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Da Redação
Publicado em 15 de novembro de 2022 às 05:00
Há seis décadas, Gilberto Gil escrevia que em terra que não há mar, seu coração também não bate. Pois mar - de gente - foi o que o público da capital baiana formou, na Bienal do Livro Bahia, para ouvi-lo falar sobre a obra literária "Todas as Letras", que compila cerca de 500 canções que deram ritmo aos seus 60 anos de carreira. >
Fazer parte do pedacinho de oceano cantado por Gil na música Beira Mar, no entanto, não foi tarefa fácil. As irmãs e professoras de inglês, Flávia Menezes, 51, e Aline Menezes, 55 anos, chegaram na Arena Jovem - espaço que sediou o bate-papo - três horas antes do início da apresentação, que estava marcada para as 17h. >
"Gil é rei, por isso, sabíamos que iria lotar. Eu não moro mais em Salvador e venho apenas passar férias, então, se até a folga coincidiu com este dia, eu jamais poderia faltar", afirmou a irmã mais velha que, além de fã do artista, é a fundadora de um grupo que há cinco anos se reúne uma vez por mês para ouvir e analisar as canções escritas por ele. Flavia Menezes - à esquerda - e Aline Menezes cresceram escutando as canções de Gil (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Não teve quem não medisse sacrifício. O vendedor Jorge Cruz, 58 anos, chegou na Bienal às 13h30, e sentou na primeira fileira, de onde não saiu nem para beber água. >
"Hoje é dia de esquecer a fome, sede ou o que mais surgir, por algumas horinhas. Gil é a trilha sonora da minha vida e a cada minuto que passa vejo que é a de muitas pessoas também, porque esse lugar não para de encher. Essa é mais uma prova do quanto o esforço de estar aqui vale a pena", declarou o admirador. >
Letrista, melodista, instrumentista, ex-ministro da Cultura, além de membro da Academia Brasileira de Letras, Gil é um dos mais sensíveis e inventivos artistas em atividade, reconhecido e admirado no mundo, por contribuir para a transformação do conceito de letra de música ao lhe dar status de poesia. >
Com palmas, cada um desses títulos foi reverenciado pelo público quando Gil subiu ao palco. Ele, por sua vez, usou sua primeira fala para agradecer a presença da multidão e o carinho que dali emanava, tão intensamente, que podia ser sentido de longe. Centenas de pessoas se reuniram na Arena Jovem para ver Gil (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Ao lado do letrista Carlos Rennó, responsável por reunir as músicas de sua carreira no livro Gilberto Gil: Todas as Letras, e do jornalista Claudio Leal - mediador da conversa -, Gil relembrou o início do seu movimento político de negritude e religião. Patuscda de Gandhi é a primeira canção e poesia com tais características que seguem em outras 74 músicas, segundo contabiliza Rennó. >
"Foi logo quando eu voltei do exílio [...]. Aí eu disse 'bom, está na hora de saber propriamente o que é o candomblé, agora que eu já tenho mais noção das minhas origens, sabendo o negro que sou e o que isso significa na Bahia, no Brasil e a importância que tem para todo o campo das vivências sociais'", conta Gil. >
Rennó, como um admirador do artista, descreve a construção do livro como a maneira encontrada por ele de homenagear Gilberto Gil e sua história. "Honrando um compositor que é muito importante na minha vida e fazendo aquilo que eu mais amo, que é letra de música e poesia", afirma o escritor. >
Na conversa que seguiu por quase uma hora e meia, Gil ainda falou sobre a situação política do país, de quando se tornou letrista e da sua "estrela que ascendeu ao céu", Gal Costa, que, além de amiga do artista, interpretou 24 canções escritas por ele. >
"A ancestralidade dela é uma coisa que transpassou nossos ouvidos e olhares. Ela fez um papel majestoso como cantora. Chegou lá e todos nós sabemos desse lugar que ela chegou e desse alcance", declarou. >
Aos 80 anos, mesmo vindo de uma geração mais velha, ao lado de Gal, Caetano e Bethânia, a continuidade de Gil reflete ainda nos mais jovens. A estudante de direito Beatriz Paula, 20 anos, assistiu admirada, ao lado de outros três amigos, às palavras ditas pelo ídolo que herdou de sua mãe. "Imortal, é o que ele é. Só agradeço a minha mãe por ter me mostrado ele, para que eu possa fazer o mesmo para os meus futuros filhos", disse. >
Programação desta quinta-feira (14)>
ARENA JOVEM 11h - Vida: Modos de contar Convidados: Carol Pires - jornalista e roteirista; Chico Felitti - repórter e Claudio Leal - mediador >
15h - O que faz bater mais rápido seu coração? Convidados: Felipe Cabral - escritor e roteirista e mediador ; Thalita Rebouças - jornalista, escritora e apresentadora; e Pedro Rhuas - cantor, escritor, jornalista e influencer>
17h - Como um clube de leitura pode melhorar sua vida Convidados: Lyssa Kay Adams - escritora e Frini Georgakopoulos - autora, editora de Aquisições, mediadora e tradutora>
CAFÉ LITERÁRIO 13h - Sessão especial Latitude 13 - Café com História para Contar Convidados: Juli Nunes - barista, sócia-gestora da Cafeteria Latitude 13 e Rafael Dantas - professor, historiador formado pela Universidade Federal da Bahia, mestre na mesma instituição >
16h - Rever um país Convidados: Carla Akotirene - escritora e assistente social; Giovana Xavier; Ynaê Lopes dos Santos; e Milena Brito - mediadora >
19h - O cordel e a cidade Convidados: Edma Góis - jornalista, crítica literária, professora e mediadora; Karina Buhr - escritora, cantora, atriz; Ricardo Aleixo - músico e produtor cultural; e Antônio Torres>
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo >