Pioneira, Isaura luta por espaço na política do Vitória

Única mulher entre os pré-candidatos, radialista revela preconceito e afirma que recebeu apoio e críticas

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 9 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Pré-candidata à presidência do Vitória, a radialista Isaura Maria já está fazendo história. Ela será a primeira candidata a participar da eleição do clube. O pioneirismo não é novidade da vida da torcedora. Isaura garante que foi a primeira mulher a trabalhar com futebol no rádio baiano.  "Eu sou sempre a primeira. Fui a primeira repórter mulher a fazer futebol na Bahia e vou ser a primeira candidata à presidência do Esporte Clube Vitória", explicou ela em entrevista ao CORREIO.

A relação com o Vitória vem de anos. Isaura explica que acompanha o rubro-negro desde a década de 1960, quando o clube ainda não tinha o profissionalismo que tem hoje. Ela lamenta a briga política que tomou conta dos bastidores do Leão nos últimos anos.

"Eu acompanho o Vitória desde a década de 60, peguei Albino Castro, Raimundo Rocha Pires, Ney Ferreira, todos esses presidentes do Vitória. Acompanho desde que a concentração era no Acupe de Brotas, uma dificuldade, o Vitória não tinha nem conta bancária. Meu pai era diretor de futebol e através dele eu fui para dentro do Vitória. Hoje, eu vejo o Vitória um clube dividido, com interesses pessoais. Todo mundo diz que é rubro-negro desde pequeno, mas, desses todos que são candidatos, os únicos que são desde a década de 60 são Raimundo Viana e eu. Por isso tomei essa atitude, vendo essa desarmonia, briga por poder. Hoje, você não tem como administrar sozinho, dizer que vai fazer e acontecer", afirma.

Apoio e preconceito Mas nem tudo são flores para Isaura Maria. Ao divulgar que seria candidata ao posto mais alto da política rubro-negra, ela recebeu apoio de pessoas próximas, mas também insultos de alguns torcedores. Apesar disso, a radialista afirma que não liga para as críticas e garante que vai seguir com a campanha.

"Eu me surpreendi. Recebi ligações de São Paulo, Brasília, Santa Catarina, de torcedores perguntando se era verdade e mandando a maior força. Mas também teve alguns torcedores que disseram que meu lugar é no asilo, que tem maluco para tudo, que nunca ouviu falar no nome dessa mulher. Quando não se ouve falar em um nome que tem trabalho prestado no Vitória, não pode ser rubro-negro. Se alguém me disser que não conhece Benedito Dourado da Luz, não é rubro-negro. Eu não levo isso em conta, quem tem boca fala o que quer, quem tem ouvido ouve o que não quer. Eu não respondo, deixo passar. Jesus não agradou a todo mundo, como eu vou agradar a todos?", explica. 

"Eu tomo de princípio quando passei a ser repórter. Como eu era mulher, não tinha muita credibilidade, mas é muito pelo contrário. A mulher é tão competente quanto o homem. Eu não vou trabalhar sozinha, vou ter uma equipe", continua.

Para Isaura, além de lutar pelo clube que ama, ser candidata também significará abrir mais espaço para o público feminino na política dos clubes de futebol. No Brasil, são poucos os casos de mulheres no comando de agremiações. Atualmente, apenas Myrian Fortuna, presidente do Tupi-MG, representa o sexo feminino entre os cartolas brasileiros. Outros casos recentes são o de Patrícia Amorim, que presidiu o Flamengo entre 2010 e 2012, e Cida Pena, que foi presidente da Catuense.

"Me perguntaram por que eu não faço uma chapa só de mulheres. Ainda não temos o suficiente para isso. Mas durante a minha gestão, e mesmo que eu não venha a vencer, vou me preparar para isso. As mulheres têm sim condições e capacidade de gerir um clube", afirma.