Os vinhos de Itaparica

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  • Nelson Cadena

Publicado em 12 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O título é fake, o contexto nem tanto. Vamos esclarecer. Se a Ilha de Itaparica tivesse mantido a sua produção de uva - no que foi pioneira no Brasil -  de 800 arrobas por ano, volume da colheita estimada em  1760, e se o fruto colhido fosse destinado à fabricação de vinhos, produziríamos em torno de 12 mil garrafas. Não é um volume relevante numa avaliação atual, o equivalente ao de uma pequena vinícola do Rio Grande do Sul. Melhor olhar pelo retrovisor: imagine 12 mil garrafas, naquele tempo, quando a população de Salvador era estimada em 40.200 habitantes, segundo o censo informal de 1759. Seria uma produção considerável.

Estatísticas bobas, o que importa é a Ilha de Itaparica ter sido o berço da produção de uva em nosso país. Ainda no século da fundação de Salvador, segundo nos conta Raimundo  Fernandes da Silva nas suas Notas Sobre a Cultura das Videiras no Brasil, Mar Grande já possuía fazendas da fruta, iniciativa dos colonos que aqui aportaram oriundos das regiões vinícolas de Portugal. A uva de Itaparica originalmente era do tipo gorda de Leira, segundo Ubaldo Osório,   o historiador da Ilha, esclarece que já a partir do século XVII cultivavam-se outras variedades, atingindo uma produção de 800 arrobas ano como já referido, 500 colhidas na Gamboa, Ilhota e Penha e mais 300 na Ponta das Baleias.

A uva itaparicana, colhida e enviada para Salvador, não era destinada à produção de vinhos e nem poderia ser devido à legislação que proibia o consumo de bebidas alcoólicas que não fossem procedentes do Reino, salvo o aguardente de cana, quitados os devidos e altos impostos, assim mesmo proibido em alguns períodos para não afetar a concorrência. A uva era destinada ao consumo de mesa, assim como os figos e as laranjas que a ilha também produzia com fartura. No final do século XIX a uva da Ilha já sofria a concorrência da uva branca de Itiúba e Juazeiro, muito apreciada nas sobremesas.

A uva itaparicana era colhida por Francisco Ferraro, Manoel Pereira e Antônio Cardoso, os maiores produtores. A cultura da fruta chegou ao século XX com as variedades moscatel e Dêdo de Dama, em menor escala, para desaparecer por completo já na segunda metade do século com os terrenos originais das videiras sendo utilizados para o cultivo das afamadas mangas Flor de Maio, Fidalga, Jacinta, Chupa Mel e Manga da Porta, dentre outras variedades. Ferraro era estrangeiro, empreiteiro e proprietário em Salvador de algumas lojas de varejo (vendia chapéus de sol, relógios e cristais). Quanto a Antônio Cardoso é possível que seja filho, ou neto, do Coronel Pedro Antônio Cardoso que em 1815 introduziu na Ilha a máquina a vapor para otimizar a extração de cana-de-açúcar.

A história oficial registra a origem do plantio de uva no Brasil como anterior à fundação de Salvador, as primeiras mudas teriam sido trazidas por Martim Afonso de Souza e plantadas na capitania de São Vicente em 1535. É uma meia-verdade. De fato, o colonizador trouxe as sementes e promoveu o plantio. A outra meia- verdade é que não deu certo. O clima e o solo eram desfavoráveis.