Pegador de pênalti e fã de Jean pai, Teixeira quer se firmar no Bahia

Às vésperas da primeira final como profissional, goleiro concedeu entrevista exclusiva ao CORREIO

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Rodrigues
  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 30 de abril de 2021 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Oliveira/EC Bahia

A vida de Matheus Teixeira deu uma virada. De quarta opção no Bahia em 2020, o jovem goleiro de 22 anos ganhou status de herói nos últimos dois jogos. Substituindo Douglas, afastado após contrair covid-19, ele defendeu três pênaltis, dois deles na partida contra o Fortaleza que garantiu o clube na final da Copa do Nordeste, e agora aparece como esperança de segurança numa posição em que o tricolor deixou a desejar no ano passado.

Às vésperas da decisão contra o Ceará, Teixeira conversou com o CORREIO sobre a inspiração em goleiros como Dida e Jean, o interesse do Real Madrid e a expectativa pela primeira final como titular do Bahia. Confira:Como foi o seu início no futebol? Sempre sonhou em ser jogador?  É o sonho da maioria das crianças. Claro que alguns têm sonhos diferentes, mas eu sempre quis ser jogador de futebol, via o meu irmão jogando e me inspirava nele. Foi quando começou. A gente saía juntos para jogar bola, ele jogava de lateral, mas eu nunca me dei bem na linha. Quando eu ia para o gol a rapaziada elogiava. Com 13 para 14 anos eu fiz um teste no Palmeiras e passei. Fiz toda a base lá. Joguei sub-15, sub-17, algumas partidas do sub-20, até chegar ao Bahia. 

No Bahia eu vim para o sub-23, mas cheguei atrasado e não consegui fazer a inscrição. Fiquei no sub-20, fiz alguns jogos e fui para o sub-23, foi quando o Dado chegou. Eu acabei não jogando no transição e só este ano comecei a atuar. Primeiro no Baiano e agora essas duas partidas no principal.  Teixeira vive a expectativa de disputar sua primeira final pelo Bahia. Sábado o tricolor encarar o Ceará, pelo Nordestão (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia) Antes de chegar ao Palmeiras você passou pelo futsal. A base da quadra te ajuda no campo? Eu acho que ajuda bastante. No futsal você tem mais mobilidade, é um jogo mais rápido, isso te dá uma visão mais rápida do jogo, de estar prevendo as ações. Quando você traz isso para o campo, ajuda bastante. 

Você fez toda a sua base no Palmeiras e em 2019 veio para o Bahia. O que te fez optar por essa mudança? Quando você compara as duas equipes, você vê o tamanho delas. O Bahia entrega coisas que outros clubes não vão te entregar. Isso traz segurança para desenvolver o trabalho. Isso pesa na hora do jogador vir para o Bahia. O Bahia entrega recursos e profissionais melhores que vão te ajudar e auxiliar no crescimento. Isso pesa bastante. 

Em 2016 você foi um dos destaques do Palmeiras no Mundial sub-17, pegou pênalti do Real Madrid na final. Como foi essa experiência?  É até engraçado falar do Mundial porque um tempo antes eu vivia um momento difícil dentro do Palmeiras. Tinha jogado a Copa do Brasil, eu tinha falhado em um jogo. Quando chegou no Mundial, eu dei a virada que precisava, fiz bons jogos, pegando pênalti não só na final, mas também durante os jogos. A gente disputava pênaltis após as partidas e o time vencedor ganhava um ponto. Eu peguei alguns pênaltis também. Na final estava todo mundo confiante, o título não veio, mas fui eleito o melhor goleiro da competição. 

Você foi observado pelo Real Madrid depois do Mundial. Chegou a receber proposta do clube espanhol?  A mim diretamente não chegou nada, ficou apenas na imprensa, em empresário falando que o Real Madrid cresceu o olho em mim, mas que primeiro observariam o desenvolvimento. Eu tinha apenas 17 anos. 

Então desde a base você já tinha essa qualidade de pegador de pênaltis? Sim. Eu estava até um pouco apreensivo. Quando estava jogando pelo sub-23, tive duas chances de pegar. Na Copa do Nordeste eu acertei o canto, mas o cara bateu bem; no outro eu errei. Quando chegou aquele momento (semifinal contra o Fortaleza) eu pensei: ‘Agora tenho que pegar, não tem jeito’ (risos).  Matheus Teixeira pegou três pênaltis nos dois jogos que fez pelo time principal do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia) Tem algum goleiro que serve de referência quando você está em campo?  Nas penalidades eu ouvia muito falar no Dida, que ele esperava até o último minuto e tinha uma explosão absurda. Como treino diariamente, tento esperar o máximo possível.  A gente treina dentro e fora da academia para ter essa explosão. Quanto maior a explosão, melhor para chegar na bola. Quando eu cheguei aqui no Bahia, o preparador era o Jean (ídolo tricolor nos anos 90). Eu tinha ouvido falar pouco sobre ele, mas fui pesquisar mais a fundo a história dele dentro do Bahia e foi um cara em quem eu comecei a me inspirar aqui no clube.

Contra o Guabirá, você e Thonny Anderson provocaram o batedor para ele mudar o lado da cobrança. Isso é comum? É comum entre os jogadores da mesma equipe quando você já conhece o jogador da equipe adversária. Ali a gente não conhecia, mas eu observei o Thonny conversando com ele, provocando, e ele respondendo. O que tinham me passado era completamente diferente. O jogo estava 1x0 para a gente, a pressão pelo empate, eu pensei que ele poderia mudar o canto. Eu estava confiante que ele mudaria com o Thonny provocando, e eu também provocando ali no gol. A gente faz um jogo bem psicológico, bate palma, finge que vai para um canto e vai para outro. Deu certo.

Qual foi a sensação quando recebeu a notícia de que seria titular na partida contra o Fortaleza? Realmente eu não esperava. A gente nunca espera que o nosso companheiro vá adoecer, se machucar, mas fica sempre pronto para se precisar jogar. Mas quando a notícia chega é completamente diferente. Eu tive um dia para me preparar, assimilar. Quando ele (Douglas) pegou covid-19, me foi passado que eu seria o substituto e na hora deu aquele nervosismo normal, a ansiedade de jogar, de mostrar o que eu venho fazendo. Eu tive um pouco de ansiedade, mas tive tempo para absorver essa notícia.

Em algum momento passou pela sua cabeça um roteiro parecido com o do jogo? Eu imaginei tudo possível. Estava preparado para os pênaltis, para o jogo com bola rolando. Eu só queria classificar a equipe. Claro que a gente quer ser o destaque, me imaginei pegando pênalti na semifinal, classificando o Bahia. Era um dos meus melhores sonhos e consegui realizar.

Apesar da instabilidade dos goleiros do Bahia, no ano passado você não recebeu chances. Pensou em deixar o clube para jogar mais? Quando a gente se vê nessa situação, é normal desanimar um pouco. Mas quando a gente vem para um clube do tamanho do Bahia, que tem profissionais que vão te apoiar, te auxiliar no seu crescimento, nos momentos em que eu estava desanimado a maioria me colocava para cima: ‘Trabalha para você, se não for no Bahia vai ser em outro lugar. Queira Deus que seja no Bahia, se o Bahia precisar você vai ajudar. O Bahia ganha, você ganha e todos os companheiros ganham’. Isso me motivou a continuar trabalhando, sabendo que o pessoal estava confiante de que se precisasse eles me colocariam para atuar sem problema algum. Goleiro de 22 anos fez a base no Palmeiras e agora espera ter sequência na equipe principal do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia) Como imagina a disputa pela titularidade a partir do retorno de Douglas? Mantém a rotatividade. Claro que comigo atuando traz uma segurança a mais para o treinador de colocar o Douglas, me colocar, o Claus quando voltar. Agora a escolha é do treinador. Tem muito do estilo de jogo, o que ele prefere, quem está bem no dia a dia. 

Sábado o Bahia tem um jogo muito importante contra o Ceará. Será sua primeira final pelo clube. Qual é a expectativa? Eu fico bem confiante, ainda mais pelos resultados das partidas anteriores, acho que a equipe fica confiante também. Cada vez que você passa um degrau, fica mais confiante para subir o próximo. Passou aquilo da estreia e agora é o momento de fazer melhor e trazer esse troféu. Se eu já fiz tudo isso não posso fazer menos, e é o que a final vai exigir da gente, dar o nosso melhor.