Pandemia de covid-19 afeta projeto Reciclasa, que transforma óleo usado em ações sociais

Material vai para destinos ecologicamente corretos

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  • Wendel de Novais

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Por conta da pandemia e da baixa movimentação, principalmente no setor de serviços, são vários os exemplos de estabelecimentos que precisaram fechar as portas em Salvador. Esse fenômeno afetou indiretamente o Reciclasa, projeto idealizado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA) da capital que recolhe óleo usado em diversos pontos da cidade, vende os litros do material para destinos ecologicamente corretos e reverte a arrecadação para ações sociais da própria instituição. 

Em 2019, o projeto teve uma média mensal de recolhimento de dois mil litros de óleo de cozinha e azeites de oliva ou dendê que eram comercializados para uma cooperativa de Camaçari e uma empresa de Salvador. Após o estouro da covid-19, o Reciclasa passou a recolher apenas mil litros do material. Uma queda de 50%. 

De acordo com Tamires Sacramento, coordenadora do projeto, a quantidade arrecadada atualmente é suficiente apenas para manter a ação funcionando, impossibilitando o repasse para as obras sociais. “Caiu metade do nosso recolhimento, diminuiu muito e isso tem dificultado um dos nossos objetivos principais que é repassar a verba destinadas para as ações sociais. Por isso, o valor de hoje acaba servindo só para sustentar o projeto e manter ele rodando”, diz a coordenadora.

Em Salvador, são mais de 150 pontos de coleta - chamados de bombonas - distribuídos pelo Reciclasa. A articulação proporciona que a logística do projeto fique com todo o rendimento que os mil litros vendidos atualmente geram.“São pontos em escolas, comércios, paróquias e em locais parceiros da nossa rede de apoio. Para chegar até esses pontos e recolher, tem gasto. Todo o serviço gera contas. E, além de direcionar as verbas para ações sociais, geramos empregos para pessoas atendidas por essas ações”, explica Tamires. Um dos beneficiados duplamente pelo projeto é Valglênio Costa, 45 anos, que chegou na ação social depois de passar noves anos em situação de rua. Para ele, além da assistência, pintou a oportunidade de trabalhar como coletor na Reciclasa. “Eu tinha problemas com droga e saí de Fortaleza pra cá para tentar me recuperar. Não consegui e acabei morando por nove anos debaixo de viaduto, porta de loja, no relento. Até ser acolhido pela ação social que me deu todo tipo de assistência, de social a psicológica. Mudou a minha vida”, conta Valglênio.  Projeto social destina produto para locais ecologicamente corretos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Hoje, com casa, comida na mesa e um trabalho, o coletor espera que a Reciclasa possa se recuperar e continue ajudando outras pessoas. “Moro no Lobato, tenho casa, minhas coisas. Um projeto como o Reciclasa muda toda a percepção da vida de uma pessoa. Tem muita gente boa aí cheia de vontade de mudar e só precisa de um suporte”.

Origem Esse apoio precisa continuar acontecendo, afinal, o projeto nasceu para ser uma via de mão dupla: a ASA ajuda as pessoas e cuida do meio ambiente, como conta Tamires.  “O projeto surgiu de uma campanha focada em meio ambiente porque não tínhamos um gesto concreto em relação a isso. E, como a ASA é por essência social, construímos o projeto que alinha esses dois objetivos e levou um ano para ser preparado”, relembra a coordenadora. 

Se um comerciante ou dono de estabelecimento quiser ter um ponto de coleta no seu local, é preciso procurar a ASA pelas suas redes sociais, como o perfil no Instagram do Reciclasa. Para quem quer fazer a doação do óleo usado em casa, é só procurar o projeto para saber onde está o ponto paroquial ou comunitário.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo