Pedido de socorro: Ilê Aiyê pede ajuda financeira para pagar dívida trabalhista

Com possibilidade de ter a sede penhorada, bloco afro perdeu processo para ex-cantor; dívida trabalhista gira em torno de R$ 300 mil

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  • Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2020 às 22:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Com a possibilidade de perder a Senzala do Barro Preto, que fica localizada no bairro da Liberdade, em Salvador, o bloco afro Ilê Ayiê divulgou, na noite desta sexta-feira (22), um comunicado pedindo ajuda aos associados e parceiros da entidade. A sede do grupo foi penhorada pela Justiça do Trabalho para pagar uma dívida do bloco afro com o ex-cantor do grupo, Adaelson Evangelista Santos. O débito é de R$ 295.603,57.

"Nós somos uma ONG (Organização Não Governamental) e, nesse momento de pandemia, não estamos fazendo shows, apresentações e nem ganhando dinheiro. Por isso, estamos em busca de recursos e apelando aos parceiros e amigos para a gente quitar essa dívida, que tem mais de 10 anos rolando na Justiça. Não tem como reverter. Nós somos uma entidade séria, importante para a cultura negra, e precisamos passar por esse momento para continuar prestando nosso serviço à população baiana", afirmou Antonio Carlos dos Santos Vovô, que é presidente e fundador do Ilê Aiyê, ao CORREIO, nesta noite. Ele também criticou o valor atribuido à Senzala na penhora: "Temos estúdio, associação, além de diversas contribuições imateriais. Isso aqui vale no mínimo R$ 5 milhões".

Mais cedo, no comunicado, que foi publicado nas redes sociais do Ilê (veja abaixo), Vovô disse que os imbróglios judiciais são "severos e maliciosos". "Fomos surpreendidos com a possibilidade de penhora da nossa sede social e a Senzala do Barro Preto corre risco de ter que ser vendida para aportar recursos no valor de R$ 400.000,00 em pagamentos de imbróglio judiciais trabalhistas severos e maliciosos, levando consigo esse legado cultural e social", diz o presidente no texto, que consta ainda uma conta para depósito.Confira o comunicado completo abaixo: O mundo parou devido à pandemia com o vírus covid-19, e a cultura por ser uma atividade que gera aglomerações não pôde mais funcionar de forma sumaria e sem perspectiva de retorno enquanto não sanar o problema de saúde sanitária gravíssima que assola o páis. 

O Ilê Aiyê é cultura, e toda sua renda agveém de atividades tais como: shows, workshop e ensaios que são essenciais para a manutenção da sua grande obra social, realizada em sua sede localizada no bairro do Curuzu, neste local nós apoiamos o projeto de educação infantil onde crianças cursam do primeiro ao quinto ano básico (Escola Mãe Hilda), cursos de percussão (Banda Erê) e a escola profissionalizante. 

Agora fomos surpreendidos com a possibilidade de penhora da nossa sede social e a Senzala do Barro Preto corre risco de ter que ser vendida para aportar recursos no valor de R$ 400.000,00 em pagamentos de imbróglio judiciais trabalhistas seceros e maliciosos, levando consigo esse legado cultural e social. 

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Conta do Santander Ag: 3076-4 C/C: 1303400-7 Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê CNPJ: 14.997.860/0001-56

22 de abril: Justiça determinou leilão  Há exatamente um mês, dia 22 de abril, a Justiça do Trabalho determinou o leilão da sede da Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, para pagar a dívida trabalhista do bloco com o cantor Adaelson Evangelista Santos.

Em nota, na época, o Ilê Aiyê reconheceu a dívida e afirmou que pretendia negociar com Adaelson para parcelar o valor. No texto, o bloco afro classifica a quantia como “exorbitante”. “O Ilê Aiyê se curvará ao julgamento já definitivo e está buscando todos os meios possíveis para negociar o pagamento da dívida. A diretoria do bloco carnavalesco, que tem à frente o seu presidente Antônio Carlos Vovô, entende se tratar de um valor exorbitante e totalmente fora da realidade, mas, diante do trânsito em julgado, reconhece só restar à entidade tentar negociar e conseguir um parcelamento para evitar um mal maior, uma vez que o imóvel cumpre finalidade social, funcionando nele a Escola Mãe Hilda e a Escola de Percussão, Canto e Dança Band’erê”.

No texto, o bloco também afirma que o presidente fundador do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como Vovô do Ilê, tentou utilizar um imóvel pessoal para pagar o débito. A proposta, no entanto, não foi aceita.

“Nos trâmites do processo, Antônio Carlos Vovô, na tentativa de salvar o imóvel, que cumpre papel importante tanto para as atividades culturais do Ilê Aiyê quanto para as famílias da comunidade do bairro da Liberdade, onde está localizado, já propôs ao reclamante e ao seu advogado repassar imóvel de sua propriedade como parte do pagamento, o que infelizmente não foi aceito pelo autor da ação”.

Em conversa com o Blog do Marrom, em abril, Vovô, reconheceu a dívida e falou que o bloco vai honrar com seu compromisso. “Esse montante divulgado pela Justiça inclui desde o valor a ser pago ao cantor assim com os custos com advogados, entre outras coisas. Nós estamos cientes de nossa obrigação e estamos nos empenhando para que tudo termine bem e nossa sede seja mantida atendendo à comunidade do Curuzu, apoiando as crianças e fazendo todo o trabalho social que é tradição no Ilê Aiyê”, pontuou.

Processo Adaelson alega que foi cantor do bloco afro entre 1988 e 2010. No processo, ele afirma que recebia valor fixo por show e que, no último ano no Ilê Aiyê, o pagamento era de R$ 150, com média de quatro a oito apresentações por mês. Adaelson também aponta que trabalhou como instrutor musical da banda Band’erê entre 2000 e 2003, com jornada das 8h às 12h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.

O cantor afirma ainda que, em 2010, foi substituído do Ilê sem qualquer justificativa e apontou outros problemas na relação de trabalho, como a ausência de um vínculo laboral oficial, com a assinatura da carteira de trabalho e acúmulo de função.

“Não poderia se recusar a participar de um determinado show, que se se recusasse seria excluído do próximo show, que o período de ensaios na quadra vai de agosto a fevereiro, que o cachê dos shows da quadra era pago no final do evento e os shows externos eram pagos com atrasos, acontecendo até alguns meses depois de ter ocorrido”, descreve o processo.

No fim do ano passado, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) realizou uma audiência para conciliação entre as partes, mas o encontro não resultou em acordo, o que fez a ação ser executada.

Senzala A Senzala do Barro Preto foi inaugurada em novembro de 2003 na Rua do Curuzu. Um espaço de barro batido cercado por mato foi o lugar ideal que um grupo de amigos encontrou para realizar ensaios musicais. Nos anos 70, o bairro do Curuzu começou a ser asfaltado e esse espaço recebeu borra de asfalto. Com o chão todo preto, os amigos apelidaram o lugar de Senzala do Barro Preto, que hoje é a sede do Bloco Ilê Aiyê.