Pecuária baiana vive momento de expansão

Aumento do preço da carne bovina também ajudou produção de caprinos, aves e suínos

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  • Georgina Maynart

Publicado em 26 de janeiro de 2020 às 12:30

- Atualizado há um ano

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Um setor em expansão. Não há estimativas exatas de quanto a pecuária baiana vai crescer este ano, mas os números consolidados até agora, e apurados com exclusividade pelo CORREIO  não deixam dúvida. A fase é de otimismo para os criadores de animais da Bahia, frigoríficos e para os fornecedores de proteína animal, seja ela de origem bovina, caprina ou de frango.

“Se as chuvas que estão chegando agora permanecerem, acreditamos que será um ano extremamente positivo para a pecuária na Bahia, seja de corte ou de leite. Tivemos a recomposição do aumento dos custos, depois houve um recuo nas cotações, mas os preços tendem a se estabilizar. Vamos começar a colher a partir de agora tudo o que foi plantado nos anos anteriores com a melhoria da qualidade dos rebanhos”, afirma Luiz Sande, presidente da Associação Baiana de Criadores de Nelore (ABCN).

A maioria dos produtores rurais é cautelosa, mas está estimulada pela elevação da procura interna e pelo crescimento do embaque para outros países. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, a parcela da produção brasileira de bovinos destinada à exportação subiu de 20% para 32% no último ano. A Bahia ainda não exporta carne bovina, mas a redução da oferta no mercado interno valoriza a produção local.“Independentemente das indefinições do mercado, se a China vai passar a comprar mais ou não dos Estados Unidos, este sem dúvida é o momento mais promissor da pecuária baiana nos últimos trinta anos”, afirma Paulo Machado, criador de gado nelore de alta linhagem há mais de 50 anos na região de Teodoro Sampaio.Atento a este movimento, tem pecuarista ampliando o plantel e a capacidade de produção. É o caso da Fazenda Captar, em Luiz Eduardo Magalhães, oeste do estado. Nos últimos meses a unidade expandiu o rebanho bovino em 33%. O número de bois confinados subiu de 30 mil para 40 mil no último ano. O número de fêmeas inseminadas também vai quase triplicar este ano, das 7 mil registradas em 2019 deve passar para 20 mil até dezembro de 2020. 

“Nós enxergamos que a pecuária tem um novo impulso e ganhou projeção de mais rentabilidade. Quem entra neste mercado para ter sucesso tem que se modernizar, melhorar a genética, o manejo, diminuir o ciclo de abate do animal e integrar todo o processo de produção”, afirma o produtor rural Almir Moraes.

A Fazenda Captar também vem investindo em projetos de consórcio de gado, leasing de animais e treinamento de mão de obra. O comportamento do mercado favorece o segmento. O avanço da venda para outros países, sobretudo para a China, vem se refletindo em reajustes acima da inflação no mercado nordestino. Na Fazenda Captar, em Luiz Eduardo Magalhães, o rebanho cresceu 33% nos últimos 12 meses. São 10 mil animais a mais. (Foto: Georgina Maynart) A arroba do boi na Bahia subiu de R$ 170 para R$ 220 nos últimos doze meses, um aumento médio de quase 30%. Neste mesmo período, a carne de boi ficou 16,20% mais cara para o consumidor final de Salvador, segundo o Dieese. E a tendência é de estabilidade nos preços, apesar de um leve desaquecimento nas primeiras semanas de janeiro.

“A pecuária estava defasada no custo e na margem, por isso estava na hora do setor de proteína animal se posicionar com um preço maior. Não acredito que deve ter regressão de preço. Mas o consumo também precisa subir, e isso depende muito da melhoria do poder aquisitivo do brasileiro e da economia do país”, completa Moraes.

CAPRINOS E OVINOS

Quem também vem registrando os bons ventos do mercado são os criadores de caprinos e ovinos. Este tipo de carne sempre custou cerca de 30% a 50% a mais do que a de boi, mas no momento de escassez da carne bovina nas prateleiras ela em sendo muito procurada.

Para atender à crescente demanda, a produção da Cooperativa Regional de Alimentos de Pintadas, especializada em carne de cabrito e carneiro, aumentou 39% nos últimos dois meses. Subiu das 18 toneladas mensais para 25 toneladas este mês. Os produtos chegam ao mercado com a marca Fino Sertão e são enviados também para outros estados como São Paulo e Amazônia.

“A Bahia sempre teve uma grande tradição na criação de caprinos e ovinos, e como o preço reagiu, muita gente que tinha parado de criar está retornando a este segmento. Tem muita gente empolgada”, afirma Valcyr Almeida, presidente da cooperativa, mantida por cerca de 300 produtores rurais.

Nos últimos meses o preço médio do quilo deste tipo de carne subiu de R$ 12 para R$ 16, uma elevação de 33,5%.“Os estoques reguladores estão baixos e automaticamente puxaram o valor das proteínas para cima. Estes preços devem continuar estáveis, não há possibilidade de queda pelo menos nos próximos 90 dias”, completa Valcyr.Os gastos com insumos e ração são apontados pelos criadores como fatores para o alto valor do produto. Apesar de possuir o maior rebanho de caprinos e ovinos do país, com mais de 6 milhões de cabeças, a Bahia não exporta este tipo de carne.

“O volume ainda é insuficiente para abastecer até o próprio mercado interno, a ponto do Brasil importar de países vizinhos como o Uruguai. Nós precisamos aumentar o rebanho e desenvolver um plano de melhoramento genético e monitoramento dos processos de sanidade para alcançar todos os parâmetros exigidos por alguns países importadores”, afirma Almir Lins, presidente da Associação de Caprinos e Ovinos da Bahia (Accoba).

A Bahia tem cerca de 2 mil criadores de caprinos e ovinos segundo a Associação brasileira de caprinocultores. Apesar de mais cara, criação de caprinos e ovinos também está em expansão na Bahia. Carne subiu cerca de 33,5% nos últimos meses. (Foto: divulgação) SUÍNOS

Os suínos também estão se multiplicando por aqui impulsionados pelo aumento da procura e incentivados pelo preço final ofertado ao consumidor. Na Bahia, o preço médio do quilo subiu de R$ 4,20 para R$ 6,40 entre setembro e dezembro do ano passado. Aumento de 52%.

Segundo a Associação de Criadores de Suínos da Bahia, o setor registrou crescimento de 10% no ano passado e projeta crescer o mesmo percentual até 2021.

Em Vitória da Conquista, a Granja Confrigo aumentou em 15% a capacidade de produção de carne suína nos últimos meses.

“Quem tem granja está reforçando o rebanho, é um momento de expansão. Mas o setor não vai crescer em grande velocidade, pois a suinocultura exige planejamento e preparo de mão de obra”, afirma o produtor  Alber Ferreira Rezende, presidente da Associação de Criadores de Suínos da Bahia. Em Vitória da Conquista, produção de carne suína na Granja e Frigorífico Confrigo cresceu 15% em um ano. (Foto: divulgação) AVES

A produção de carne de frango também está aquecida na Bahia. O plantel de aves de corte do estado cresceu 4,74% apenas entre novembro e dezembro do ano passado. Em um ano o número de aves no estado expandiu 6,45%, segundo a Associação de Avicultura da Bahia. Subiu de 136,5 milhões para 145,3 milhões entre 2018 e 2019.“Ainda não temos como afirmar qual a influência exata do aumento da cotação da carne bovina na procura pelo frango. Mas foi um ano bom para a avicultura. O que sabemos é que o aumento das exportações brasileiras para a China teve impacto direto no mercado interno. Ao invés dos produtores de outros estados estarem enviando aves de corte para a Bahia, agora estão mandando para fora, e isso acaba beneficiando as nossas indústrias frigoríficas locais, que estão abastecendo o mercado”, afirma Patrícia Nascimento, diretora da Associação Baiana de Avicultura.A Bahia possui 13 frigoríficos de aves, eles são abastecidos por cerca de 500 granjas espalhadas por várias regiões do estado.