Paraibanos enfrentam mil quilômetros e vigília noturna por Mãe Stella

Velório da ialorixá ocorreu no barracão de Xangô, no Opô Afonjá

  • Foto do(a) author(a) Alexandre Lyrio
  • Alexandre Lyrio

Publicado em 29 de dezembro de 2018 às 23:53

- Atualizado há um ano

. Crédito: Alexandre Lyrio

A advogada Priscila de Almeida Castro, 34 anos, enfrentou exatos mil quilômetros e 13 horas de viagem entre João Pessoa e a cidade de Nazaré, no Recôncavo Baiano. Veio com outras cinco pessoas, incluindo a Mãe de Santo Lúcia Batista de Oliveira, a Yá Lúcia Omidewá, a única filha de santo de Mãe Stella na capital paraibana. Todos queriam prestar homenagens à matriarca do Ilê Axé Opô Afonjá. Diante da disputa pelo corpo de Mãe Stella, ficariam em terras baianas muito mais tempo do que imaginavam.

Priscila é neta de santo de Stella de Oxóssi, já que foi iniciada por Cida de Nanã, do mesmo terreiro de Mãe Stella, que iniciou, essa sim, Lucia de Omidewá. Assim como todos os integrantes do terreiro, elas também viveram a angústia do risco de não ver o corpo de Mãe Stella passar pelos rituais litúrgicos do candomblé antes de ser enterrado. 

“Achamos estranho que o funeral estava marcado para Nazaré. Mas, já que era essa a informação, fomos até lá”, explicou Priscila. Com a decisão da Justiça, ela atravessou de Ferry Boat de volta para Salvador junto com o carro da funerária.    Iá Lúcia Omidewá é filha de santo paraibana de Mãe Stella de Oxóssi Já no terreiro Ilé Axé Opô Afonjá, Priscila, que hoje é assessora de gabinete do Governo da Paraíba, enfrentou a vigília noturna que atravessou a madrugada e velou o corpo de Mãe Stella. “Só dormi uma horinha. Mas, estamos aqui, firmes, representando os paraibanos”, garantiu.

Já Lúcia vivia um misto de tristeza com a morte de sua ialorixá e a alegria de poder homenageá-la. “Mãe Stella fez a viagem de volta à massa primordial. Como representante da nossa matriarca em João Pessoa, não poderia deixar de vir”, disse Mãe Lucia.  

Assim como Priscila e Lúcia, centenas de religiosos ligados ao candomblé acompanharam o velório da ialorixá durante a madrugada e a manhã de sábado. Todos, inclusive de outros terreiros, agora sim comemorando a possibilidade de ser feito o sepultamento com rituais. 

"A transferência do corpo para Salvador foi uma vitória. Xangô fez Justiça. Mãe Stella tinha que passar por esse rito. Ela chegou em um patamar que pertence a todas as casas de axé do Brasil. Ela tem o respeito de todas as casas", explicou Josuel Queiroz, ogã do Terreiro do Cobre, no Engenho Velho da Federação.