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Ceuci Nunes
Publicado em 30 de maio de 2020 às 06:30
- Atualizado há um ano
Os sanitaristas, epidemiologistas e, mais recentemente, os infectologistas labutam com as epidemias e pandemias que possivelmente têm se tornado mais frequentes nos dias atuais. Estes fenômenos têm moldado o modo de vida da humanidade no seu caminhar pelo planeta Terra, induzindo a mudanças. No passado mais remoto, estima-se que tanto a epidemia de Peste Negra como a da Gripe Espanhola tenham matado 50 milhões de pessoas. A primeira, uma doença bacteriana transmitida por ratos, que refletia as condições sanitárias da época e a segunda uma doença viral de transmissão respiratória. Em ambas, a quarentena foi utilizada como forma de prevenção.
Belas obras da literatura clássica mundial se valeram das epidemias em suas narrativas, como o Diário de uma Peste (Daniel Defoe/1722), A Peste (Albert Camus/1947), O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Marques/1985), entre muitas outras.
Já neste século XXI, enfrentamos epidemias as mais diversas. Em 2012, tivemos uma grande epidemia de dengue que foi a que mais me impressionou até então, por sua repercussão nos serviços de saúde. Em Itabuna, presenciei o maior impacto na saúde pública que já tinha visto, com pacientes internados até na sala de mamografia, unidades de hidratação improvisadas e até hospital de campanha montado pelo exército. Isto ocorreu também em outras cidades do Brasil ao longo dos anos.
Assistimos à decretação pela OMS de seis Emergências em Saúde Pública Mundial: H1N1, em 2009; poliomielite, em 2014; ebola e zika vírus, ambos em 2016; ebola, em 2019; e COVID-19, em 2020. A decretação de emergência possibilita uma ação coordenada no enfrentamento da doença no mundo, o que reforça a importância de uma instituição como a OMS.
Das primeiras cinco emergências a que mais se disseminou e matou no mundo foi o H1N1. Um vírus de transmissão respiratória que não respeita fronteiras geográficas ou climáticas e que matou cerca de 200.000 pessoas. Embora, estas sejam características também da COVID-19, a forma avassaladora com que esta chegou, mudou rápida e radicalmente a vida da humanidade.
Não temos uma referência histórica para avaliarmos as emergências globais, uma vez que elas são recentes, entretanto percebemos o surgimento de vários vírus novos, a maioria deles de origem animal que se adaptam ao homem – as zoonoses, em um espaço curto de tempo.
Os modos de vida atuais da humanidade, como a globalização, o aumento da produção animal, o desmatamento e o aquecimento global, estão diretamente relacionados ao surgimento destas novas doenças e suas rápidas disseminações. O crescimento da população, os desmatamentos e as migrações causadas por guerras, miséria e fenômenos naturais, muitos como consequência do aquecimento global, aproximam cada vez mais os homens entre si e este dos animais, facilitando a transmissão dos vírus. Os vetores e as pessoas infectadas são facilmente transportados de uma ponta a outra do planeta por via aérea, terrestre e fluvial.
Muitas são as lições das pandemias. Somente um estado e sistemas de saúde fortes conseguem dar respostas mais adequadas a um impacto como a COVID-19. No Brasil, a existência do SUS tem conseguido minimizar as drásticas consequências da pandemia e assim mesmo de forma desigual entre os estados. Outras medidas, como o distanciamento social e a renda para os mais vulneráveis, estão sendo muito dificultadas pelo governo eleito no Brasil que tem nas suas premissas o estado mínimo. A importância do voto em projetos inclusivos e não discriminatórios é outra lição que pode ser tirada deste momento.
Revelou-se muito claramente com esta última pandemia a catástrofe de uma sociedade extremamente desigual e das formas de vida que escolhemos ao longo do tempo: o consumo desenfreado e os meios de produção que desrespeitam a natureza.
Sem a menor dúvida, precisamos de um mundo que proteja a mãe terra e que reverta as desigualdades imensas entre as pessoas e países, para não sucumbirmos enquanto espécie em outras catástrofes que virão.
Ceuci Nunes é iInfectologista, professora da Escola Bahiana de Medicina e diretora do Instituto Couto Maia
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores