Padre desfila com imagem de Jesus morto pelas ruas de Ubaíra para incentivar isolamento social

Carreata desfilou por todo o município e, segundo o pároco local, gerou muita reflexão

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  • Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2021 às 21:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Em cima de um carro, deitado sob um lençol vermelho-sangue e sem os tradicionais adornos de flores, a imagem católica de Nosso Senhor Morto provocou um choque, na última sexta-feira (2), ao desfilar dramaticamente pelas ruas de Ubaíra, cidade do Vale do Jequiriçá, a 350 km de Salvador. Acompanhada de um carro de som com música chorosa de louvor, a figura divina seguiu na companhia solitária do padre Natael Costa Santos, que decidiu cancelar a procissão anual da Semana Santa num ato de respeito à pandemia e num alerta contra as festas familiares comuns ao período.

“Foi uma provocação no interior muito profunda. À medida que a imagem ia passando, as pessoas iam gritando e agradecendo dizendo que o Senhor Morto veio e Nossa Senhora as visitou. Certamente foi um momento dramático, de muita comoção, chocante mesmo”, disse o padre, da Paróquia de São Vicente Ferrer.

Imagem mais respeitada da pequena cidade de menos de 20 mil habitantes, o Senhor Morto costuma ir às ruas todos os anos nesta época, numa festa que atrai muita gente da zona rural e na qual muitas pessoas seguem caminhando descalças para pagar promessas. A imagem é histórica: fabricada no século XVII, veio da Itália para o pequeno município baiano. O evento contou também a figura de Nossa Senhora das Dores. Na impossibilidade de fazer um evento como todos os anos, o padre Natael proibiu o acontecimento da procissão e não permitiu sequer o formato em carreata.

O Pároco também levava a imagem de Nossa Senhora das Dores e afirma que a ideia teve objetivo de fazer com que as pessoas encontrassem força e coragem para lutar contra os tempos difíceis. As imagens fortes mandavam um recado de que a fé pode ser um abrigo para todo mundo durante a pandemia que já assola o mundo há mais de um ano. 

"À medida que a imagem passava, as pessoas iam se recordando, se lembrando de acontecimentos outros e acima de tudo que naquela imagem estavam representadas a dor e o sofrimento, mostrando que Deus é próximo. Escutamos pessoas idosas falando que Deus se lembrou, nos visitou, a mensagem transmitida foi essa: Deus não é distante, nem esquece e sofre também a dor de seu povo", afirmou o padre.

Segundo Natael, as pessoas reagiram de forma positiva ao ato - sendo elas católicas ou não. A carreata passeou por diversos bairros do município, dos mais nobres aos mais pobres e o que ele conseguiu perceber foi que pelo menos atraiu os olhares das pessoas. O Padre acredita que a Sexta-Feira da Paixão é uma data introspectiva por si só, trazendo momentos de reflexão, interiorização e abrigo junto à família. As imagens só fizeram potencializar toda essa situação.

Desde o início da pandemia, o município teve 447 casos de coronavírus confirmados em seu território. Atualmente, há cinco casos ativos, de acordo com a Secretaria da Saúde local, com 8 pacientes aguardando o resultado. 10 pessoas já morreram por complicações geradas pelo coronavírus, enquanto 2,6 mil pessoas receberam a vacina.