Pitbull resgatada após ataques no Calabar era de traficante

Canil da Brigada K-9 tem 16 pitbulls que estavam em poder de suspeitos de tráfico

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  • Bruno Wendel

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

De pelos curtos e olhar desconfiado, Leoa se manteve calma em seu canto. Ainda um filhote –  teria uns dez meses a julgar pelos dentes de leite –, ela estava também um pouquinho assustada e, às vezes, quase que sorrindo (se isso é possível). O comportamento dócil da pitbull no canil da Brigada K-9 é muito diferente dos relatos de moradores do Calabar, que a apontaram como o terror do bairro, após atacar adultos e crianças. A explicação para a agressividade pode estar no dono do animal, que teria ligação com o tráfico.

“Infelizmente, resgatamos muitos cães da raça pitbull das comunidades onde o tráfico de drogas impera. Esses animais são treinados para atacar a polícia e acabam avançando em qualquer pessoa de farda. Não sei se é o caso de Leoa, mas quando chegamos, ela partiu para cima da gente, mas conseguimos dominá-la com uso do 'cambão', uma ferramenta apropriada para captura de animais agressivos”, declarou o comandante da Brigada K-9, Emerson França.   Segundo ele, no canil existem 16 pitbulls que estavam em poder de traficantes. “Esses animais são fortes pela própria raça e têm a agressividade estimulada pelos criminosos. Para a gente reverter a situação, é necessário muito amor e paciência. Temos aqui o Marrom, que resgatado do tráfico há dois anos, após o tutor morrer em confronto com a polícia. Foram oito meses para a gente reverter o quadro. Hoje, Marrom integrar a equipa da K-9, em resgate de outros animais e auxilia também as forças de segurança pública para farejar drogas”, disse França.  Foto: Arisson Marinho/ CORREIO É o que reforça o médico veterinário Anderson Monteiro. Geralmente, esses cães abandonados que sofrem maus-tratos estão com medo e se sentem acuados na rua, o que os faz agir com agressividade com a intenção de se defender, por isso, acabam machucando quem se aproxima. O especialista enfatiza a posse responsável: “Todo animal precisa ser ‘linkado’ ao responsável”. 

O médico afirma também que os pitbulls foram criados com o objetivo de serem usados em brigas de cães, já que possuem a “força” na sua genética, mas, normalmente, são cães sociáveis, principalmente com humanos. Além disso, vale ressaltar que a forma de criação do animal contribui muito com esse aspecto de sociabilidade.

Ainda segundo Anderson Monteiro, os pitbulls são cães de alto desempenho, que demandam muito gasto de energia e custo para mantê-los, por isso, manter a raça em espaços pequenos, ou não oferecendo o ambiente adequado ao seu desenvolvimento, pode fazer com que eles se tornem agressivos. “Não somente com os pitbulls como também com diversas outras raças”, argumenta. 

O especialista expõe que os tutores precisam oferecer um ambiente saudável para o animal, principalmente no que tange aos cuidados com a sua saúde física e mental. Além disso, o dono deve compreender que o pitbull possui uma grande demanda de energia e, por isso, precisa ter como rotina exercícios e brincadeiras para seu desenvolvimento. 

Cárcere privado De acordo com o comandante França, da K-9, o dono de Leoa é um homem de prenome Fábio e que foi preso no ano passado por manter a mulher e os filhos em cárcere privado no Calabar. “Ele foi pego pelos policiais da Base Comunitária local, mas já está solto, através de uma decisão da Justiça”, disse. Segundo ele, o acusado teria envolvimento com o tráfico. “É o que nos foi relatado. Ele fazia uso e vendia entorpecentes”, declarou França.  Ainda segundo França, foi Fábio quem abandonou a cadela. “Não sabemos ainda o motivo, mas foi ele quem abandou o animal, isso nós temos certeza. Ele cometeu crime de maus-tratos, conforme artigo 32 da Lei 9.605 do Código Penal, que prevê de dois a cinco anos de prisão. Ela estava caquética. Estava sem se alimentar e muito magra, provavelmente com a doença do carrapato”, pontuou o comandante.

Resgate Foram necessárias mais de dez horas, subindo e descendo, entre o Calabar e Ondina, para a Brigada K-9 concluir a complexa operação de resgate da cadela. Era tanta agilidade nas quatro patas sobre o asfalto que ela foi batizada pelos brigadistas de Leoa. “Muito ágil, parecia da raça galgo, conhecida como cão de corrida. A gente se deslocou mais de dez vezes de uma ponta a outra para, então, conseguir pegá-la com segurança, pois, a cada tentativa de captura, a gente tinha que interromper o fluxo de veículos para garantir a integridade do animal. Pela agilidade e o pavor que ela imprimia nas pessoas, a batizamos de Leoa”, explicou França.    Leoa teve que ser vencida pelo cansaço. “Quando ficou exausta de tanto correr, ela parou perto do Ondina Apart Hotel e a capturamos. Enquanto ela estava solta, as pessoas não saíam de casa e alguns comércios do Calabar fecharam por causa do medo. Antes de nossa chegada, ela ficava circulando pelo Calabar, revirando o lixo atrás de comida e depois acabava voltando para o local onde foi abandonada e, então, atacava as pessoas que se aproximavam”, contou o comandante.

Lar Na Brigada K-9, localizada em São Joaquim, a cadela vem se alimentando não só de ração. “Aqui ela está encontrando o que não achava dentro de casa e na rua: muito amor. Agora, ela é um animal mais tranquilo, dócil. Toda a reação dela era um misto de medo e também de como ela era tratada pelo antigo dono. Amanhã, ela vai para um novo lar”, disse França. Leoa vai para um abrigo de cães em um sítio na Região Metropolitana de Salvador. 

Em casos como o que aconteceu no Calabar, ao encontrar um animal de grande porte na rua, o veterinário Anderson Monteiro destaca que o resgate nunca deve ser feito por uma pessoa sem experiência. “Não só neste caso com o pitbull como também na abordagem de qualquer outro animal. Caso realizada de maneira inadequada, pode causar acidente não só à pessoa como também ao animal”, salienta. 

Ao encontrar um animal na rua, o correto é entrar em contato com os bombeiros para conseguir o suporte técnico adequado de abordagem com segurança.

* Colaborou Laiz Menezes, com supervisão da subeditora Fernanda Varela