Passeio de motocicleta celebra Dia da Mulher e alerta para a violência

Motociclistas saíram do Rio Vermelho até Lauro de Freitas

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  • Luan Santos

Publicado em 10 de março de 2019 às 15:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto de Evandro Veiga

"Lugar de mulher é na garupa". A motogirl Carol Magalhães, 36 anos, já cansou de ouvir essa frase no trânsito de Salvador. Motociclista há dez anos na capital baiana, ela diz que as mulheres ainda sofrem preconceito quando estão pilotando motos, mas não tem dado muito importância para quem fala e pensa dessa forma. 

"Ainda há muito preconceito quando estamos pilotando. É um problema estrutural, mas que estamos enfrentando", diz ela, que participou neste domingo (10) da terceira edição do Passeio do Dia Internacional da Mulher, realizado por três grupos de moto da capital baiana. 

Além de combater a discriminação contra a mulher no trânsito e sobre duas rodas, a ação alerta também para a violência contra o público feminino. Cerca de 200 motocicletas saíram do Largo da Maraquita, ponto de concentração deles, e seguiram até o Terminal Náutico de Lauro de Freitas, onde realizaram uma atividade de confraternização. 

Do Rio Vermelho, seguiram pela rua Lucaia e pegaram as avenidas Juracy Magalhães e ACM, até chegarem à orla, na avenida Octávio Mangabeira. De lá, seguiram até Piatã, onde entraram na avenida Orlando Gomes e seguiram pela Paralela, até chegarem ao terminal pela avenida Carybé. Apesar do grande fluxo de motocicletas, não houve grandes complicações para o trânsito. 

Primeira e única motogirl do Núcleo de Apoio ao Combate ao Câncer Infantil (Nacci), que funciona na Saúde, Carol Magalhães integra o Styllosas Moto Grupo, que reúne 14 motociclistas, todas mulheres. Além do Styllosas, os grupos de motociclistas Calangos Indomáveis e Mensageiros de Cristo organizaram o evento deste domingo. 

Para Carol, o passeio, que também é realizado durante o Outubro Rosa, passa uma mensagem importante de combate à violência contra as mulheres e contra a intolerância em espaços como o trânsito. "Em pleno século XXI, ainda tem gente que diz que 'mulher que trabalha com moto é homossexual'. Já ouvi isso várias vezes. É uma coisa absurda, porque nós, mulheres, estamos em todos os espaços que os homens estão", reforça. 

A presidente do grupo Styllosas, a pedagoga Jane Humildes, 41 anos, conta que todo o valor arrecadado vai ser doado para uma instituição que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica em Lauro de Freitas. Ela, contudo, ainda não sabe precisar o valor, que é fruto da venda de camisas para o evento, além de doações. 

"Estamos aqui para mostrar que mulher pode estar onde ela quiser. Por muito tempo, e ainda hoje, há quem pense que moto é só para homem. E cá estamos nós para provar o contrário", conta. Para ela, a ação é também uma forma de empoderamento feminino. 

Após o passeio, folhetos foram distribuídos no terminal náutico com mensagens pregando respeito às mulheres e informando o telefone 180 para denúncias de violência contra pessoas do sexo feminino. 

Para o assistente de saneamento Pedro de Jesus, 33 anos, o combate à intolerância e à violência é a mensagem central do passeio, mas vê outras. "Acho que a discriminação contra as mulheres sobre motos vem reduzindo. Eu já presenciei situações de preconceito pelo fato de a mulher estar conduzindo uma moto, e discordei. Eu sou integrante de um grupo de moto que tem muitas mulheres, como vou concordar?", questiona ele.