Pagode em ascensão com novos nomes e camarote próprio de Léo Santana

Duas músicas de pagode estão entre as três mais fortes concorrentes a música do carnaval

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 06:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Divulgação/MR Films)
Alana Sarah, A Dama, trouxe protagonismo feminino ao pagode por Foto: Reprodução

Paredões e trios são, em síntese, a mesma coisa: carros com grandes caixas de som acopladas. A migração do pagode baiano para cima dos trios, no entanto, representa a ascensão do ritmo, que neste Carnaval revelou novos nomes, entre eles as bandas estreantes O Poeta e A Dama. A escalada também ficou clara quando Léo Santana, que experimenta o auge da carreira, criou o próprio camarote no Edifício Oceania, antes ocupado pelo Expresso 2222.

Piauienses, as amigas Hilnara Assunção, 20, e Nayara Silva, 23, são fãs de John Ferreira, cantor da O Poeta, e vieram para o Carnaval de Salvador, pela primeira vez, só para acompanhá-lo. Durante todos os dias de folia, a dupla não foi atrás de nenhum outro artista, só queriam saber dele. O cantor estreou na festa desfilando por cinco dias, duas vezes na Barra e três no Campo Grande. “Só quero ouvir O Poeta, não vou mentir”, revela Hilnara. 

As meninas dizem que amam pagode e que costumam ir em todos os shows de John no estado delas. De tanto frequentarem, montaram um fã-clube que é formado por 22 garotas. “O som dele chegou longe porque o John é a humildade em pessoa”, diz Nayara, que é atendente de telemarketing. As amigas ilustram essa humildade num gesto simples da produção da banda do artista, que aceitou que elas deixassem os celulares guardados no trio para que não fossem roubadas.

Vestidas com looks praticamente iguais, Hilnara e Nayara metiam dança sem parar. Com os cabelos em trança boxer, shortinho jeans curtinho e top preto, pareciam até dançarinas da banda. Com o circuito do Campo Grande mais livre, as garotas tinham espaço para uma jogada de bumbum atrás da outra, flexionando e descendo até o chão.  Nayara e Hilnara se divertem antes da saída do trio do ídolo (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) A camareira Cleide Sacramento, 27, afirma que enxerga uma identificação de classe nos trios de pagode. Curtindo também com amigas, ela diz que tem a sensação de igualdade quando olha para os lados e vê que as pessoas que acompanham o trio são parecidas com ela e compara:“Eu sou de baixo, da periferia e aqui eu encontro meu povo. Já quem acompanha Ivete Sangalo, por exemplo, vejo que tem um perfil de classes mais altas e quando vamos para lá a gente sente o olhar diferente”, observa.Da periferia Com origens nos bairros de Periperi e São Marcos, John Ferreira e Alana Sarah (A Dama), respectivamente, são tidos como representantes da arte e da vida das favelas. Durante o carnaval, ambos deram declarações de agradecimento pelo apoio mútuo para chegarem até este momento em que despontam como novos nomes do gênero. 

No praticável de uma TV, no último desfile de John, Alana falou com ele. “Sou grata por tudo o que você tem feito pela minha vida. Se A Dama está chegando hoje, eu devo a você, que é a revelação desse Carnaval”, disse. Assumindo protagonismo num ritmo historicamente dominado por homens, A Dama chega como a primeira figura feminina a ganhar destaque.

Ainda segundo Cleide, a diferença do pagode em relação a outros ritmos se apresenta até mesmo na estética dos nomes. Enquanto o pessoal do axé costuma adotar o nome próprio, a galera do pagode usa mais os codinomes, vide ainda os casos de Kannário e Magnata (La Fúria).  Cleide Sacramento (de preto com tiara de flores) saiu para curtir o pagodão com as amigas (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Glossário do pagode Além disso, o ritmo tem um glossário próprio, cheio de neologismos divertidos que só é possível ouvir indo atrás de atrações pagodeiras. O folião nunca vai ouvir expressões como “gruuuva, desgrama” saírem da boca de Bell Marques, aponta Cleide. “Gruvar é meter dança e meter dança é dançar muito”, especifica ela. O dicionário pagodês inclui ainda termos como embrazar, maloca, quebradeira e outros.

Por falar em quebradeira, o jovem folião Rodrigo Plácido explica que trata-se de um jeito mais solto de se dançar. “No pagode a gente tem uma ginga diferente, dança mais à vontade”, explica. Rodrigo explica, no entanto, que em alguns trios de pagode, como o de Igor Kannário, não é possível dançar assim. “É uma pipoca sempre muito, muito cheia. Então o pessoal fica mais na defensiva para poder conseguir seguir, se protegendo com os braços”, conta ele. Rodrigo Plácido, de camisa azul marinho, também desceu de bonde para curtir (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Shortinho da batedeira Ao redor do trio do O Poeta e da La Fúria, alguns garotos vestidos com seus shortinhos ‘da batedeira’ lançavam coreografias elaboradas, mais originais do que as popularizadas pela moda fitdanceira. Os foliões descrevem esse tipo de shortinho como uma peça de vestuário estratégica, que ajuda a dar mais desenvoltura na dança. Os meninos então puxam o tecido para dar mais volume “naquela região” e quebram, mas quebram muito!

Em entrevista ao CORREIO, John Ferreira comenta que, de fato, os jovens são o público do pagodão raiz atualmente, mas que já estuda a expansão.“O pagode é um ritmo da periferia, nasce lá, assim como funk, no Rio de Janeiro. Estou aprendendo com os grandes para entender como agregar mais coisas e alcançar um público maior. A gente está tentando atrair a favela e orla para perto para que possamos nacionalizar ainda mais o nosso ritmo, que é maravilhoso”, contou.[[galeria]]

Música do carnaval

Para Welington Andrade, 30, folião fiel do Bloco Muquiranas, a expansão dos limites nacionais do pagode está cada vez mais perto. “Antigamente não existia a possibilidade de o pagode ganhar como Música do Carnaval”, diz. Mas este ano ele vê duas fortes canções concorrentes ao prêmio pelo ritmo, que são ‘Contatinho’ (Leo Santana) e Ela Não Quer Guerra Com Ninguém (Parangolé). 

De fato, na votação parcial do Bahia Folia, elas aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente, atrás de O Mundo Vai, de Ivete. Vale lembrar que, no carnaval passado, a faixa ‘Abaixa Que é Tiro’, do Parangolé, levou o título. A premiação começou em 1994 e, até 2007, nenhuma música do gênero musical havia ganhado. Um ano depois, aparece o Psirico de Márcio Victor com 'Mulher Brasileira' (Toda Boa), que leva a melhor. Nos anos seguintes, outras canções como Rebolation (Parangolé), Liga da Justiça (LevaNóiz), Lepo Lepo (Psirico), Xenhenhem (Psirico) e Santinha (Léo Santana) tomaram conta dos troféus.