novos cenários para o futuro, engenheiros criam softwares generativos com soluções que seriam impossíveis para a máquina ou o ser humano criarem sozinhos. Mas que combinam as duas inteligências, da máquina e da pessoa”, (Frank Tyneski)De outro planeta 

Para um auditório lotado às 9h30 da manhã de uma quarta-feira, Tyneski comparou os computadores padrão, ‘passivos’ e que só fazem o que as pessoas mandam, com as novas ferramentas que o futuro trará, que não serão nada passivas:

“A tendência é a otimização dos materiais. As melhores soluções mecânicas do futuro vão parecer coisas de outro planeta, porque com o avanço da tecnologia e das possibilidades de teste e refino dos moldes, os resultados serão cada vez mais promissores”, acredita.

Promissores e acessíveis, defende o designer, completando que na corrida pela inovação não existe muita vantagem das grandes empresas em detrimento das menores, porque os dados que vão alimentar todas as novas invenções do porvir estão cada vez mais acessíveis, “embora esses dados não sejam iguais, até porque as experiências humanas não são iguais”. ...e defendeu a humanização do design Experiências humanas

Em meio às possibilidades do design generativo que reconstrói o futuro, Frank Tyneski citou ainda as ferramentas que combinam robótica e impressão 3D e que criam materiais tão perfeitos que imitam a natureza e “parecem que foram plantados e não projetados”.

O próprio ato de imprimir em 3D em escala industrial, que já chegou a custar US$ 1 milhão, com materiais que além de frágeis, eram tóxicos. Agora custa US$ 3 mil e com resultados melhores.

Nada disso, no entanto, fará muito sentido se os designers não levarem em conta as experiências humanas no processo de criação. “Não adianta criar coisas que vão assustar as pessoas. A inteligência artificial mudará a vida de forma imprevista, mas as melhores criações ainda serão aquelas que nos farão sentir e levarem em conta nossas experiências”.

Como exemplo, ele cita uma estratégia adotada por um shopping center para conter o vandalismo de adolescentes. Inicialmente, pensou-se em usar robôs para patrulhar os corredores do empreendimento. "Mas essa estratégia não tinha uma abordagem humanizada", acrescenta Tyneski.

Por fim, o shopping decidiu  tocar clássicas -  Bethoveen e Bach - cada vez que os adolescentes bagunçavam. E a garotada, então, resolveu parar de vandalizar o espaço.

"Com o design focado em emoções, a criatividade humana chegará a novos padrões", anseia Tyneski. 

Outros destaques da palestraEmoções - As soluções de design não podem ser conduzidas apenas por dados. Frank Tyneski diz que design é uma habilidade emocional 

Comportamentos - Para as empresas ou pessoas que se sentem perdidas diante da tecnologia e temem perder espaço, o especialista orienta, citando uma frase do comediante Steve Harvey: "Não odeie os atores, mude o jogo" 

Sustentabilidade - "Nossos pais queriam mais qualidade de vida para nós e nós desejamos o mesmo para nossos filhos. Mas acumular coisas não é sustentável. Precisamos de experiências imersivas".