Página usada em ataques virtuais é ligada a gabinete de Eduardo Bolsonaro

Quebra de sigilo revelou origem da 'Bolsofeios', que fez ataques a jornalistas, STF e congressistas adversários

  • D
  • Da Redação

Publicado em 4 de março de 2020 às 13:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Arquivo

Uma das páginas usadas para ataques virtuais e para estimular o ódio contra supostos adversários do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi criada a partir de um computador localizado na Câmara dos Deputados. 

As informações são do portal Uol, que obteve documentos que mostram ainda que a página, chamada Bolsofeios, também foi registrada a partir de um telefone utilizado por Eduardo Guimarães, secretário parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O email do registro da conta da página é [email protected] — endereço utilizado pela assessoria do filho do presidente para a compra de passagens e reserva de hotéis, através da cota parlamentar, como mostra a prestação de contas disponível no site da Câmara dos Deputados.

Ainda de acordo com o Uol, as informações foram enviadas pelo Facebook à CPMI das Fake News no Congresso, a partir de um pedido de quebra de sigilo referente a contas no Instagram feito pela comissão.

O documento mostra que a conta bolsofeios foi feita no IP de um computador localizado dentro na Câmara. Ele foi enviado à comissão depois de um requerimento feito pelo deputado Túlio Gadelha (PDT-PE), com base em denúncias da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Joice já havia dito, em depoimento à CPMI das Fake News, no dia 4 de dezembro, que a página bolsofeios pertencia ao assessor Eduardo Guimarães. 

‘Gabinete do ódio’ A ex-aliada de Bolsonaro também apresentou um grupo secreto que reunia páginas ligadas ao "gabinete do ódio", com a presença de Guimarães e o perfil bolsofeios. O grupo organizava um cronograma de ataques a pessoas consideradas inimigas da família.

Túlio Gadelha pediu à empresa mantenedora do Instagram o acesso ao conteúdo de todas as mensagens trocadas no grupo intitulado "Gabinete do Ódio", desde o período da campanha eleitoral de 2018, com base no depoimento de Joice. A página bolsofeios fazia parte do grupo.

"Conforme tal depoimento, os participantes do grupo "Gabinete do Ódio" não apenas articulavam sistematicamente a divulgação de Fake News no período eleitoral de 2018, mas também elaboram um "cronograma de ataques" para "assassinato de reputações", o que configura a prática de cyberbullying até a presente data", afirmou o deputado.

O Bolsofeios contém ataques contra jornalistas, Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e adversários políticos da família. Também há publicações convocando para as manifestações de março a favor do presidente e contra o Congresso e o STF. 

Uma delas tem um vídeo com imagens de Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ministros do STF e diversos políticos sendo comparados com doenças contagiosas.

Outra publicação na página mostra a jornalista da Folha Patrícia Campos Mello, com a legenda de que a repórter "tentou destruir a campanha" de Bolsonaro, o que não é verdade. 

Procurado pelo Uol, o próprio gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro confirmou que utiliza o email "[email protected]" de forma oficial, como para atender demandas da imprensa, por exemplo. Procurado, Eduardo Bolsonaro não se manifestou até a publicação da reportagem.