Passeio vira tragédia: Adolescente de 16 anos morre afogada na Praia de Ondina

Além de Taiane Paula Almeida de Santos, o irmão, a prima e o padrasto também foram arrastados por correnteza, mas conseguiram sobreviver

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  • Wendel de Novais

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 19:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Banho de mar, brincadeira na areia e familiares reunidos. A tarde de terça-feira (10), na Praia de Ondina, tinha tudo para ser uma tarde tranquila. Até uma corrente de retorno do mar transformar o momento de descanso em dor e desespero para a família de Taiane Paula Almeida de Santos, 16 anos, que morreu afogada após ser levada por uma correnteza. Além da jovem, o irmão dela, Ryan Victor, 12, a prima, Laiza Lima, 15, e padrasto, Vitor Souza, também se afogaram, mas conseguiram se salvar. O corpo, que foi alvo de buscas dos bombeiros, foi encontrado entre as pedras da praia, por volta das 7h desta quarta-feira (11). Taiane deixa uma filha de 7 meses.

O passeio na praia, que fica atrás do Ondina Apart, seria uma oportunidade para Taiane, que não saía de casa direito desde o início da pandemia, relaxar um pouco. A prima da jovem relatou que tudo aconteceu muito rápido e que não teve condições de salvar Taiane. "Foi bem rápido. A gente estava na água, tomando banho e a água puxou. Puxou ela, eu, meu primo e o padrasto dela e a gente se afogou. Foi do nada. Quando a gente foi ver, a água já tinha nos arrastado muito e não tinha mais areia no chão", revelou a estudante, que ficou muito confusa na hora. Segundo ela, até dava para perceber que o mar estava agitado, mas nada que levantasse preocupação. O que de fato causou o afogamento dos quatro foi a corrente de retorno que os deixou sem reação possível. Jovem foi arrastada por correnteza e não teve como reagir (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Correnteza A corrente de retorno é um fenômeno que acontece por baixo da superfície da maré. Com a corrente, é formado um corredor no mar, onde a água que toca a areia ao desaguar na praia volta para dentro do oceano, dando origem a uma correnteza no sentido contrário às ondas que, por vezes, pode ser muito forte. O fenômeno traz para os banhistas uma sensação de que o mar está puxando para trás, o que dificulta a permanência em um local raso e que não ofereça risco de afogamento.

Laiza contou que até perceberam que tinha uma correnteza no lugar que eles estavam, mas que não levaram a sério pois, até então, estava leve.  "No começo, não achamos que teria perigo e levamos na brincadeira. Só que, quando a água puxou de verdade, não teve mais como voltar porque a gente ficou longe e já estava fundo. Tentamos até nadar pra frente, mas não conseguimos", lembrou. 

Segundo Laiza, depois da correnteza arrastar os quatro, ela não viu mais a prima, que teria ficado bem mais distante da praia. "Os meninos conseguiram pegar a gente e salvar, porque conseguimos ficar mais perto do que Taiane que ficou longe e, por isso, não deu tempo de pegar ela. Ela estava mais pra trás mesmo, bem mais distante. E o mar estava muito agitado, cheio de onda, puxando muito. Ficou difícil para os homens encontrarem", disse. Corpo de Taiane foi encontrado na manhã desta quarta-feira (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Um dos homens citado pela jovem foi o pedreiro Damião Mascarenhas, 43, que trabalha em uma obra naquela praia e ajudou a socorrer os sobreviventes. Ele afirmou que nem chegou a ver Taiane na água e só conseguiu ajudar o seu irmão.  "Eu vi só um rapaz, que estava gritando pela irmã. Mas não vi a moça. A gente conseguiu acalmar ele e tirar da água. Depois, a gente foi ver se localizava a menina, mas o corpo já tinha descido", relembrou.

A falta de costume em nadar na praia também contribuiu para a tragédia. De acordo com Roberta Lima, 37, tia da estudante, curtir uma tarde na praia era uma prática incomum para a adolescente. Roberta também contou que Taiane só entrou na água porque estava acompanhada de um adulto, que era o padrasto. "Taiane não costumava ir na praia, ela não sabia nadar. O padrasto dela estava na água e, por isso, ela se sentiu segura pra entrar. Eles estavam em uma profundidade segura, que não parecia oferecer risco", afirmou.

Orientações dos bombeiros Mesmo que estejam na companhia de adultos e pessoas que saibam nadar, de acordo com orientações do Corpo de Bombeiros, é importante verificar se as condições do mar não indicam perigo. Segundo o capitão Luciano Alves, do Grupamento Marítimo do Corpo de Bombeiros (Gemar), adultos também estão sujeitos à força da correnteza e podem ser vítimas assim como Taiane. "A questão principal que devemos sempre lembrar nesses casos é que a melhor maneira de evitar situações como essa é a prevenção. Não se arrisque, observe as condições climáticas do dia e o comportamento do mar antes de entrar. Com muito vento e água agitada, não é indicado entrar em praias como essa nem se você for adulto ou estiver na companhia de um", alertou.

O capitão também falou sobre o local onde a tragédia aconteceu, que é uma das praias mais perigosas da cidade em dias normais e que estava em condições complicadas na terça. "Ontem [terça], o mar estava mais agitado e pessoas que não sabem nadar e não conhecem a geografia da praia se expõem ao perigo. Aqui, é uma das cinco praias mais cobertas pelo Corpo de Bombeiros, ou seja, que apresenta muitos riscos", explicou Luciano.

Dor e luto Ao falar da jovem, a tia lembrou da menina tranquila e alegre com quem conviveu. "Era uma menina super tranquila, que se dava bem com todos. Por isso, tá todo mundo arrasado com isso. Os familiares, amigos, vizinhos, todos sem acreditar no que aconteceu com ela", falou Roberta. "Isso tá machucando demais a gente. Pela forma que aconteceu, foi doloroso demais. Taiane era uma criança, que parecia ter seus 10 ou 12 anos porque não tinha mentalidade de 16 anos, apesar de ter uma filha. Pra nós, era como uma criança que merecia cuidados também", acrescentou a tia da vítima. Morte de Taiane deixou família desolada (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Laiza também falou com carinho da prima. "Todo mundo ficou assustado e abalado com a morte dela. A mãe dela ficou muito mal. Taiane era gente boa, vai fazer muita falta. A família tá toda aqui muito triste porque ela morreu. Todo mundo arrasado com a situação, todo mundo sem chão", relatou. 

Sobre a filha de 7 meses que a jovem deixou, a família contou que a criança era muito ligada à mãe. "Quem deve ficar com a filha de Taiane é a avó, que é minha irmã. Não sei como ela vai fazer para criar a menina. Vai ser difícil, não por dificuldade financeira, mas pelo emocional da criança que já era apegada demais com a mãe. Taiane nem podia ir na padaria sem a menina ficar agoniada", revelou Roberta.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro e da subeditora Fernanda Varela.