Pacheco Maia: o homem que fazia a cabeça do poder baiano

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  • Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 07:02

- Atualizado há um ano

Ele tinha nome de general grego. Sua habilidade, no entanto, não estava no manuseio de espadas e lanças, mas nas tesouras, pentes e escovas. Por 60 anos, o cabeleireiro Leônidas, 76, fez a cabeça dos poderosos da Bahia. Infelizmente, o querido Léo, como era chamado pelos familiares e amigos, faleceu ontem (14). Seu sepultamento será na tarde desta quarta-feira (16), no Campo Santo. Leônidas José da Lima Sobrinho começou ainda garoto na barbearia do pai, na Avenida do Forte São Pedro, no Campo Grande.  Naquele tempo, final dos anos 1940, quem cortava o cabelo dos homens era o barbeiro. Cabeleireiro era aquele que cuidava das madeixas femininas. Os tempos mudaram.  A vaidade masculina com os cuidados estéticos só cresceu e os preconceitos caíram por terra. Sinhozinho foi o apelido que Leônidas, um menino compenetrado e concentrado no que fazia, ganhou dos fregueses da barbearia de seu pai. Assim ele ficou conhecido no tempo em que trabalhou na barbearia do Hotel da Bahia. Foi lá, nos anos 1950 e 1960, que ele estreitou sua relação com os poderosos da Bahia. A movimentação política baiana se dava no Campo Grande, onde ficava a sede da Assembleia Legislativa e, a poucos metros, o Palácio da Aclamação e o Palácio do Arcebispo. O Hotel da Bahia era o ponto de encontro. E passavam por lá artistas, profissionais liberais, autoridades religiosas e políticas. Leônidas era o cabeleireiro oficial do arcebispo dom Augusto Alvares da Silva. Os governadores Juracy Magalhães, Otávio Mangabeira, Régis Pacheco, Antonio Balbino e toda uma geração de governantes, políticos e empresários baianos daquela época passaram pelas mãos de Leônidas. Inclusive um jovem jornalista que se tornaria deputado estadual e federal, sendo ainda prefeito, governador e senador da República, ficando famoso pela sigla composta pelas iniciais de seu nome, ACM. Foi Leônidas quem cortou o cabelo de Antonio Carlos Magalhães, antes de ele deixar a Bahia para internar-se em São Paulo, em 2007. Leônidas contava que já cortara o cabelo de representantes de todas as instâncias do poder: vereador, prefeito, deputado estadual, governador, juiz, desembargador, senador e presidente da República. E até de rei. Nesse caso o representante da monarquia foi o rei do futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. “Meu salão ficava no extinto Salvador Praia Hotel e Pelé, hospedado lá, queria dar uma aparada no seu famoso topete. Foi uma honra para mim poder servir ao rei do futebol”, lembrava. Certamente, Leônidas era o mais antigo cabeleireiro em atividade. Muita gente da antiga continuava fiel ao seu talento com as tesouras, como o conselheiro do Tribunal de Contas, Manoel Castro, e o artista Mário Cravo Neto, além do ex-secretário de governo Hélio Lima e do médico Angelo Castro Lima.  Mas a nova geração também costumava frequentar o Jacques Janine, do Shopping Barra, onde Leônidas trabalhava ultimamente, para desfrutar dos bons serviços e da boa prosa do cabeleireiro. Eram cadeiras cativas o empresário Rafael Amoedo, ex-secretário estadual de indústria e comércio, o ex-tesoureiro da CUT, Benito Juncal, o jornalista Ernesto Marques, vice-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), e o radialista Emmerson José, ex-presidente da Câmara Municipal de Salvador, e tantos outros. Da convivência com os poderosos, Leônidas contava saborosas histórias que revelavam idiossincrasias, como a do general Juracy Magalhães, por três vezes governador da Bahia. Já nos últimos anos de vida,  Juracy Magalhães recebia Leônidas para cortar seu cabelo em seu apartamento, no edifício Açores, no Corredor da Vitória. O cabeleireiro contava que, com mais de 90 anos, o ex-governador não proseava enquanto ele lhe cortava o cabelo e barbeava. “Curiosamente, o ex-governador ficava assoviando o hino nacional”. Casado com D. Maria Mendes Sobrinho, Leônidas deixa quatro filhos, sete netos e um bisneto. O querido Léo não aparentava a idade que tinha. Sua memória prodigiosa guardava parte da história do poder na Bahia. Ele deixa saudade em todos que tiveram a sorte de conviver com a sua simplicidade, humildade e sabedoria. * Pacheco Maia é jornalista