PIB da Bahia pode ter maior queda da série histórica

No pior cenário, economia baiana poderá enfrentar retração de até 6,4%

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 16 de abril de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

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A Bahia deverá perder R$ 1,5 bilhão nos meses de abril, maio e junho, de acordo com uma projeção da Secretaria da Fazenda estadual (Sefaz). Mas as perdas da administração pública, no momento em que mais se demandam os seus serviços, são apenas parte do desafio econômico provocado pela pandemia do coronavírus. No pior cenário possível, podem ser perdidos quase 135 mil postos de trabalho e o Produto Interno Bruto (PIB) estadual pode sofrer uma retração de até 6,4% este ano. 

Caso a situação se confirme, 2020 poderá ficar registrado como o pior ano para a economia baiana desde 2003, quando se iniciou a série histórica atual do PIB. O cenário é um dos dois apresentados pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), em um relatório técnico com estimativas sobre o impacto econômico do Covid-19 na Bahia. Em todos os casos, a economia baiana encerrará este ano com retração. Mas a depender das medidas adotadas, as perdas poderão variar entre 1% e os 6,4% já citados. Do mesmo modo, a perda de postos de trabalho podem variar entre 8 mil e 135 mil. 

Se o pior cenário possível se concretizar, a economia baiana poderá perder R$ 20 bilhões este ano. No setor de comércio e serviços, que representa 70% do PIB estadual, esta perda poderá chegar à casa dos R$ 14 bilhões. 

Caso seja confirmada, a retração de 6,4%, o encolhimento da economia vai superar o período negativo enfrentado durante a crise econômica mundial de 2008 e a crise política e fiscal de 2016, quando a economia baiana encolheu 6,2% em apenas um ano, impactada por dificuldades na indústria de petróleo e na indústria naval, entre outras. 

Desta vez, a atividade econômica que deverá enfrentar as maiores dificuldades deverá ser a construção civil. Pelas projeções da Fieb, a construção civil poderá enfrentar uma retração de 3%, na melhor das hipóteses, que pode chegar a 8%, no cenário mais extremo. 

O problema da construção é que a crise no setor deve ser mais longa que em outros, explica Vladson Meneses, diretor-executivo da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). “É uma atividade que demora mais para acelerar, porque depende muito da oferta de crédito e porque as pessoas precisam ter um mínimo de segurança financeira para tomarem a decisão de comprar um imóvel”, explicou.  “Nestas horas, quem estava pensando em comprar um imóvel vai esperar um pouco, e como as empresas sabem disso, vão segurar os seus projetos”, explica. 

Ele acredita que uma saída para que a retração na atividade seja menor vai passar pela concretização de projetos de infraestrutura capazes de atrair investidores privados. “O governo não vai ter como bancar esses projetos, então eles precisariam ser tocados pela iniciativa privada”, acredita Menezes. 

Vladson Menezes acredita que um fator importante para definir o impacto que a crise do coronavírus vai causar na economia brasileira dependerá muito do seu tempo de duração e das medidas que forem adotadas para mitigar a situação. “A retomada da atividade econômica só pode acontecer com toda a segurança. Se isso acontecer cedo, teremos menos impactos econômicos. Se demorar, esses impactos serão maiores”, destaca. 

O diretor da Fieb acredita que as medidas adotadas pelos governos para reduzir os impactos foram apropriadas, entretanto ele acredita que algumas delas poderiam ser tomadas com maior rapidez e ter uma amplitude maior. O acesso ao crédito está entre as ações que ele acredita que deveria ter mais agilidade. 

As medidas que preveem a redução da jornada de trabalho com redução salarial, além da suspensão dos contratos de trabalho, estão entre as que ele acredita que poderiam ter uma maior amplitude. Além da questão do prazo, que poderia ser maior, ele defende que a participação do governo federal também poderia.“Existem empresas que não faturam nada, ou que estão faturando muito pouco. E é importante que se protejam essas empresas, mas acredito que faltou uma participação maior do governo na reposição das perdas salariais”, acredita Vladson Menezes. O empresário Carlos Andrade, presidente da Federação do Comércio, Serviços e Turismo (Fecomércio-Ba), acredita que apenas entre o final deste mês e meados do próximo mês será possível ter uma ideia mais clara sobre os impactos do coronavírus. “Tem muita gente que está passando dificuldades. Tem pessoas que me dizem que não faturam absolutamente nada desde o início do mês passado”, conta. 

Andrade diz que no momento atual todas as energias devem ser voltadas para a preservação da vida e que a retomada, quando acontecer, deverá se dar de maneira planejada e responsável.“Me perguntaram se eu prefiro ver os comerciantes falecidos ou falidos no final disso tudo, mas esta é uma escolha que eu me recuso a fazer. Quero ver todo mundo vivo, com seus negócios vivos também”, afirma Carlos Andrade. Ele também defende uma melhor atuação do setor financeiro na crise. Diz que a burocracia ainda atrapalha muito os recursos de chegarem a quem precisa. “Talvez esteja faltando entender a gravidade da situação. Sabemos que existe boa vontade, mas não pode demorar tanto”, lamenta. 

As medidas para preservação do emprego foram consideradas positivas por Andrade. “A partir de junho é que veremos o tamanho do incêndio que estamos vivendo, mas de todo o modo  demitir hoje para ter que contratar e treinar mão de obra novamente é inviável. Claro que tem casos que não tem jeito. Temos empresas que estão há 30 dias fechadas”, conta. 

Indústria química reduz passo, mas segue operando Uma das principais atividades econômicas da Bahia, a indústria química e petroquímica reduziu o seu ritmo de atividade, mas não parou. Segundo o superintendente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira, apenas a unidade da antiga Acrinor, pertencente à Unigel, parou. Ele explica que o cenário de retração econômica não está impactando a atividade. O problema é mesmo o coronavírus. “No primeiro momento, a grande ameaça foi o coronavírus, tivemos que parar para dar condições de segurança. Quem pode foi para o trabalho remoto e a questão do operacional foi trabalhada com os sindicatos, para diminuir exposição”, explica Mauro Pereira.Ao contrário do que se pode pensar, tem indústrias operando no limite – principalmente aquelas que fornecem produtos para o setor de saúde. Segundo ele, a maioria das empresas mexeu nas estruturas de turno, para operar com o máximo de segurança. 

Em relação à retomada econômica da indústria química e petroquímica, Marou Pereira destaca que não deve haver uma grande dificuldade neste sentido uma vez que as unidades de produção diminuiram o ritmo, mas não pararam. “Retomada na área química e petroquímica será muito rápida, porque houve apenas redução. Agora, se parar de vez aí dá problema. Leva um tempo retomar com segurança”, explica. 

Ele diz que os sinais de retomada econômica na China podem indicar que um processo semelhante aqui, uma vez que a economia brasileira é bastante dependente da asiática atualmente.