Perfil do elenco, novo treinador e busca por receitas: Vitória explica planejamento para 2022

Presidente interino, Fábio Mota concedeu entrevista nesta sexta-feira

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 11:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Gabriel Rodrigues/CORREIO

A temporada 2022 já começou no Vitória. Nesta sexta-feira (3), o presidente em exercício, Fábio Mota, apresentou o planejamento do clube para o ano que vem. Com a queda para a Série C do Campeonato Brasileiro e um calendário com menos competições, já que o clube não se classificou para a fase de grupos da Copa do Nordeste, o rubro-negro vai precisar passar por muitas mudanças. 

A principal preocupação do Leão é financeira. Fora da Série B e do Nordestão, o clube deixará de arrecadar pelo menos R$ 9 milhões em direitos de transmissão. Além disso, a equipe não terá direito a premiação pela participação na primeira fase da Copa do Brasil, já que o valor foi antecipado em 2021. Resta apenas a cota do Campeonato Baiano, cerca R$ 900 mil.

"Há 30 dias assumimos o clube de forma interina, montamos um conselho gestor, evidente que não estamos felizes pelo momento que o clube está atravessando, mas estamos aqui para dizer que a realidade nos faz fazer algumas alterações. A realidade é que perdemos receitas financeiras e por isso montamos um plano de contenção de gastos. Precisamos cortar 50% das despesas do clube. Temos prioridades claras, como a base, que é o que vai nos permitir sair dessa crise. A estrutura do clube custa cerca de R$ 3,5 milhões e nesse próximo ano não temos como bancar. Fizemos demissões, agradecemos a todos os trabalhos prestados, mas nesse momento não temos condições de manter", explicou o presidente interino Fábio Mota.

Entre os profissionais demitidos estão o auxiliar Flávio Tanajura, o preparador físico Ednilson Sena, o fisiologista Alexandre Dortas e Lucas Grilo, técnico do time sub-20. Do elenco que disputou a Série B, somente o volante João Pedro teve o contrato renovado.

Além do corte nos gastos, o Leão corre contra o tempo para fazer novas contratações. Punido pela Fifa por causa de dívidas com o atacante Walter Bou, que passou pelo clube em 2018, e com o Boca Juniors (que emprestou o argentino ao Leão), o Vitória tem apenas até o dia 17 de dezembro para inscrever novos jogadores. A partir de janeiro, a chegada de atletas só será possível caso o rubro-negro chegue a um acordo com os credores. 

"Estamos fazendo aqui o nosso planejamento, todos sabem que temos dificuldade de contratação a partir de janeiro, o Vitória já tem uma punição por conta de Walter Bou, cerca de 200 mil dólares. Estamos em contato com os advogados do jogador para tentar parcelar, o mesmo com o Boca Juniors, vamos tentar parcelar a dívida de 300 mil dólares, explicou Mota. No câmbio atual, essa soma equivale a R$ 2,8 milhões.

"Isso não quer dizer que o clube está parado. Nosso analista de desempenho está há cerca de 60 dias analisando o mercado, ontem o Vitória teve uma suplementação aprovada pelo Conselho e estamos no mercado", completou. 

Perfil do elenco e Wagner Lopes Com muitos jogadores da base mantidos no grupo que vai disputar as competições de 2022, a ideia do Vitória é de incrementar o elenco com atletas mais experientes, que já disputaram a Série C e a Série B do Brasileirão. A diretoria planeja fazer pelo menos 14 contratações até o início da Série C. 

"O Vitória tem um elenco muito jovem, e vamos tentar mesclar essa juventude com experiência para sair da Série C o mais rápido possível. Esperamos até o dia 17 de dezembro, quando a CBF entra em recesso, anunciar as primeiras contratações, algumas estão bem encaminhadas, para que a gente comece o Campeonato Baiano de forma definitiva", disse o dirigente.

Fábio Mota também não garantiu a permanência de Wagner Lopes como treinador. Ele disse que vem conversando com o técnico, mas a nova comissão só vai começar os trabalhos na Toca do Leão a partir da primeira semana de janeiro. Atualmente alguns treinadores experientes que já passaram pelo clube estão auxiliando a direção na análise de novos atletas. Os nomes não foram divulgados, mas um deles é Ricardo Silva.

"A nova comissão técnica já está participando da gestão e montagem do elenco. Já estamos discutindo com eles. Temos que fazer uma redução de 50% das nossas despesas, desde o futebol aos funcionários. Temos jogadores que ganham 70, 80 mil. Não podemos pagar isso. Wagner Lopes fez um excelente trabalho, nós continuamos conversando com ele, mas dentro de outra realidade", detalhou. 

Confira outros pontos abordados na entrevista: 

Venda de jogadores

O Vitória não recebeu proposta oficial por nenhum jogador, temos algumas ofertas de empréstimo e sondagens, mas o empréstimo no primeiro momento não interessa. 

O Vitória necessita em torno de R$ 10 milhões para saldar suas punições, salários de novembro, dezembro e 13°. Essa é a expectativa, esperamos arrecadar isso através da venda de jogadores. Chegou uma sondagem por esse atleta (Samuel), em torno de R$ 2 milhões por 50%, mas analisamos que é um valor baixo, Samuel é um grande centroavante, um artilheiro. No meio do ano foi negada uma proposta de 1,5 milhão de dólares por 50%. Não podemos desvalorizar os nossos ativos.

Quem fica do atual elenco?

Do elenco atual, só ficaremos com João Pedro, adquirimos 60% do passe do João Pedro e ele será o jogador remanescente dos que chegaram. Se estamos dizendo que não vamos renovar com ninguém, teremos uma carência muito grande. Tenho certeza de que a base vai ajudar, mas é preciso mesclar com jogadores experientes. 

Dinei está em fase de recuperação, o contrato vai ser prorrogado durante esse período, mas temos a intenção de que ele permaneça para a disputa da Série C. 

Perfil do elenco em 2022

O perfil do jogador que vai chegar é do jogador mais experiente, que já disputou a Série C e a Série B. No nosso planejamento precisamos de mais 14 contratações para a Serie C.

Busca por receitas

Temos conversas avançadas com alguns patrocinadores, não vou falar o nome pois não estão fechados, mas esperamos anunciar nos próximos 30 dias. 

Esperamos contar com a torcida, nessa reta final da Série B a torcida abraçou o clube e vamos precisar dela. Só para ter um ideia, para ter uma folha de R$ 600 mil precisamos de 15 mil sócios [atualmente o clube tem 5.193 associados].

O Vitória não tem cota de TV na Série C, mas isso não quer dizer que o Vitória não possa fazer uma boa negociação para a transmissão dos seus jogos. Quando você vê esse cenário de terra arrasada, não é bem assim. Vamos trabalhar muito para negociar, somos um clube de tradição, centenário, temos o peso da camisa e já começamos inclusive a discutir a transmissão dos jogos do Vitória na Série C. É um peso diferente, não menosprezando os outros clubes que estão na Série C. Não vamos ter uma cota fixa, como foi na Série B, mas teremos receita de TV fruto de uma negociação do Vitória com a TV que vai transmitir os jogos ou plataforma.

Vitória pode vender patrimônio físico? Estamos fazendo uma gestão de crise e dentro do nosso planejamento não chegamos na possibilidade de vender patrimônio do clube, mas não é descartado que os próximos que aqui estejam façam essa discussão. 

Desde quando sou conselheiro, no primeiro mandato, se fala disso [proposta para venda de parte da Toca do Leão], mas oficialmente não há nenhuma proposta de construtora para comprar parte da área do Barradão. Para vender parte da área do Barradão, se evoluir para isso, não é o presidente do Conselho Diretor que resolve, tem que levar para o Conselho Deliberativo. Mas oficialmente não chegou nenhuma proposta.

Fábio Mota segue no cargo de presidente em 2022?

Eu sou presidente do Vitória, em função de tudo que aconteceu. Temos uma comissão processante no Conselho que está dando sequência ao processo de afastamento do presidente afastado (Paulo Carneiro). Essa comissão está lidando com o prazo que o presidente afastado tem para fazer suas razões finais. No final do prazo, a comissão levará o processo, ainda esse ano, ao Conselho Deliberativo. O relatório será votado e quando concluída a votação temos duas ações que podem acontecer: ou a comissão entende que não há motivo para afastamento e o presidente afastado volta em janeiro, ou uma AGE vai ser marcada para fazer a destituição do presidente, assim diz o estatuto do clube. Após a AGE, há todos os prazos para realizar uma nova AGE que vai realizar novas eleições para concluir o mandato. Lembrando que em setembro, aí sim teremos eleições para escolher o novo presidente para o mandato até 2023. 

Enquanto isso, nós que aqui estamos, não podemos cruzar os braços. O nosso planejamento não é o planejamento de Fábio Mota, é o planejamento do Vitória. Já disse várias vezes que não serei candidato à presidência do Vitória, estou aqui cumprindo as minhas funções. Não existe chance de que no final de janeiro ou setembro eu seja candidato. Vou voltar para a presidência do Conselho Deliberativo.