Pela cura da covid-19, imagem de Nossa Senhora Aparecida percorre ruas de Salvador

Padroeira do Brasil saiu do templo no Imbuí e seguiu até a Basílica Santuário do Senhor do Bonfim

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 21 de junho de 2020 às 13:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Na oração da ladainha de Nossa Senhora são muitos os títulos que nomeiam Maria, a mãe de Jesus. Hoje, talvez, ela tenha ganho mais uma expressão especial nesse contexto turbulento: aquela que intercede no céu pelo fim da pandemia. É que uma procissão - no formato de carreata - com a imagem de Nossa Senhora Aparecida percorreu as ruas de Salvador, neste domingo (21), atraindo fiéis. "Tenho esperança de que Nossa Senhora vai mostrar uma cura para essa doença", disse o devoto José Raimundo, 53 anos.  

Ele faz parte do Grupo de Oração do Terço dos Homens da Arquidiocese de Salvador, que organizou o cortejo. "A gente sempre fazia uma procissão a pé no segundo domingo de maio até o Santuário da Mãe Rainha, mas esse ano não pudemos por causa da pandemia", disse o coordenador do grupo, Leonildo Malta dos Santos, 63 anos.  

O que era uma simples procissão ganhou, nesse ano, uma dimensão maior de fé e emoção. Cerca de 30 carros participaram da carreata, embora, às vezes, a impressão era de que o cortejo fosse bem maior, por causa da lentidão ou engarrafamento que era gerado.  

O grupo saiu do Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no Imbuí, e seguiu até a Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, na Cidade Baixa. "É a mãe que vai ao encontro do seu filho", explicou Leonildo. Na Bíblia, quando Jesus ia ser crucificado, Maria também foi ao encontro do filho e o acompanhou no seu sacrifício. "Hoje, ela vai ao encontro de todos. Esse cortejo nos lembra que Deus não vai nos abandonar e que esse momento vai passar. Em breve estaremos juntos", disse o locutor que animava no carro de som.  (Foto: Daniel Aloisio) O reitor da Basílica do Bonfim, padre Edson Menezes, concordou, emocionado, com a comparação. “A situação que estamos vivendo é de calvário, de cruz. São tantas as mortes, os sofrimentos. Nós ficamos sensibilizados com as famílias que perdem os seus entes queridos. Confiamos na bondade de Deus e que cada pessoa possa cumprir as regras do isolamento social”, disse.  

Padre Edson foi o responsável por conduzir a imagem do Senhor do Bonfim até o lado de fora da Igreja, onde o carro com a imagem de Nossa Senhora Aparecida estava. O encontro durou cerca de dois minutos e finalizou assim que um princípio de aglomeração começou a se formar em torno das imagens.  

Percurso O cortejo seguiu na Avenida Paralela, e Av. Luis Eduardo Magalhães, ocupando uma única faixa. Mesmo assim, por onde passava, gerava uma certa lentidão na pista. É que as pessoas paravam rapidamente o carro para pedir uma bênção. Algumas buzinavam e acenavam em direção à imagem daquela que os católicos consideram uma própria mãe. 

Na Baixinha de Santo Antônio, moradores foram às janelas e às ruas para olhar a procissão. "Salve, Maria!", exclamava com força uma pessoa que usava roupa de exercício físico. "Salve, Rainha!", gritava outro homem com o celular na mão e vestido com trajes mais formais. A roupa das pessoas, na verdade, pouco importava. Até ciclistas que passavam pelo percurso faziam saudações de fé.  

Isso se seguiu pela Avenida San Martin, Largo do Tanque, Viaduto dos Motoristas, Caminho de Areia e Largo do Papagaio, até chegar ao Bonfim. Na volta, os fiéis percorreram a Avenida Dendezeiros e, no Largo de Roma, pararam rapidamente nas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), onde algumas freiras do Convento Sagrada Família, em um ato de fé, foram até a calçada da casa São José para homenagear Nossa Senhora.  

“Foi muito emocionante, pois a gente não sabia que ia ter esse cortejo. Quando ouvimos o barulho, viemos correndo prestigiar”, disse a irmã Albertina Neris, 64 anos. As pessoas quando viam as freiras pediam para que elas rezassem também pelo fim da pandemia. “Nós pedimos isso a Nossa Senhora, que ela abençoe e proteja toda a humanidade”, completou irmã Albertina. 

Outra pessoa que teve o prazer de ser alcançada pela procissão foi Almiralice Oliveira, 60 anos. Ainda no Imbuí, ela foi uma das que saíram de sua casa "para pegar um pouco dessa energia positiva", como ela mesma explicou. "Para mim, o mais difícil é ficar longe da missa, do convívio constante com os meus irmãos. A tecnologia não substitui do mesmo modo. Mas, com a fé em Nossa Senhora, tenho forças para enfrentar o período", disse. 

A carreata passou ainda pela Calçada, Avenida Jequitaia, Comércio, Avenida Contorno, Campo Grande, Dique do Tororó, Avenida Bonocô, LIP, Avenida Paralela e finalizou onde tudo começou, no Imbuí. Quando passou pelo mercado municipal no bairro Jardim Cruzeiro, o cortejo viu uma aglomeração gerada pela quantidade de feirantes, ambulantes e clientes. Alguns não usavam máscara, como também foi observado na Feira de São Joaquim.   

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier