Pablo Lazo ensina o caminho para uma ‘Salvador humana’

Especialista fez palestra no Agenda Bahia 2018

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  • Andreia Santana

Publicado em 13 de agosto de 2018 às 05:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Levei dez minutos para atravessar a rua hoje de manhã. Mobilidade não é só transporte público, mas todos entenderem que as ruas são compartilhadas por todos: idosos, crianças, pedestres, carros, ônibus e outras funções. O motorista precisa saber que a rua é dele e é também do pedestre”.

Com essa advertência, Pablo Lazo, diretor da consultoria internacional Arup e conferencista do seminário Sustentabilidade do Agora,no Fórum Agenda Bahia 2018, respondeu uma  pergunta da plateia sobre como envolver os moradores de Salvador na resiliência urbana.

Desde o ano passado, a capital tem uma Diretoria de Resiliência que funciona na estrutura da Secretaria Municipal de Cidade Sustentável e Inovação (Secis).

Coordenador de projetos de resiliência na capital baiana - que também integra a rede 100 Resilient Cities, da Fundação Rockefeller -, Lazo nomeou sua conferência não à toa de ‘Salvador Humana’, uma sutil lição de como os habitantes locais podem, como ele diz, lançar “um olhar soteropolitano” sobre as desigualdades.

LEIA ENTREVISTA COM PABLO LAZO

Lazo nasceu na Cidade do México e já veio a  Salvador cinco vezes. Sua dificuldade em atravessar a rua aconteceu no Stiep, onde fica a sede da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), local que hospedou o seminário.

O conferencista tentava ir do hotel ao endereço da palestra a pé, porque segundo ele, "a rua é um espaço de convivência". Na noite anterior ao evento, percebeu, ao sair para caminhar pelo bairro, que os pedestres precisavam esperar seis minutos para o sinal fechar e só tinham  30 segundos para cruzar a pista. Suas colocações arrancaram entusiasmados aplausos da plateia. Ele espera que também tenham servido para ensinar mais acolhimento.

"A resiliência, com certeza, envolve grupos diversos", afirmou a outra pessoa do público, completando que estratégias acertadas são aquelas construídas de forma coletiva, com a  participação de todos os atores sociais.Salvador na rede 100RC

2002 - A consultoria internacional Arup começa a pesquisar a resiliência urbana. Segundo Pablo Lazo, a primeira vez que se pensou em resiliência foi depois do terremeto de 1985, que matou dez mil pessoas no México;

2014 - A Fundação Rockefeller cria o programa 100 Resilient Cities

2015 - A Arup se torna parceira da Fundação Rockefeller no 100RC e o programa chega a 100 cidades de todo o mundo

2016 - Salvador é anunciada como a terceira cidade brasileira a integrar o 100 Resilient Cities

2017 - Em Salvador, é criada a Diretoria de Resiliência da SecisConfira a íntegra da apresentação de Pablo Lazo no Agenda Bahia:

Efeito exponencial 

Pela experiência de Lazo ao coordenar projetos de resiliência em diversas cidades como Guadalajara (México), Santiago (Chile) e Santa Fé (Argentina), entre outras, as estratégias de resiliência, mesmo quando adotadas em um determinado distrito da cidade, tem capacidade de multiplicação exponencial. São como sementes que germinam e, com o passar do tempo, florescem em toda a cidade:"Uma Salvador humana, integrada, gera resiliência na comunidade" (Pablo Lazo)Um exemplo de que ter a participação da comunidade é importante - e não importa a idade dos participantes - é que entre os projetos de resiliência para Salvador existe um em andamento que envolve um grupo de crianças e suas percepções sobre a segurança da cidade. "Queremos entender a percepção de segurança a partir da experiência delas na ida de casa para a escola".

Com base em diversos olhares, sejam de crianças, idosos, jovens, trabalhadores, empresários e governantes, as estratégias para resolver as questões da cidade serão inclusivas. "É preciso usar inovação e tecnologia, mas também valorizar a inteligência urbana", afirma.

Pela lógica da resiliência, a integração dos sistemas urbanos de forma inteligente se completa com a conexão entre as pessoas. Talvez assim, o participante que se queixou do "egoísmo dos soteropolitanos" e os motoristas que não respeitam pedestres nas ruas da cidade, finalmete entendam que Salvador só terá a ganhar com um olhar resiliente que também é solidário.Cidades Resilientes

Conceito - Capacidade de uma cidade para responder, se adaptar e continuar seu desenvolvimento, apesar dos impactos agudos ou das tensões que possam surgir;

Pensamento Sistêmico - Na adoção das estratégias de resiliência, as cidades devem promover uma abordagem integrada para evitar a duplicação de esforços, simplificar o mecanismo de financiamento dos projetos e aplicar o planejamento a longo prazo;

Participação - As estratégias para resolver as tensões devem ser participativas, com opiniões diferentes sobre a questão vindas de diversos setores, de forma inclusiva.Bons exemplos de Houston, Guadalajara e Madri

Houston, no Texas (EUA),  tirou dois aprendizados dos quatro dias de inundação, em 2017, quando o furacão Harvey provocou chuvas contínuas que levaram ao transbordamento do principal rio da cidade. 

O primeiro, que a tecnologia poderia ajudar na reação aos problemas provocados pela enchente. E, o segundo, que essa mesma tecnologia tanto serviria para levantar os danos quanto para permitir o planejamento que evitaria perdas futuras.

Segundo Pablo Lazo, que trouxe o exemplo da cidade norte-americana para o público do Agenda Bahia, o governo de Houston conseguiu mapear os principais pontos de transbordamento do rio e, em seguida, executar obras de infraestrutura que corrigiram  defeitos. Lazo mostrou no Agenda Bahia o projeto da Cidade Criativa, em um distrito de Guadalajara Outro exemplo trazido por Lazo mostrou como a cidade de Guadalajara (México), transformou uma área degradada no centro da cidade, com parques abandonados e prédios  obsoletos, em um embrião de Cidade Criativa. 

Integrante da Rede 100RC e também com projetos implementados a partir da parceria entre a Arup e a Fundação Rockefeller, Guadalaja criou um consórcio público-privado que buscou, através de uma visão sustentável e inteligente, reposicionar um distrito da cidade como uma área em que as tecnologias digitais foram incorporadas à maioria dos projetos, mas sempre com foco em integrar pessoas.

Foi criado um polo de empresas do setor de games e as mudanças envolveram desde os prédios com fachadas inteligentes até ruas com sensores, passando por mobiliário urbano responsivo.

Na Espanha, outro projeto resiliente apresentado aos baianos  é o Madri - Cidade do Conhecimento, que se inspirou no Vale do Silício (EUA) e na Cyberjaya (Malásia), entre outras cidades.

O foco nesse projeto também é valorizar o capital humano, atraindo e retendo talentos com educação, cultura, lazer, respeito à diversidade e integração ao meio ambiente. Tudo isso para melhorar a qualidade de vida e, assim, permitir que uma população estimulada impulsione a economia.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Revita e Oi, e apoio institucional da Prefeitura de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Fundação Rockefeller e Rede Bahia.