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Publicado em 29 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Falei um pouco da Rua da Estrela na semana passada. No coração da capital maranhense, ela liga a parte alta do Centro Histórico ao epicentro em que ambulantes disputam espaço para vender artesanatos e comidas típicas.
Ladeada por casarões coloniais, a via de paralelepípedos flui em suave declive, que não chega a formar uma ladeira, mas cria o cenário ideal para uma arena de improviso. Quem fica lá atrás, nos últimos quarteirões, consegue ver bem o que acontece lá na frente. Pois então: lá na frente, na esquina com a Rua Portugal, o que há é um telão de uns 25 m².
É domingo e a rua está completamente tomada de gente. Alguém pode desconfiar que a algazarra é pelo São João, mas o forrobodó é mais tarde. Joga a Seleção Brasileira e, ao menos ali, todos os olhos estão fixos na tela. Você, claro, já sabe que não falo sobre o time comandado por Tite, e sim da equipe (mal) treinada por Vadão.
O estádio na França está lotado e as donas da casa são claramente mais organizadas em campo, mas o Brasil dá testa. Quando as francesas abrem o placar, a multidão na rua reage com apoio, ainda que um tanto tímido. Mas o gol é anulado pelo VAR e parece até que o Brasil balançou as redes.
Vem o segundo tempo e a Seleção, que chegou ao Mundial toda mal diagramada, começa a criar chances. Acontece que é futebol, gol da França. Olho em volta e ninguém parece desanimar. Seguem gritos de incentivo a cada tentativa do ataque brasileiro. Cristiane bota na trave. Até que Debinha vai ao fundo, bola na área, corta a defesa, Thaisa pra rede.
Explode a Rua da Estrela. Êxtase de pelo menos 2 mil pessoas em torcida espontânea e até então hibernada, enfim tocada pelo peso de uma Copa do Mundo de futebol feminino. Tensão durante a conferência do VAR, mas valeu tudo. Nova comemoração, abraços aleatórios, cerveja pra cima, gritaria e o que mais quiser. Fim do tempo regulamentar.
Antes da prorrogação, surgem no meio do público dois franceses bastante chatos, com o perdão da redundância. Agora, a cada ataque das conterrâneas, a expectativa é deles. Pra piorar, um começa a arriscar um “frantuguês” de arranhar os ouvidos.
Faz tempo que uma partida não me deixa tão tenso. A França é melhor e o Brasil parece cansar, mas é possível. Tanto é possível que Debinha escapa pela esquerda, deixa a marcação pra trás, invade a área sem freio e, quando a multidão se prepara para a erupção, falta-lhe perna. Doeu.
Mal começa a segunda etapa e a França pula na frente. Daí em diante, não temos mais forças pra reagir, ainda que o coro de “Eu acredito!” tenha durado uns bons minutos na Rua da Estrela.
Marta, a supercraque, deu um forte depoimento para concluir que as jogadoras brasileiras precisam chorar no início para rir no final. Neste e noutros torneios, elas já mostraram que podem muito. Só precisam de apoio e gestão razoável da CBF, o que é sempre pedir demais.
No dia que houver, vamos todos rir no final.
Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados