Passagem de Mano Brown na Barra/Ondina causa comoção

Multidão cantou junto com ele letras inteiras de clássicos dos Racionais MCs

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 23 de fevereiro de 2020 às 09:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Edgar Azevedo/Divulgação

O trio Afropunk se aproximava do Morro do Cristo quando ele subiu para fazer sua estréia no Carnaval de Salvador. Maior nome do rap nacional, Mano Brown tomou o microfone das mãos do vocalista da banda baiana Afrocidade, que comandava o trio, e causou comoção entre os fãs no Circuito Barra / Ondina na noite de sábado (22), que teve também a participação de integrantes do BaianaSystem. 

Empolgada com a presença da lenda viva paulista em pleno Carnaval de Salvador, a multidão cantou junto com ele letras inteiras de clássicos dos Racionais MCs. Houve até quem chorasse. Muito à vontade, Brown soltou sua voz cheia de potência, que parecia feita para cantar na invenção de Dodô e Osmar."É muita emoção, mano! Ver o cara assim de perto cantando no nosso Carnaval é uma benção", disse o representante comercial Fábio Castro, 35 anos. "O rap é tudo e o Carnaval aceita tudo. Precisamos de mais rap no Carnaval", pediu o estudante Rodrigo Oliveira, 25 anos.De cara, Brown largou logo Diário de Um Detento, uma das mais celebradas faixas do disco Sobrevivendo no Inferno. O rapper paulista não fez discursos, mas soltou pequenas ideias sobre o que achava de Salvador. "Onde o Brasil é mais Brasil! Salvador, Bahia! É uma honra estar aqui!", disse o tempo todo, uma delas quando homenageava o baiano Carlos Marighella com a música Mil Faces de um Homem Leal.  "Da Bahia de São Salvador Brasil, Capoeira mata um mata mil (...) A postos para o seu general. A postos para um homem leal". 

Russo Antes de Mano Brown, na altura do Hotel Marcos, o vocalista do BaianaSystem, Russo Passapusso, já havia assumido o trio Afropunk, junto com o guitarrista Roberto Barreto. "Vamos botar fogo na pista", conclamou Russo. E botou mesmo! Obviamente, se sentiram muito à vontade, já que além da atmosfera carregada de identidade e ativismo negros, eles estavam na verdade à bordo do Navio Pirada, trio do próprio Baiana, travestido de Afropunk. 

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Camaçari  Reconhecida como uma das boas novidades da música negra baiana, a Afrocidade fez sua estreia no Carnaval e ainda ciceroneou Mano Brown e os caras do Baiana.

"Temos que entender tudo isso como um grande movimento, como uma família. Receber esses caras tão importantes e ainda ser embasado pelo Afropunk, que tem origem lá no Brooklin, nos EUA, é incrível. As causas negras são as mesmas, seja lá onde for", afirmou ao CORREIO José Macedo, vocalista do Afrocidade.

No som, uma fusão entre a poesia de resistência, ritmos populares baianos como arrocha e pagode, e sons universais do dub, reggae e afrobeat. "Quando está unida, a nossa pele preta é muito mais forte. Vamo que vamo! Afrocidade, Baiana System e Mano Brown", chamou a galera, enquanto cantava Swinga. O trio ainda recebeu as participações de Cronista do Morro e do cantor do bloco afro Muzenza, Afro Jhow.

Festival O Afropunk é um movimento que nasceu nos EUA e dá nome ao maior festival de cultura negra do mundo. Uma parceria com a BaianaSystem permitiu a vinda para o Carnaval de Salvador e a participação de Mano Brown, uma forma de chamar a atenção para o Festival AFROPUNK Bahia: a primeira edição do festival em toda a América Latina – ele já acontece em Paris, Londres, Atlanta e Joanesburgo, além do Brooklyn, onde teve início, em 2005. A edição baiana será realizada em novembro, dias 28 e 29.

“Esse festival alerta na diversidade, na importância da cultura dos pretos. A gente se vê por fora, por um [evento] internacional. Essa relação é onde mais amarra e traz autoestima, empoderamento para cada movimento local. Isso é o grande barato dessa junção, além de dar visibilidade internacional inegável para nosso Carnaval, para nosso novo comportamento”, disse Russo ao CORREIO, em entrevista um dia antes da apresentação desse sábado.

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