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Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2021 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Os quatro dias de feriadão levaram turistas e soteropolitanos a ocuparem as ruas da capital baiana. No Pelourinho, a movimentação de pessoas foi forte durante o domingo (31). O trade turístico afirma que a procura pela Bahia como destino tem sido crescente após o avanço na segunda dose das vacinas contra a covid-19. Essa busca já está expressa no desempenho dos hotéis de Salvador, que registraram em outubro uma média de 65% de ocupação, taxa quase igual à de 2019, antes da pandemia, segundo associação de hotéis.>
Proprietário do restaurante Cantina da Lua, Clarindo Silva, ex-presidente da Associação de Comerciantes do Pelourinho (Acopelô), disse que os turistas brasileiros são mesmo os que mais voltaram a aparecer, vindos principalmente do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais. Os turistas do interior têm vindo de Feira de Santana, Vitória da Conquista, Ilhéus e Itabuna. >
“Nesta segunda e terça-feira ainda deveremos ter muitas pessoas aqui. Noto que os turistas estão escolhendo gastar pouco, perguntando mais pelo preço, se o prato divide para dois. Nós abaixamos alguns valores e estamos divulgando o cravinho, bebida acessível e que é um sucesso na nossa cidade”, conta Clarindo.>
Pelas ruas do Pelô, o pessoal já tem encontrado a reabertura das igrejas históricas, a volta dos batuques das bandas de percussão e pintura corporal da Timbalada, além de pequenos shows ao vivo nos barzinhos. ”Está um movimento tranquilo no bom sentido. É a quantidade pessoas suficiente para conseguir ver tudo sem ficar aquele clima triste da pandemia quando as ruas foram esvaziadas”, avalia o consultor paulista Gustavo Silva, 37 anos. >
Essa foi a primeira vez que ele esteve na Bahia e sua primeira viagem de avião na pandemia. “Era o local que estava com os melhores preços e com boas praias”, explica. O preço mais barato das passagens para Salvador neste feriadão foi a justificativa utilizada para a vinda de outros visitantes. A goiana Priscila Azevedo de Brito, 37 anos, veio com a namorada na sua primeira viagem na pandemia. >
“O preço estava mais em conta e eu ainda não conhecia Salvador. Então, unimos o útil ao agradável”, relata. Assim como Gustavo, Priscila chegou no sábado e só vai embora na terça. “Como estou hospedada num hotel de Ondina, já conheci aquela região toda e agora estamos passeando no centro da cidade. Amanhã vamos fazer um passeio para Ilha dos Frades e Itaparica”, diz, animada. >
Turistas não reclamam dos preços>
Já a capixaba Kimberly Alvarenga, 26 anos, está hospedada num hotel de Brotas. O motivo da viagem foi o casamento de uma prima, que ocorreu no sábado. “Só hoje que começamos a passear. Já fomos na Praia do Flamengo e ainda quero conhecer hoje o Elevador Lacerda e o Farol da Barra”, diz. Esses deslocamentos foram feitos através de carro por aplicativo. “O valor é mais barato do que na nossa cidade. Também achei os preços no supermercado mais em conta”, confessa. >
O economista paulista Paulecir Martinez teve essa mesma impressão, mas reiterando que os valores continuam caro. “Em função de toda a crise econômica, tudo está mais alto do que a gente imagina. Mas os preços ainda são acessíveis”, revela. Ele aproveitou o feriadão para vir com outros nove familiares em Salvador. “Essa viagem estava marcada para abril, mas tivemos que remarcar por causa da pandemia. Eu até já conhecia a cidade, mas a maioria dos meus parentes não”, diz. >
O garçom Robson Miranda, garçom no Pelourinho há 12 anos, conta que os turistas não estão reclamando dos preços dos produtos e estão sem pena de gastar. “Eles estão soltando dinheiro mesmo. No ano passado teve muita reclamação por questão de preço. Dessa vez, ninguém reclamou. Só um ou outro que consome menos. Acho que eles já estão vindo de locais que são mais caros e resolvem aproveitar aqui”, afirma. >
O ambulante Alexsandro Américo dos Santos, 35 anos, que vende souvenir no Pelourinho, diz que tem tirado uma boa renda a cada final de semana, cerca de R$ 200. “O movimento cresce e a nossa meta também aumenta, consequentemente. Aqui está sendo assim: cada final de semana é melhor que o outro”, diz. >
Para a atendente Monique Silva, que trabalha numa loja de lembranças, esse movimento todo ainda não foi convertido em renda para o estabelecimento. “Antes da pandemia, tinha turista que gastava até R$ 300 numa compra. Hoje em dia é difícil achar alguém que faça isso. No geral, eles compram o que é mais barato mesmo. E o movimento na loja ainda está fraco, embora para bar e restaurante tenha aumentado mesmo”, conta. >
Enquanto esteve no Pelourinho, a reportagem não encontrou nenhum turista estrangeiro. Segundo Clarindo Silva, a vinda de estrangeiros ainda é muito tímida. As razões para isso podem estar na desconfiança do turista do exterior em relação ao controle da pandemia no Brasil, de maneira geral. As restrições nas fronteiras e os altíssimos preços das passagens aéreas também devem ter relação com essa diminuição da presença dos gringos.>
Em novembro, ainda é esperado por lá um bom movimento por causa da Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô, que será realizada em modo híbrido entre os dias 17 a 21. A programação vai contar com uma rota gastronômica que envolve 26 restaurantes do Centro Histórico, com pratos sertanejos criados especialmente para o evento, e preços que variam de R$ 24 a R$ 70. As celebrações do centenário do sambista Riachão, falecido em 2020, também devem agitar os barzinhos de som ao vivo. >
A inauguração do novo Museu Cidade da Música da Bahia, ao lado do Mercado Modelo, também tem levado gente até a região. A procura tem sido alta. Neste feriadão, as vagas para visitação esgotaram. O prédio é o antigo e agora revitalizado Casarão dos Azulejos Azuis, que se transformou num complexo de quatro andares, que conta a história da música baiana e sua influência no país. Por enquanto, a capacidade diária é de 400 visitantes. Largo do Pelourinho ficou bastante movimento neste domingo (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Hotelaria em franca retomada>
Localizado em frente à praia de Stella Maris, em Salvador, o Gran Hotel Stella Maris teve mais de 80% de ocupação das suas acomodações no acumulado do mês, conforme dados da diretoria. A unidade tem 334 apartamentos e chegou a sediar alguns eventos de menor porte, como shows de Léo Santana e Denny Denan, os quais os hóspedes puderam assistir a partir das sacadas dos quartos. >
Para Viviane Pessoa, diretora de vendas e marketing do estabelecimento, há uma demanda reprimida de viagens que começa a se soltar agora. Pessoa avalia que muita gente esperou por esse momento de se sentir mais seguro para poder curtir e diz que o público é atraído para cá por saber que na Bahia pode encontrar cultura, praias e infraestrutura. >
Há cinco meses com estatísticas crescentes de ocupação em comparação com 2020, o setor hoteleiro da Bahia está otimista com o verão. Mesmo com a recessão econômica, a ocupação das hospedagens em outubro deste ano foi só 2% menor do que antes da pandemia, no mesmo mês. >
O presidente da regional baiana da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis (ABIH-BA), Luciano Lopes, diz que Salvador “está bonita, organizada, com boa infraestrutura, novos museus, e tudo isso é importante para as pessoas virem para a cidade”, analisa.>
Ainda segundo Lopes, os hotéis de lazer estão registrando ocupações mais altas do que as hospedagens voltadas para negócios. Os estabelecimentos das regiões da Barra-Ondina, Centro Histórico e Itapuã estão demonstrando melhores índices por estarem em áreas de curtição. Já as unidades em torno da Avenida Tancredo Neves, no Caminho das Árvores e Stiep, ainda se arrastam um pouco mais nesta retomada, por causa do freio nos eventos corporativos.>
No último feriado de Nossa Senhora Aparecida (Dia das Crianças), os hoteis de Salvador registraram 100% de ocupação, segundo informações da Secretaria Estadual de Turismo (Setur). A previsão era de que o número se repetisse neste combo dos feriados de Finados (2 de novembro) e a transferência do Dia do Servidor Público para este 1º de novembro. As estatísticas finais, no entanto, só estarão disponíveis após o feriadão. Artistas que fazem pinturas tribais como da Timbalada retomaram atividades (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Todos os indicadores de hospedagem, movimentação de aeroportos e embarcações, bem como o consumo de energia elétrica revelam que o turismo da Bahia está reagindo de forma gradativa, segundo conclui a Diretoria de Planejamento Turístico (DPT), ligada à Secretaria de Turismo do Estado (Setur). A queda na taxa de ocupação de UTIs de covid-19 — hoje com média de 36% na Bahia — têm feito com que as autoridades flexibilizem as medidas restritivas, permitindo a realização de eventos com até duas mil pessoas.>
A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador foi procurada, mas não retornou com um posicionamento sobre o desempenho do turismo na capital, até o fechamento dessa edição às 23h deste domingo.>
Fiocruz recomenda passaporte da vacina>
Apesar da melhora nos índices, o boletim mais recente do Observatório da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lembra que a pandemia não acabou e que é essencial acelerar a vacinação completa da população, protegendo sobretudo idosos, com a terceira dose. >
O relaxamento das medidas tem promovido um aumento da concentração de pessoas em locais fechados e essa tendência pode crescer entre novembro e dezembro, com as festas de fim de ano, o que preocupa a fundação científica, que insiste nas máscaras como medida de proteção. >
A Fiocruz também considera fundamental que as empresas adotem o passaporte de vacinas, exigindo ele em ambientes como bares, restaurantes, comércio e outros serviços, já que o patamar de maior segurança contra a pandemia é que o país tenha, ao menos, 80% da população completamente protegida.>