Parado no tempo: Big Ben fica em silêncio para manutenção

O relógio que rege a vida dos ingleses vai parar de badalar pelos próximos anos

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  • Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: EBC

A reforma do relógio vai custar, aproximadamente, 29 milhões de libras, o que corresponde a R$ 150 milhões (Foto: EBC) A fama de pontuais que os britânicos carregam pode ficar comprometida. Parece deselegante, mas um dos símbolos mais conhecidos de Londres vai deixar de marcar as horas, pelo menos, até seja concluída a restauração do monumento nos próximos anos. Antes mesmo da última campanada prevista para o dia de hoje, ao meio-dia, o Big Ben já gera polêmica. Isto porque o Parlamento britânico decidiu revisar o plano de silenciar por quatro anos as badaladas do relógio mais famoso do mundo depois que o prazo causou indignação à primeira-ministra, Theresa May e parte da opinião pública.

“Quando o Parlamento voltar (do recesso), e à luz das inquietações expressas por vários deputados, a Comissão da Câmara dos Comuns considerará a duração do período de silêncio dos sinos”, anunciou a Câmara Baixa em um comunicado. “As badaladas do Big Ben são parte da vida parlamentar, e nos asseguraremos de que podem retomar sua função de guardiãs do tempo da nação assim que possível”, acrescentou.

Enquanto não ajusta os ponteiros quanto ao dia e a hora que o relógio vai voltar a marcar o chá das cinco, a reforma deve custar 29 milhões de libras, o que corresponde a aproximadamente R$ 150 milhões. O projeto de reforma prevê a restauração da esfera do relógio e seu mecanismo, suas campainhas, a corrosão do teto e a estrutura da torre de 96 metros, construída em 1856. Para isso, vai ser necessária a remoção dos ponteiros de cada uma das quatro faces do relógio.

"O silêncio do Big Ben é um marco nesse projeto crucial de manutenção. Como encarregado do grande relógio tenho a honra de garantir que essa peça de engenharia vitoriana está nas melhores condições dia a dia", disse Steve Jaggs, responsável pelo monumento.

Também está prevista a instalação de um elevador, como alternativa aos 334 degraus que levam ao alto da torre. "Este programa essencial de obras protegerá o relógio em longo prazo, além de proteger e preservar seu lar, a Torre Elizabeth", acrescentou Jaggs. 

São 160 anos marcando presença na paisagem londrina. "A torre não está instável mas, ao menos que façamos algo, ela ficará muito pior", destacou.  Está não é a primeira vez que o relógio deixar de marcar o tempo dos ingleses. O Big Ben funcionou quase sem interrupções nos últimos 157 anos, salvo em duas pausas de manutenção e renovação em 2007, outra em 1983 e mais uma em 1985.

Pontual?

Diz a lenda que os britânicos são extremamente rigorosos quando o assunto é horário. No entanto, nem mesmo o Big Ben deixou de atrasar alguns minutinhos. Na virada de Ano Novo de 1962 para 1963, um acúmulo de neve provocou atraso de 10 minutos nas badaladas da meia noite. O relógio que rege a vida dos ingleses parece escolher os momentos mais inesperados para deixar de funcionar: em abril de 1997, na véspera das eleições parlamentares, o Big Ben parou de novo – problema que voltou a se repetir três semanas depois. 

Se engana ainda quem pensa que o relógio é o maior do mundo. Acreditem: a da Estação  Central do Brasil, no Rio de Janeiro, por exemplo, é maior.  Montado a 110 metros de altura, ocupa cinco andares do prédio da estação D. Pedro II. Cada uma das faces é um quadrado com 10 metros de altura e 10 metros de largura. A Clock Tower, por sua vez, tem uma altura de 96 metros e cada uma das quatro esferas do relógio, compostas por 312 peças individuais de cristal, tem um diâmetro de 7 metros. 

A torre foi inaugurada no dia 31 de maio de 1859, junto ao Palácio de Westminster, às margens do Rio Tamisa. Oficialmente nomeada como Elizabeth, em homenagem à Elizabeth 2ª, o Big Ben – que na verdade é o nome do maior dos seus cinco sinos - se tornou símbolo de provocação ao sobreviver ao bombardeio alemão durante a Segunda Guerra Mundial. O sino pesa 13,7 toneladas e soa a cada hora. Os outros quatro sinos tocam a cada 15 minutos. 

O relógio acumula outras histórias sobre o seu nome, que não tem muito haver com a teoria da criação do universo.   O apelido está ligado a Sir Benjamin Hall, ministro de obras públicas da Inglaterra no período, mas há uma outra versão que diz que se deve ao campeão de boxe peso-pesado dos anos 1850,  Benjamin Caunt. 

BIG LINHA DO TEMPO

1859 O Great Westminster Clock começa a marcar as horas. Cinco sinos produzem um som que pode ser ouvido a 3 km. 

1941 Os nazistas atingem o relógio, que sofre pequenos danos. Durante as guerras mundiais, ele operou em silêncio e no escuro. Porém no mesmo ano, um funcionário derruba um martelo no mecanismo do relógio e provoca o que Hitler não conseguiu: o Big Ben para por quase 24 horas. 

1949 Um bando de estorninhos pousa em um dos ponteiros. O peso das aves faz o relógio atrasar quase cinco minutos. 

1962 Uma nevasca causa dez minutos de atraso no Ano-Novo. 

1976 O mecanismo do relógio quebra. Ele fica mais de 20 dias parado e o conserto leva oito meses

1997 A 24 horas das eleições gerais, o relógio para. A razão oficial é falha mecânica.

2005 Em maio, uma onda de calor faz o Big Ben parar por uma hora e meia. Os termômetros marcavam 31,5 ºC, recorde de 50 anos para o dia.

2013 Os sinos ficam em silêncio durante o funeral de Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do país.

2015 O Big Ben fica seis segundos atrasado por duas semanas. O motivo alegado foi pressão do ar ou mudanças na temperatura naqueles dias. 

2017 A Elizabeth Tower (nome atual da torre onde fica o Big Ben) inicia um período de manutenção. Entre as obras, a instalação de um elevador – uma alternativa para os seus 334 degraus.